27 fevereiro 2010

Norte ou norte?



NA FRASE «ESSE É UM PRATO MUITO TÍPICO DO NORTE», A PALAVRA NORTE DEVE ESCREVER-SE:


A – COM INICIAL MINÚSCULA (norte)

B – COM INICIAL MAIÚSCULA (Norte)

?
















A resposta correcta é Norte, com letra maiúscula.

Neste contexto, não se trata do ponto cardeal norte, mas sim da região Norte, que é um nome próprio. Do mesmo modo que se fala do Nordeste brasileiro, do Norte e do Sul de Portugal.

Numa frase como «esta casa está virada a norte», já estamos perante o ponto cardeal.

19 fevereiro 2010

O problema de pegar ao colo


... é que, quando queremos substituir o objecto, ser, criança, namorada, cão, ou seja o que for em que se pega por um pronome, é provável que tenhamos dúvidas quanto à correcção da frase que resulta dessa substituição.
Imaginemos que se trata de um bebé. Ao reformular a frase "Tirou o bebé da cama e pegou no bebé ao colo" sem referir pela segunda vez o nome bebé, devemos preferir:

a) Tirou o bebé da cama e pegou-lhe ao colo

b) Tirou o bebé da cama e pegou-o ao colo

c) Tirou o bebé da cama e pegou nele ao colo

?

16 fevereiro 2010

Registo formal em ambiente pré-lúdico


Este fim-de-semana fiz algo que há muitos anos não fazia: joguei à Batalha Naval. E o divertimento que o jogo me proporcionou não se deveu apenas aos momentos animados entre ensinar a minha filha a jogar e perder dois jogos consecutivos. Passou igualmente pela leitura das instruções que vinham na caixa, guardadas religiosamente durante décadas e cujo registo me fez pensar que, hoje em dia, talvez devessem ser "adaptadas" a um português mais coloquial - visto que a linguagem formal, cuidada, está cada vez mais longe dos olhos e ouvidos dos jovens.

Leia-se este excerto, por exemplo:

«Assim, os jogadores passarão a dar um palpite de cada vez, alternadamente, palpite esse que consiste em pronunciar ao adversário um NÚMERO e uma LETRA. Em resposta o adversário dirá se há «FALHA» ou «COLISÃO». [...] No caso de ter anunciado «COLISÃO», o José colocará um perno vermelho no furo da embarcação atingida enquanto que o António sinalizará também, com um perno vermelho, o seu quadrado de marcação. [...] Assim, conforme o jogo vai decorrendo, saberá quais os números já pedidos e bem assim quais os certeiros e não certeiros.»

Na próxima revisão do folheto, proponho que as frases acima citadas sejam escritas da seguinte forma:

«Então, cada jogador diz, à vez, um NÚMERO e uma LETRA, que é onde pensa que pode estar um barco do outro. O outro responde  «ÁGUA» ou «FOGO». [...] Se disser «FOGO», o Zé mete um pino encarnado no buraco do barco que levou o balázio,  e  o Tó também mete  um pino encarnado no mesmo sítio, no quadro onde marca os  tiros que dá.  [...] Assim, durante o jogo, sabe que números é que já pediu e, desses, quais é que foram em cheio e quais é foram na água.»




12 fevereiro 2010

Erros frequentes


As frases que se seguem exemplificam alguns erros gramaticais (num sentido lato) que encontro por vezes nas comunicações escritas. Conseguem detectá-los?

a) Informamos que a escola estará encerrada do dia 15 ao dia 17, inclusivé.

b) O projecto " Alimentação e hábitos de vida saudável" vai de encontro às boas práticas de convivência e saúde alimentar.

c) No caso da suspensão se verificar num período superior a 30 dias, a inscrição do utente será anulada.

d) É com grande prazer que anuncio que, o vosso educando, foi o aluno da semana pelo seu bom desempenho e comportamento.

e) A partir do próximo mês, debitaremos o valor de 5 euros na falta de devolução das toalhas do ginásio.

f) As máscaras dos alunos deverão ser o mais criativas possíveis e feitas com materiais reciclados.

07 fevereiro 2010

Poderem ou puderem?


Puderem seria a grafia correcta numa frase condicional, após a conjunção se, em que o verbo poder estaria no futuro do conjuntivo. Por exemplo, "Se a puderem beber, não se irão arrepender".

Poderem é a grafia correcta numa frase como a dos azulejos, em que o verbo está no infinitivo pessoal. Usa-se a seguir a preposições como para, de, por, etc. Portanto, «Corre, corre até à fonte / Para a poderem beber».

Note-se que o som do e é diferente, nestas duas formas verbais: quando se escreve com u, puderem tem [é] aberto, a seguir ao d. Quando se escreve com o, o som do e a seguir ao d é semifechado: [ê].

03 fevereiro 2010

A rima das sílabas e a rima dos versos

Quando falo da estrutura das sílabas aos meus alunos, há uma pergunta que eles fazem sempre:

- Não é estranho chamar-se "rima" a uma parte da sílaba, quando se confunde com a "rima" dos versos?!

A estranheza que eles invocam justifica-se, no fundo, na medida em que conhecem bem o conceito de rima enquanto consonância (embora não o consigam verbalizar senão dizendo algo impreciso como "é o mesmo som no fim das palavras), ao passo que a noção de rima da sílaba lhes é totalmente desconhecida.
Mas não é, decerto, por mera coincidência que ambas as noções têm o mesmo nome. A consonância das palavras que rimam não é estabelecida a partir de um ambíguo "fim da palavra" - que tanto pode ter duas letras, como em Maria/dormia, como seis, por exemplo em tétrico/métrico - mas define-se enquanto identificação total dos sons de duas palavras, a partir da vogal tónica de cada uma delas. A rima (dos versos) só começa "a contar", por assim dizer, não a partir da sílaba tónica, mas da vogal tónica dessa sílaba. Por isso, as consoantes distintas entre Ma-ria e dor-mia não a tornam imperfeita.

E onde é que entra aqui a tal noção de rima da sílaba? É que a rima de uma sílaba é precisamente a parte (mais importante), que inclui o núcleo (vogal ou vogais tónicas) e a coda (consoante que se lhe siga), mas exclui o ataque, que é a consoante ou consoantes que exista(m) numa sílaba antes da vogal.
Assim, a rima dos versos é estabelecida a partir da rima da sílaba tónica (sem o ataque), e não simplesmente da sílaba tónica inteira (ataque incluído).
Não tenho a certeza, mas algo me diz, posto isto, que o nome dado a esse constituinte da sílaba, a rima, provém da sua relevância para o estabelecimento de consonâncias rítmicas...

Para quem queira aprofundar os seus conhecimentos sobre a estrutura das sílabas do português, aqui fica uma sugestão de leitura: um livrinho muito interessante e útil, sobretudo para educadores e  professores, que inclui sugestões de actividades para desenvolver a consciência silábica adequadas a todos os níveis de ensino:
Maria João Freitas e Ana Lúcia Santos, Contar (Histórias de) Sílabas: Descrição e Implicações para o Ensino do Português como Língua Materna. Lisboa: Colibri/Associação de Professores de Português, 2001.