A rima das sílabas e a rima dos versos
Quando falo da estrutura das sílabas aos meus alunos, há uma pergunta que eles fazem sempre:
- Não é estranho chamar-se "rima" a uma parte da sílaba, quando se confunde com a "rima" dos versos?!
A estranheza que eles invocam justifica-se, no fundo, na medida em que conhecem bem o conceito de rima enquanto consonância (embora não o consigam verbalizar senão dizendo algo impreciso como "é o mesmo som no fim das palavras), ao passo que a noção de rima da sílaba lhes é totalmente desconhecida.
Mas não é, decerto, por mera coincidência que ambas as noções têm o mesmo nome. A consonância das palavras que rimam não é estabelecida a partir de um ambíguo "fim da palavra" - que tanto pode ter duas letras, como em Maria/dormia, como seis, por exemplo em tétrico/métrico - mas define-se enquanto identificação total dos sons de duas palavras, a partir da vogal tónica de cada uma delas. A rima (dos versos) só começa "a contar", por assim dizer, não a partir da sílaba tónica, mas da vogal tónica dessa sílaba. Por isso, as consoantes distintas entre Ma-ria e dor-mia não a tornam imperfeita.
E onde é que entra aqui a tal noção de rima da sílaba? É que a rima de uma sílaba é precisamente a parte (mais importante), que inclui o núcleo (vogal ou vogais tónicas) e a coda (consoante que se lhe siga), mas exclui o ataque, que é a consoante ou consoantes que exista(m) numa sílaba antes da vogal.
Assim, a rima dos versos é estabelecida a partir da rima da sílaba tónica (sem o ataque), e não simplesmente da sílaba tónica inteira (ataque incluído).
Não tenho a certeza, mas algo me diz, posto isto, que o nome dado a esse constituinte da sílaba, a rima, provém da sua relevância para o estabelecimento de consonâncias rítmicas...
Para quem queira aprofundar os seus conhecimentos sobre a estrutura das sílabas do português, aqui fica uma sugestão de leitura: um livrinho muito interessante e útil, sobretudo para educadores e professores, que inclui sugestões de actividades para desenvolver a consciência silábica adequadas a todos os níveis de ensino:
Maria João Freitas e Ana Lúcia Santos, Contar (Histórias de) Sílabas: Descrição e Implicações para o Ensino do Português como Língua Materna. Lisboa: Colibri/Associação de Professores de Português, 2001.
Para quem queira aprofundar os seus conhecimentos sobre a estrutura das sílabas do português, aqui fica uma sugestão de leitura: um livrinho muito interessante e útil, sobretudo para educadores e professores, que inclui sugestões de actividades para desenvolver a consciência silábica adequadas a todos os níveis de ensino:
Maria João Freitas e Ana Lúcia Santos, Contar (Histórias de) Sílabas: Descrição e Implicações para o Ensino do Português como Língua Materna. Lisboa: Colibri/Associação de Professores de Português, 2001.
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