28 setembro 2007

PIMBA!


Hoje em dia, a palavra pimba pode pertencer a duas classes gramaticais e ter dois significados distintos em português europeu, sendo que o segundo decorre do primeiro.

Antes de mais, é uma interjeição de origem onomatopaica, usada para exprimir o ruído, geralmente inesperado, de uma acção que envolve o choque físico. Por exemplo em: “e o palhaço... pimba! Voltou a bater na cabeça do outro.”

Esta interjeição, usada na letra de canções como “Pimba Pimba” de Emanuel (“E se elas querem um abraço, nós pimba! Nós pimba!”), levou a que o termo pimba começasse a ser empregado para qualificar esse tipo de música popular, de letra brejeira (para não dizer mais nada...) e considerada de mau gosto, adquirindo assim um sentido depreciativo que foi não obstante repudiado pelos defensores do “estilo pimba”.

Hoje, em linguagem familiar e mesmo corrente, podemos falar de canções e cantores pimba, porque todos estamos familiarizados com este termo bem expressivo.

Embora ocorram muitas conversões em português, pimba deve ser um dos raros casos em que uma interjeição se transforma num adjectivo.

26 setembro 2007

Não basta a ideia, é preciso rigor!

No concurso “Sabe mais do que um miúdo de 10 anos?”, o apresentador perguntou um destes dias qual era “a propriedade que indica que a água não tem sabor”. Para meu espanto, a resposta considerada correcta era... insípida. Ora, a propriedade, ou característica, será antes a insipidez. Insípida é o adjectivo com que qualificamos a água em si, pelo que é pouco rigoroso usá-lo como sinónimo de um substantivo.


25 setembro 2007

Extra com hífen



Já todos nós, ou quase todos, formámos uma palavra nova através da junção entre o prefixo extra e um adjectivo. O anúncio que aqui se vê usa-o para formar advérbios, mas incorre num erro, que é não usar o hífen para separar o prefixo da palavra começada por h, "humanamente". Acontece que palavras formadas com prefixos como auto, contra, extra, infra, pseudo, etc. devem ter hífen sempre que o segundo elemento começa por h, r ou s.

As regras de emprego do hífen são muitas e difíceis de decorar. Mas não custa nada consultá-las!


23 setembro 2007

Explicações de "Françês"?!


É compreensível que alunos do ensino básico se baralhem e utilizem ç em vez de c em palavras como você e francês. O que não se admite é que pessoas adultas que se propõem conduzir estudo acompanhado e dar explicações (do 1º ao 12º ano) num ATL tenham colocado este anúncio na janela. É caso para nos questionarmos: se não sabem que, em português, o c só leva cedilha antes de a, o e u, serão de confiança para ensinarem às crianças a língua francesa?
Espanta-me, ainda, que este anúncio esteja afixado há largos meses, sem que ninguém, até agora, tenha dado pelo erro, ou tido a preocupação de o emendar.
Talvez já tenhamos chegado ao ponto em que alguns explicadores não sabem mais do que um miúdo de dez anos...

21 setembro 2007

“Informamos que” ou “de que”?

O verbo informar requer, à partida, dois complementos, um deles directo (informamos alguém) e o outro preposicionado (sobre ou de alguma coisa).

Em princípio, estando os dois complementos presentes na frase, a preposição exigida antes do segundo complemento não deve ser omitida. Portanto, “Informamos os nossos estimados clientes de que o estabelecimento se encontra encerrado para obras”.

No entanto, é possível que, na frase, esteja ausente o complemento directo (a pessoa ou entidade a quem se informa). Nesse caso, é legítimo omitir a preposição de antes da conjunção que: “Informamos que o estabelecimento se encontra encerrado.”

Alguns autores consideram correctas as construções em que se omite o de, mesmo quando o complemento directo está presente (pelo que também seria aceitável escrever “Informamos os nossos estimados clientes que o estabelecimento se encontra encerrado”). O que todos consideram INCORRECTO é usar a preposição de nos casos em que o complemento directo está ausente: “Informamos de que o estabelecimento se encontra encerrado”.

