11 abril 2022

"Ó" não é o mesmo que "oh"!

Já aqui falámos sobre a diferença entre "oh" e "ó", num breve esclarecimento publicado em 2007. 

Porém, hoje não resistimos a fazer outra chamada de atenção relativamente à grafia diferente destas duas interjeições, porque acabamos de verificar, com surpresa, que nas várias edições da obra A Maior Flor do Mundo, de José Saramago, a palavra oh está erradamente grafada, na seguinte passagem:


«Ó que feliz ia o menino!»

(Saramago, 2016, p. 17)

Não existirão dúvidas quanto ao facto de que, aqui, a exclamação expressa alegria, admiração, encantamento, emoção positiva. Portanto, a palavrinha em causa deveria estar escrita com h e sem acento agudo: oh. Só faria sentido empregar ó se houvesse um chamamento, uma invocação. Ora, o narrador está apenas a expressar o que sente, não está a dirigir-se a ninguém. Assim, a grafia correta é:


Oh, que feliz ia o menino!

ou 

Oh! Que feliz ia o menino!

Note-se que, após proferirmos a interjeição oh, fazemos naturalmente uma pausa, pelo que se recomenda o uso de pontuação logo a seguir: vírgula, ponto de exclamação ou mesmo reticências. Neste último caso, a exclamação terá um tom mais arrastado, por expressar um sentimento de melancolia, desilusão ou tristeza. Isso não se aplica neste contexto, mas as reticências poderiam, por exemplo, ser usadas aqui:

Oh… Já não fui a tempo!

Voltando à frase de A Maior Flor do Mundo… Terá sido erro do autor ou dos revisores e editores?

Não sabemos. Nem importa. Seja como for, todos temos direito ao equívoco, ao engano, ao erro – pessoas comuns e conhecidas, escritores pequenos e grandes, autores anónimos ou consagrados. O que importa é estarmos dispostos a identificá-lo e a corrigi-lo.

 

Referência: José Saramago, A Maior Flor do Mundo. Porto: Porto Editora, 2016. [O texto foi publicado pela primeira vez em 2001, pela editorial Caminho]

Imagem retirada da página WOOK, onde o livro pode ser encomendado: https://www.wook.pt/livro/a-maior-flor-do-mundo-jose-saramago/16467570