11 outubro 2013

Apresente-se, sem nódoas linguísticas!



Escrever com clareza, rigor e correção linguística é, nos dias de hoje, uma autêntica prova de esforço. E no meio empresarial, ou institucional, creio poder ser um fator decisivo na seleção de um candidato a um emprego.
Incorreções linguísticas, como “ele interviu” ou “melhor preparado”, e vícios de linguagem, como “há anos atrás” ou “tenho que enviar”, não só mancham a imagem do seu autor como podem excluir de imediato uma candidatura.
Quais são, então, os aspetos linguísticos (e formais) que devemos ter em conta quando redigimos uma carta de apresentação?
A forma de tratamento da pessoa a quem nos dirigimos deve ser, justamente, formal: “Senhor Diretor, Senhor Engenheiro, Senhor Professor”. E não nos podemos esquecer dos pontos de abreviatura, imediatamente antes do o ou do a sobrescritos: “Exm.ª Sr.ª Diretora”. O verbo, esse, deve ser sempre conjugado na 1.ª pessoa do singular, em concordância com o sujeito emissor da respetiva carta: “Venho muito respeitosamente apresentar…”.
E os tempos verbais? Bem sabemos que usamos com frequência o Presente do Indicativo com valor de futuro próximo, mas esse é um uso típico da oralidade. No código escrito, o Futuro do Indicativo é a opção mais adequada: “enviarei o certificado” em vez de “vou enviar o certificado”.
Outro aspeto característico da oralidade é o uso do Imperfeito em vez do Condicional. Em registo cuidado, devemos sempre usar este último: “aceitaria uma entrevista, caso desejasse” em vez de “aceitava”. Falar em Condicional é falar em mesóclise, i.e., a colocação do pronome pessoal no meio da forma verbal: “enviar-lhe-ia o CV” em vez de “enviaria-lhe o CV”, um dos muitos erros que, infelizmente, por aí grassam.
No domínio da ortografia, muita atenção aos acentos a mais: inclusivé, à priori, rúbrica, bem como aos acentos a menos: orgão, periodo. E atenção redobrada para os erros mais subtis – os da sintaxe – que podem não passar despercebidos ao olho mais desperto para as questões linguísticas: “vão haver, discordo com, tratam-se de, melhor classificado”, entre outros. Há ainda outras subtilezas sintáticas a ter em consideração, por exemplo, a incorreta omissão da preposição de com certos nomes abstratos: certeza de que, possibilidade de que, consciência de que. Assim, na parte final da carta de apresentação, esta regra deve ser bem observada: “Na expectativa de que esta carta merecerá a Sua melhor atenção, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos”.
Fazer um bom ou um mau uso da língua transmite, inequivocamente, uma imagem de nós, que pode ser positiva ou menos positiva…
Por conseguinte, preocupe-se não só em construir um bom CV, mas também em se apresentar com rigor e sem nódoas linguísticas!