19 setembro 2007

Não experimente “exprimentar”!


Como atesta a imagem gentilmente enviada pela Dulce, há por aí quem se esqueça de certas letras em determinadas palavras, como experimentar, adivinhar, adequar e subestimar, que assim aparecem como “exprimentar”, “advinhar”, “adquar” e “substimar”.

É verdade que esses grafemas correspondem a sons que mal se ouvem, mas essa não é razão suficiente para atentarmos contra a ortografia vigente... afinal, são as regras ortográficas que salvaguardam a unidade necessária para que nos entendamos por escrito! Embora, pessoalmente, seja uma adepta do alfabeto fonético internacional. Se todos os falantes das várias línguas o utilizassem, qualquer um poderia facilmente pronunciar uma sequência escrita noutro idioma, para além da vantagem de ninguém cometer erros de ortografia, porque cada som apenas seria representado por um único símbolo!


14 setembro 2007

Acordo ortográfico: uma unidade sem futuro


Na revista brasileira Veja do passado dia 12, há um interessante artigo sobre a importância do domínio da língua no sucesso profissional, acompanhado de considerações sobre as mudanças que o novo acordo ortográfico trará ao português, com depoimentos de escritores, linguistas e professores brasileiros.

Segue-se um artigo de opinião de Reinaldo Azevedo que gostei particularmente de ler, pois retrata a situação do ensino no Brasil desde a década de 70, em particular no que se refere à moda de prezar o “uso criativo” da língua por parte dos alunos, em detrimento do ensino da gramática e da dotação dos educandos com “instrumentos que abrem as portas da dificuldade”. Optou-se, no seu entender, “pelo mesquinho, pelo medíocre, pelo simplório.” (Onde é que já ouvimos isto?!). Não resisto a citar alguns excertos:


As aulas de sintaxe – sim, leitor, a tal “análise sintática”, lembra-se? – cederam espaço à “interpretação de texto”, exercício energúmeno que consiste em submeter o que se leu a perífrases – reescrever o mesmo, mas com excesso de palavras, sempre mais imprecisas. (...) A educação, ao contrário do que prega certa pedagogia do miolo mole, é o contrário da “sedução”. Quem nos seduz é a vida, são as suas exigências da hora, são as suas causas contingentes, passageiras, sem importância. É a disciplina que nos devolve ao caminho, à educação. Professores de português e literatura vivem hoje pressionados pela idéia de “seduzir”, não de “educar”. (...) As reformas ortográficas, acreditem, empobrecem a língua. Não democratizam, só obscurecem o sentido. Uma coisa boba como cassar o “p” de “exce(p)ção” cria ao leitor comum dificuldades para que perceba que ali está a raiz de “excepcional” (...).

Defendendo a restauração em vez da reforma, Reinaldo Azevedo conclui avisando que “A unidade só tem passado. E nenhum futuro.”

Julgo compreender este ponto de vista, já que o uso de uma língua está estritamente ligado às idiossincrasias da cultura própria dos seus utilizadores. Pretender que os portugueses escrevam “fato” em vez de “facto”, ou que os brasileiros passem a grafar “lingüiça” sem trema é, talvez, comparável a obrigar os primeiros a dançar o samba nas festas populares e os segundos a comer bacalhau no Natal.

E com estas palavras gostaria de estimular o debate no espaço reservado aos comentários...

12 setembro 2007

outrem, nuvem e constroem

Eis três palavras que parecem uma verdadeira tentação: é que quase ninguém resiste a colocar-lhes um acento agudo!

Sendo todas elas graves, nenhuma deve ser escrita com acento, pelo que é incorrecto grafá-las assim: “outrém”, “núvem” e “constróem”.

