28 janeiro 2009

Desabafo

Desculpem, mas às vezes chego à conclusão de que isto de andar a zelar pela ortografia e pelo bom uso da língua portuguesa é uma demanda vã.

Todos os dias somos confrontados com problemas imensos que não têm solução, começando pelos sem-abrigo que nos vêm pedir esmola e acabando na poluição que todos causamos e põe em risco a vida no planeta inteiro. Os dias escorrem-nos por entre os dedos enquanto nós, os afortunados, corremos de um lado para o outro, quais formigas atarantadas, entre emprego, trabalhos "por fora", filhos, tarefas domésticas e as burocracias mais diversas. Mesmo quando podemos trabalhar e ser pagos por isso, quando temos casa e saúde, somos ainda assim dominados por angústias, medos, tensões e raivas, pequenas e grandes, que nos pintam os dias de cinzento.

Por outro lado, a vida quotidiana também é feita de alegrias. De outro modo, nem sobreviveríamos à azáfama em que resolvemos existir nas sociedades auto-denominadas como civilizadas. Temos de andar com o arco-íris no bolso, na pasta, na cabeça, ou vê-lo espreitar onde quer que seja, para mantermos a nossa sanidade mental. Recuperamos o sentido da vida quando amamos, quando nos rimos com os amigos, quando os filhos nos sorriem, quando sabemos que fizemos o melhor que pudemos, quando saboreamos uma iguaria, quando ajudamos alguém. Há sempre um momento em que podemos respirar fundo e apreciar o que acontece, ou o que sentimos, como se o medo e a raiva não existissem.

No meio de tudo isto, acaba por ser quase ridículo chamar a atenção de alguém por ter posto acento agudo em peru, batalhar pelo uso de interveio em vez de "interviu", ou insistir, orgulhosamente só, em dizer duzentos gramas.
Afinal... que diferença é que isso faz?



26 janeiro 2009

desafio

Num cartaz publicitário pode ler-se isto:

A saúde não tem de ser cara, só tem que ser boa.

Ora, há ou não há aqui um problema gramatical?

21 janeiro 2009

O Acordo que nunca mais acorda

Foto de Nuno Pavão


É impressão minha ou o Acordo de 1990, em Portugal, está a demorar um bocadinho a entrar em vigor? Será uma experiência científica, para ver se cria bolor? Teias de aranha já tem de certeza...

Alguém me explica por que motivo ainda não se avançou em Portugal, quando os Brasileiros o adoptaram a partir do início deste ano? Será só para criar confusão ou é também para nos baralhar?!

É que cada vez se torna mais difícil decidir o que fazer, quando proliferam os livrinhos esclarecedores quanto ao que vai mudar, os iluminados dicionários com o "antes" e o "depois" das palavras e os e-mails com ligações para páginas na Internet onde se fazem conversões automáticas de texto escrito conforme o que sabemos para texto escrito conforme o Acordo.

O Priberam fez um inquérito aos seus utilizadores, no sentido de saber se eles pensam começar a escrever de acordo com a nova norma já hoje, daqui a um mês, daqui a seis meses ou apenas dentro de um ano. Como se nós, simples mortais, soubéssemos quando é que o "Big Brother" nos vai mandar seguir a norma!...

Se alguém me puder esclarecer, agradecia... é que nem sequer sei o que é que falta (além do mítico vocabulário comum), para que Portugal faça como o Brasil.

19 janeiro 2009

Cozer ou coser?



Parece mentira, mas acontece. Trocar coser por cozer é uma confusão "clássica" e tão previsível que já quase ninguém se preocupa com ela... e no entanto, eis um livro infantil que deveria ter tido uma revisão mais atenta!

14 janeiro 2009

Caça ao erro de ortografia!

Com ou sem o Acordo Ortográfico de 1990, as regras de ortografia andam pelas ruas da amargura...

Proponho, então, que se faça uma caça sem tréguas aos erros espalhados pelo texto que se segue!

Há cerca de um mês, o Sr. Aboim falava com um vizinho recém-chegado em tom peremptório àcerca dos imigrantes. Depois sensurou-se por ter falado de modo tão pejorativo, pois lembrou-se de que a nacionalidade do homem ainda estava por defenir. Tinha-se basiado apenas na sua aparência e concluido que era um dos seus, mas enganara-se. Então não notara que ele até tinha um sotaque ligeiramente exótico?

Ontem apercebeu-se de algo estranho ao olhar através da janela da sala. Saíu, caminhou até á cerca de madeira que delemitava o relvado, e constactou que a estufa, um enorme paralelipípedo beje que sobressaía no verde da paisagem, parecia estar aberta do lado de traz. «Isto trás água no bico», pensou. E, exitante, dirigiu-se para lá.

09 janeiro 2009

O imbróglio do capa

Afinal, para que serve o capa na nossa língua?

Para nomes próprios estrangeiros e seus derivados, entende-se que seja útil. Não ficaria bem traduzir Kant ("Cante"), nem referirmo-nos à filosofia "cantiana". E é claro que usamos símbolos como kg e km, não vamos passar a escrever "qg" nem "qm" para abreviar quilogramas e quilómetros.

Mas... Para escrevermos palavras estrangeiras de uso corrente? QUE palavras estrangeiras de uso corrente? Se os dicionários há tanto tempo consagraram coala, por exemplo, que sentido faz passar agora a escrever koala? Será que vamos ter de retroceder e voltar a usar estrangeirismos que já tinham sido aportuguesados?!

Foto: os irmãos "koala", desenhos animados transmitidos no Canal Panda.

07 janeiro 2009

Põe-nos (e não "põe-os")


Já toda a gente reparou, com certeza, que os pronomes o/a(s), quando associados às formas verbais por meio de hífen, mudam por vezes de forma. Umas vezes tornam-se lo/la(s), como em “tu entende-lo” e “vou dá-la” (em vez de “tu entendes-o” e “vou dar-a”), outras vezes passam a no/na(s), como em “põe-nos aí” ou “deram-na a ele” (e não “põe-os aí”, nem “deram-a a ele”).


Ora, o pronome o/a(s) passa a lo/la(s) quando a forma verbal termina em s, r ou z. Nesses casos, a consoante em questão é suprimida. Assim, temos: fazes + a = faze-la; pedir + os = pedi-los; traz + o = trá-lo.


A razão para a forma no/na(s) em vez de o/a(s) é esta: quando as formas verbais terminam em ditongo nasal e o pronome o/a(s) está à sua direita, este é “contaminado” por esse ditongo nasal, que faz aparecer a consoante “n”, também nasal, antes da vogal o ou a do pronome.


Naturalmente, algumas pessoas preferem continuar a dizer "põe-os", porque lhes faz confusão usar a forma "nos" quando ela se refere a "eles" ou "elas" e não a "nós"... no entanto, espero que não restem dúvidas de que o texto da imagem publicada no dia 4 deveria ser corrigido!


04 janeiro 2009

“Põe-os” ou “põe-nos”?


Será que se podem usar ambas as formas ("põe-os" e "põe-nos") ou apenas uma delas? Os e nos significarão, nestes casos, a mesma coisa, ou serão pronomes diferentes? A frase “põe-os à prova”, por exemplo, está correcta?




São perguntas que fazemos para saber se os leitores têm esta dúvida e querem opinar sobre as suas possíveis respostas...