Não tenham medo de "ter aceitado"!
A hipercorrecção – acto que consiste em pretender corrigir-se, ou corrigir alguém que usa uma construção correcta, substituindo-a por uma errada – está sempre a fazer das suas...
Ora nos olham de lado por pedirmos “duzentos gramas de fiambre”, ora se riem na nossa cara quando dizemos “ter entregado”, ora torcem o nariz quando nos ouvem dizer “ter intervindo”, “reouve”, “abaixado” e outras palavras ou expressões que se tornaram estranhas, simplesmente porque algumas pessoas se convenceram de que não eram correctas.
Por vezes, temos mesmo a sensação de que remamos contra a maré. Afinal, como perguntava um aluno há tempo, se a maioria das pessoas anda a cometer o erro, isso não significa que a forma errada vai substituir a correcta?
De facto, é provável que isso aconteça com algumas estruturas. Prova disso é que o Particípio Passado regular do verbo pagar, que era pagado, caiu
Mas para já, não faz sentido que repudiemos essas formas, quando até usamos outras semelhantes, que por alguma razão curiosa não estranhamos, como prendido, acendido, libertado ou descalçado.
Deixamos então aqui um esclarecimento para quem, como nós, esteja disposto a remar contra a corrente da hipercorrecção:
quando os verbos têm duas formas de Particípio (aceitado/aceite, entregado/entregue, matado/morto, etc.), a mais longa, terminada em -ado/-ido, usa-se nos tempos verbais compostos, com o auxiliar ter. Por exemplo: “que pena eles não terem aceitado o convite”; “já lhe tinha entregado o livro”; “os acidentes de viação têm matado muita gente”.
A mais curta, que é a forma irregular, usa-se nas construções passivas, com auxiliares como ser, estar, ficar, etc. Por exemplo: “o convite não foi aceite”; o livro já está entregue”; “muita gente foi morta”.
Portanto, não tenham medo de dizer “ter aceitado” – como muitos jornalistas, comentadores, políticos e intervenientes na sociedade parecem ter!
13 comentários :
Ora cá estou eu novamente, desta vez para questionar sobre uma dúvida que tenho. A relação da palavra grama com o facto da mesma corresponder a uma medida de física, não é incorrecto visto a mesma ser um substantivo singular aplicarmos o plurar quando mencionamos "“duzentos gramas de fiambre”? Creio ter sido numa aula de física que me foi indicado que esta palavra e outras de medidas não têm plural. Obrigado.
Eu digo ter aceitado e ter matado, mas só desde o 12º ano, quando isso me foi explicado.. Porque antes, eu diria que isso estava incorrecto =x
O que vale é que estamos sempre a aprender :)
Beijinhos
Olá, Luís! Obrigada pela sua pertinente dúvida. Para não repetirmos o que já foi escrito por especialistas, convidamo-lo a consultar a seguinte página do Ciberdúvidas:
http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=18531
Ola queridas profesora! desde ja quero felicitá-las pela criação deste blog. é um blog bastante interessante e, acima de tudo, muito útil. obrigado..beijinhos
Obrigada, Ângela :)
Por que nao:)
Por favor eu digo: Obrigada por ter me aceito ou ter me aceitado?
Pelo que eu lí aqui parece ser " aceitado" mas ter "me aceito " tambem não poderia estar certo? ahh esta lingua portuguesa rsrs..
Obrigada
"Obrigada por me ter aceitado", diria eu. Pelos motivos que explico no texto: «quando os verbos têm duas formas de Particípio (aceitado/aceite, entregado/entregue, matado/morto, etc.), a mais longa, terminada em -ado/-ido, usa-se nos tempos verbais compostos, com o auxiliar ter.»
Obrigada S. Leite .Um bom fim de semana.
Abraços
Boa noite gostaria de saber se há erro gramatical na frase:
Obrigada por ter aceito o meu convite.
Para mim, o mais acertado seria dizer "Obrigada por ter aceitado o meu convite." Aceito enquanto forma do particípio parece-me legítima apenas no português do Brasil, mas para construções passivas (e não para tempos compostos). Por exemplo: "o meu convite foi aceito". Mas em Portugal diríamos "o meu convite foi aceite".
As formas irregulares podem ser usadas como adjectivos. Por examplo, para dizer que alguém foi preso: tinham-no prendido naquela tarde- verbo auxiliar "ter", logo particípio passado regular. Neste exemplo, pode-se usar o particípio passado irregular de prender -preso- como adjectivo: Tinham-no preso naquela tarde. Assim como: Eu tinha acendido o fósforo; e: Eu tinha o fósforo aceso. Não confundir a forma irregular do particípio passado com o adjectivo!
Tem razão! Não acrescentei essa explicação para não complicar, mas é um esclarecimento importante. Obrigada, Diogo.
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