Explica-se isto porque a nossa tendência natural, enquanto falantes de português, é para pronunciarmos as palavras que acabam em -em com tónica na penúltima sílaba. Não precisam, portanto, de acento, as palavras outrem, nuvem e constroem, tal como tantas formas verbais, como fazem, comem, bebem, vivem... Bem vistas as coisas, é tão absurdo escrever “núvem” e “constróem” como seria ridículo escrever “ôntem” ou “lútem”!

Pelo contrário, palavras agudas terminadas em -em, essas sim, levam acento gráfico (alguém, também, Belém) – excepto as monossilábicas – precisamente para que não sejam pronunciadas como se fossem graves. Desta forma evidenciamos a diferença entre, por exemplo, contem e contém.

Portanto, no erro frequente “outrém, há duas incorrecções: primeiro, acentuar graficamente uma palavra grave terminada em -em e, segundo, colocar o acento sobre a vogal e, que nem sequer é tónica.

O caso de “constróem” também é duplamente grave, pois não só se trata de um erro de acentuação, como é um erro que o corrector automático do meu computador me aconselha, em vez da forma correcta constroem!

10 setembro 2007

Controlo e controle


Enquanto substantivo, e em português europeu, controle é uma variante de controlo. Ambas as formas estão consagradas em diversos dicionários, sendo no entanto a última preferível, segundo os linguistas portugueses.

E por que motivo devem os Portugueses dizer e escrever, por exemplo, “está tudo sob controlo”, enquanto os Brasileiros optam por “está tudo sob controle”?

Ao contrário do que muitos pensam, não é por causa das novelas brasileiras que alguns portugueses dizem controle. O termo é um galicismo, ou seja, entrou no nosso léxico por influência da língua francesa, e - tal como biciclete, camionete, equipe e omelete – foi posteriormente adaptado à nossa língua (e temos agora bicicleta, camioneta, equipa e omeleta). No caso de controle, substituiu-se o -e final por um -o em vez de um -a, mas o procedimento é idêntico. Trata-se de uma alteração que tem vingado entre os portugueses (provavelmente teve início na linguagem popular e corrente, estendendo-se depois aos registos mais cultos), embora não entre brasileiros, que tendem a preferir as formas mais próximas do francês, terminadas em -e.

07 setembro 2007

Quando a flexão se torna criação

É interessante verificar como são produtivos em português os sufixos diminutivos e aumentativos, como -ito, -eco, -aréu, -ucho, -arra e tantos outros, que parecem servir apenas para conferir maior expressividade à linguagem, através da criação de substantivos mais “coloridos” e adaptados à realidade que se pretende representar.
Assim, em vez de falar simplesmente de um pardal, de um miúdo, de um fogo, de um papel, de uma boca, às quais depois associamos determinados adjectivos, podemos referir-nos a um pardalito, a um miudeco, a um fogaréu, a um fatucho, a uma bocarra. E não deve haver muitas línguas em que isso seja possível!“Mas esses sufixos diminutivos e aumentativos não têm grande utilidade na linguagem do dia-a-dia!”, dir-me-ão. No entanto, muitos deles permitiram criar palavras novas, cujo significado não se resume à soma do sentido do sufixo ao do radical. Por exemplo palhinha, latão, cavalete, pastilha... já tinham pensado nisso?

04 setembro 2007

Síndroma


Há dias ouvi um alguém declarar, na TSF, que não tinha “o sindroma de Aljubarrota”, a propósito da antipatia de muitos portugueses pelos espanhóis.
Ora, apesar deste uso frequente do substantivo síndroma como se fosse grave (portanto, escrito sem acento no i e pronunciado com tónica na penúltima sílaba, -dro) e masculino é, até agora, incorrecto.
O termo admite duas grafias e duas pronúncias (síndroma e síndrome, mas não “sindroma”) e é sempre feminino, seja qual for o domínio do seu significado (literal ou figurado).
Se não acreditam, confirmem aqui ou aqui, por exemplo.
E bom regresso ao trabalho, se for o vosso caso!