05 novembro 2007

Cuidado com a vírgula!

Há tempos, havia por Lisboa cartazes que sensibilizavam a população para a necessidade de reciclar as pilhas. O texto, destacado no meio de um fundo verde, era simplesmente assim:

NO LIXO, NÃO

NO PILHÃO.

Repararam como a vírgula, aliada à falta de pontuação logo após o advérbio não, compromete o sentido da frase?

É que, em muitos casos, a vírgula serve para separar orações. Assim, e sabendo que a linguagem publicitária é muitas vezes elíptica, podíamos perfeitamente interpretá-la da seguinte forma:

1ª oração – uma imperativa, com omissão do verbo e do objecto directo: “[deitem as pilhas] no lixo,”

2ª oração – outra imperativa, com as mesmas omissões: “não [as deitem] no pilhão”.

Ou seja: Deitem-nas no lixo [e] não no pilhão!

Resultado: veiculava-se, ali, exactamente o oposto do que se pretendia!

4 comentários :

Anónimo disse...

«No lixo, não no pilhão»!? :-) Aí a publicidade devia estar a jogar com a mudança de linha para que a interpretação seja «No lixo, não. No pilhão». Este exemplo é muito engraçado.

O meu pai conta regularmente a história de uma lei que tinha um artigo cuja interpretação dependia da presença ou não de uma vírgula, e que por isso deu origem a confusão. Não sei ao certo a história.

S. Leite disse...

Sim, Jaime. Parece-me que a mudança de linha ali valia como ponto. Mas isso não é escrever correctamente!

Há várias histórias sobre a importância da pontuação nas mensagens escritas. Uma bem conhecida é a de um testamento sem pontuação que tem interpretações diferentes, conforme as vírgulas e os pontos que sejam colocados no texto. Se a memória não me falha, é qualquer coisa como:
"Deixo tudo a meu irmão nada aos meus sobrinhos não será paga a conta do alfaiate nada aos pobres". Experimenta colocar-lhe a pontuação mais conveniente, tendo em conta que poderias ser tu o irmão, um dos sobrinhos, o alfaiate ou um pobre!

Rui Caetano disse...

Mas que blogue interessante.
Não o conhecia, voltarei a visitá-lo, parabéns pela ideia e forma diferente de blogar temas.

S. Leite disse...

Obrigada, Rui. Volte sempre!