29 março 2007

Como e quando delinear fronteiras entre línguas?

Entre o português de Portugal e o do Brasil, como se sabe, há muitas divergências.

Há óbvias diferenças de pronúncia (que por vezes quase causam, por si só, a incompreensão); muitas de léxico (são tantas as palavras e expressões distintas, que implicam a respectiva “tradução”, como canudinho, locação, carona!.. E também é significativo o número daquelas que cá e lá têm significados diferentes, por exemplo camisola, linguiça, salpicão); algumas de sintaxe (vou na praia); e, até, certas formas verbais e flexões em género e número (“ter pego”, “foi aceito”). Para não falar dos inúmeros termos que se escrevem de forma distinta, como idéia/ideia, fato/facto ou cotidiano/quotidiano.

É motivo para nos perguntarmos como, no meio de tantas divergências, nos conseguimos entender!

E é também um bom pretexto para reflectirmos sobre isto: qual é, ou quais são, afinal, os critérios que permitem diferenciar duas línguas? Por outras palavras, a partir de que momento é que podemos dizer que dois códigos linguísticos, ou duas variações de um código comum, são, de facto, dois idiomas distintos – e não simplesmente variantes ou dialectos?

9 comentários :

Anónimo disse...

Eu acho que, se no Brasil se fala português, então que se fale português correcto, e não como bem lhes apetece. Porque se assim continuar, penso que deveriam chamar o "Brasileiro" de uma língua, tal como o Português, o Inglês, etc. A maneira deles falarem é uma afronta ao nosso português, e eu adoro sotaques.. :p

S. Leite disse...

Calma, Joana! Gente que fala mal existe em todo o lado! Já leu bons autores brasileiros? Dá gosto! E olhe que, se for a uma loja comprar uma camisola no Brasil e pedir um "tamanho mais pequeno", o mais provável é que a empregada a corrija, dizendo delicadamente que vai procurar um "tamanho menor". Porque, afinal, se nós achamos que "mais grande" é erro, porque andamos cá a dizer "mais pequeno"?!
Outro exemplo de como os Portugueses "falam mal" português é o de termos convertido o adjectivo "imenso" em advérbio, coisa que os brasileiros também não fazem.
Concluindo, tudo é muuuuuuito relativo... Mas uma coisa é certa: portugueses e brasileiros cometem "erros diferentes". Porque as nossas duas versões da língua são como afluentes de um rio comum. Qualquer dia, como os afluentes, merecerão nome próprio. Não foi assim com as línguas que derivaram do latim?

Anónimo disse...

Foi. Não, mas não é algo que me interesse muito sinceramente. Eu gosto de ler, mas não procuro autores em concreto. E não tenho grande interesse em ir ao Brasil também :p Sou da opinião que merecem nome próprio como disse a professora.

Anónimo disse...

Sou brasileiro e não acho que o povo brasileiro sabe português corretamente. Eles sempre erram ao dizer coisas como "Amo-a" dizendo "Amo ela", Ou "Não Vai lá" em vez de "Não Vá/Vás/Vades/Vão lá". Eu não costumo cometer esses erros, mas em uma conversa super informal, às vezes, os cometo.

S. Leite disse...

Entendo o seu ponto de vista. Por exemplo, muitos Brasileiros tendem a confundir-se com a grafia, em virtude da forma como pronunciam as vogais, por isso hesitam entre escrever "à" e "a", ou seja, têm dificuldade em saber quando se dá uma crase (porque o som do "a" é sempre aberto nesses casos, o que não acontece em português europeu). Mas os Portugueses também erram e muito! Só que, deste e desse lado do oceano, cometemos erros diferentes...

Unknown disse...

As variantes da Língua Portuguesa (e de quaisquer outras línguas) apenas nos enriquecem.
Brasileiros e Portugueses, precisam mais é de contato. Aprender a entender outra variante da NOSSA língua comum.
Nossos povos ainda são muito pobres culturalmente e, a cultura produzida em Portugal, ainda não e boa o bastante para atrair a atenção dos brasileiros.
Quando isso acontecer, vamos ter um espaço de trocas culturais e linguísticas como hoje tem a Língua Inglesa.
Dizer que Jorge Amado, Érico Veríssimo e Mia Couto não escrevem em “Português” e olhar para o próprio umbigo apenas, esquecendo que, em termos de número de falantes representando realidades distintas, quanto mais, melhor.
Viva a NOSSA língua, com todos os seus dialetos! Com todos os seus jeitos de falar.

S. Leite disse...

Tem toda a razão. E muito obrigada por visitar este espaço. A nossa intenção é escrever sobretudo para Portugueses, não por um elitismo estúpido e pretencioso, mas apenas porque temos a humildade de reconhecer que não dominamos a forma de falar português no Brasil ao ponto de podermos escrever algo normativo sobre essa variante. Como Jamie disse, do que precisamos é de nos conhecermos melhor! Viva a nossa rica e variada língua!

Leonardo Brayner disse...

Joana, atente para a definição de afronta segundo o dicionário Aurélio:

[Dev. de afrontar.]
S. f.
1. V. afrontamento (1).
2. Desprezo ou injúria lançado em rosto; ofensa, ultraje.
3. Vergonha, humilhação, vexame: 2
4. Assalto, ataque.
5. Fadiga, cansaço.
6. Mal-estar, indisposição.
7. Declaração do maior lanço nas arrematações.

Quando falo, não sinto que esteja desprezando ou lançando injúria; não desprezo ninguém; minha intenção não é causar vergonha, humilhação ou vexame; não assalto ou ataco ninguém; não quero provocar mal-estar, tampouco indisposição.

Eu também adoro sotaques e as pequenas diferenças. E mais, sou pernambucano, portanto, nordestino. Há pessoas no Brasil que também se "ofendem" com meu sotaque e se acham no direito de retaliar, enquanto que eu me divirto parodiando-os. É verdade que palavras ferem, e como ferem,m as as suas não tiveram essa propriedade. Porquanto eu sei que você deve ser uma ótima pessoa; apenas não pensou bem antes de escrever aquelas linhas, sem medir os pesos de suas palavras.

Reflita sobre isto: será que as pessoas têm pouca filosofia deliberadamente? Será que certo povo é inculto pela própria escolha? No Brasil, o que há é um ataque à proliferação da sabedoria, que deveria residir na mão de poucos, desde o século XV.

Pense um pouco e meça suas palavras.

Renatos disse...

Perfeito Leonardo. E concordo plenamente. Brasil e Portugal precisam muito de aproximação!