25 abril 2010

E as vírgulas?


Tenho reparado que o manual escolar da minha filha, que está no primeiro ano do 1.º Ciclo, traz textos cuja pontuação parece ter sido esquecida, pelo menos em parte.
Confesso que me custa ver orações relativas explicativas, por exemplo, ou orações condicionais, sem quaisquer vírgulas a isolá-las. Chamem-me picuinhas ou retrógrada, mas a mim incomoda-me essa ausência!

19 abril 2010

Sandeu? Santo Deus!

Sabiam que a palavra sandeu, que significa «idiota, palerma, mentecapto» tem origem na exclamação "Santo Deus!", uma invocação de piedade que essa pessoa suscita nas outras?

Esta é daquelas curiosidades sobre a língua que parecem mera brincadeira, mas podem confirmar por exemplo aqui, que é verdade!

12 abril 2010

O que é a língua?


  Quis o acaso que hoje eu lesse, por sugestão do título (que encontrei na base de dados da Biblioteca Nacional), um breve e interessante texto de 1986 sobre o ensino do Português nos liceus. Nele, Luís Mourão faz algumas afirmações propositadamente "escandalosas", que visam agitar as consciências e levar à mudança do que não está bem no ensino da língua e da literatura. Escreve, então, estas linhas, que resolvi partilhar convosco:

   Se a língua é o instrumento primordial do entendimento do mundo e de si próprio, há que fazê-la ser de cada um de nós para que o mundo e nós mesmos nos pertençamos. Eis o que poderia ser a síntese do programa de Português para o unificado. Mas que implicaria isso?
  Por exemplo, esvaziar o programa de Português de quaisquer conteúdos. E na sequência disso, permitir que o professor seja não o legislador ou a representação do Pai, mas a ternura acolhedora e atenta da Mãe. Quer dizer, deixar que cada aluno elabore o seu próprio texto a partir das suas próprias necessidades e problemas, que prolongue os textos que mais directamente lhe dizem respeito. [...] Se o aluno, através do apalavramento dos seus problemas, não vir por si próprio que o «Tio Patinhas» não tem nenhuma resposta que lhe interesse e não sentir necessidade de procurar outros textos, ele nunca largará os quadrinhos e, mesmo quando obrigado, nunca lerá verdadeiramente «Os Lusíadas» ou qualquer outra obra do género.
  Insistir, pois, na escrita, numa espécie de diário que seja a reflexão e a construção de um mundo e de um sujeito. E comunicá-lo, inter-comunicá-lo, ler e prolongar o texto (do) outro. Porque afinal a língua é, radicalmente, isso: o espaço de experiência do mundo e de mim mesmo, de apropriação produtiva de sentido.

Luís Mourão, «Poiética da Língua: (insónias sobre o ensino da língua e da literatura nos liceus)», Separata de Diacrítica, n.º 1, Braga: Centro de Estudos Portugueses da Universidade do Minho, 1986, pp. 201-204.