11 abril 2007

Afinal, o que é ser "desinquieto"?

Curioso, como escolhemos suprimir uns prefixos - como em (com)portar-se - e acrescentar outros a certas palavras que deles não precisam.

É com relativa frequência que ouvimos alguém dizer que determinada criança é "desinquieta", quando, na realidade, inquieta seria o termo adequado. Para quê o des-?
Para dar mais ênfase à ideia de que se trata do oposto de quieto? Talvez. Mas acontece que o segundo prefixo, logicamente, anula o significado do primeiro (in-), que já exprimia a ideia de contrariedade. Então as pessoas que escolhem a versão aparentemente "reforçada" do adjectivo, "desinquieto", estão afinal a dizer o contrário daquilo que pretendem, pois desinquieto seria, no fim de contas, o mesmo que quieto!

Todavia, resta dizer que esta aparente redundância, que afinal é um contra-senso, tem sido tão usada (pelo menos num registo de língua familiar/popular), que a palavra "desinquieto" até já foi consagrada pelos dicionaristas, que descrevem o seu significado como "o mesmo que inquieto".
Não é que o povo é mesmo quem mais ordena?!

13 comentários :

Dulce disse...

"Grândola, vila morena!"
:))

Anónimo disse...

Parabéns pelo post, gostei particularmente porque eu sou um bocado resistente à frase com que é finalizado o mesmo....um pouco por birra talvez, mas o facto é que associo a essas palavras a ignorância, e frustra-me pessoalmente a passividade como as mesmas são aceites pelas entidades competentes, só porque alguém não soube empregar a sua língua materna, e naturalmente pôs-se a inventar. Não creio ser desta forma o correcto crescimento e o desenvolvimento da nossa língua materna, digam-me que não!?

Eu não sou nenhum expert na matéria, nem estou fora do grupo que maltrata a sua língua, estou muito longe disso, no entanto uma coisa sei, é que nunca tive (fora ISEC) campanhas de sensibilização para empregar correctamente a nossa língua, as nossas palavras no contexto próprio…pessoalmente prefiro aceitar e inclusive defendo a criação de acções de sensibilização do que assistir à passividade por parte dos nossos linguistas, dos nossos dicionaristas, das entidades competentes na aceitação de um termo errado para palavra oficial da nossa língua materna, só porque é “palavra do povo” .

Professora Sara, muitos parabéns pelo post, achei formidável.

Anónimo disse...

Olá!! pois bem, segundo a lógica desinquieto é a mesma coisa que estar quieto, pois é o contrário de inquieto des+inquieto. Isto tudo se a palavra for correcta gramaticalmente, porque caso contrário penso que esta palavra é um erro.

PARABÉNS! Uma super beijoca e um dia muito feliz para a professora Sandra. PARABÉNS!

S. Leite disse...

A minha intenção não era minimamente política, está claro :)
Apenas usei aquela frase porque toda a gente a conhece e, neste caso, ajuda-me a transmitir de uma forma irónica aquilo que eu quis dizer. E o comentário do Luís explica bem o que eu tinha em mente. Obrigada, Luís!

Anónimo disse...

E se em vez de pormos o prefixo in em quieto, pusermos des: desquieto? Depois para reforçar o significado ainda acrescentamos in: indesquieto. :-)

Jaime
www.blog.jaimegaspar.com

Anónimo disse...

Pois é, por este andar, questionamo-nos se "deslargar" e outras que tal ainda constarão nos dicionários... :)

tikka masala disse...

Hahaha! "Deslargar" é muito giro, Tânia! É como "destrocar", que também já se encontra dicionarizado com o mesmo sentido de "trocar"...

Dulce disse...

Uma colega minha explicou-me a diferença entre trocar e destrocar, no que toca a dinheiro: trocam-se notas em moedas, e destrocam-se moedas em notas! E esta?! Confessem lá que não sabiam!...

S. Leite disse...

Excelente, Dulce. Obrigada pelo esclarecimento... LOL

Anónimo disse...

Bem pensado :)

Anónimo disse...

De facto, a má utilização dos prefixos cria algumas situações no mínimo risíveis. Recordo-me de duas em particular: uma muito comum e outra que grassa entre os estudantes de Medicina. A primeira é o termo “despoletar”, em situações como “F. despoletou o problema”. O que se pretende dizer é algo como: “F. desencadeou (provocou) o problema)”. Só que “despoletar” cria calafrios a quem foi militar (e terá acaso passado por algum teatro de guerra). Com efeito, as granadas é que são despoletadas. E ninguém queira estar por perto quando isso ocorre. BUUUMM! E é a morte do artista…O outro caso tem a ver com “desgravar” que os estudantes de Medicina utilizam para reduzir a escrito uma aula gravada (num gravador áudio). Ou seja, o professor vai “debitando” a matéria que os alunos gravam nos seus gravadores e, no remanso do lar (ou do café) vão passando a escrito, desculpem, vão “desgravando”. Os meus cumprimentos às autoras do blog(ue) e um beijinho à professora Sandra. E continuam a “despoletar” as situações para todos nós podermos ir “desgravando”.

S. Leite disse...

O mais ridículo do termo despoletar é que, ainda por cima, no que respeita às granadas, significa o oposto do que parece: quando se tira a espoleta, a granada fica desactivada, ou seja, deixa de provocar seja o que for. Pelo menos é esse o esclarecimento que nos presta o Ciberdúvidas!

Anónimo disse...

Se eu for a um banco dirigo-me ao balcãoe digo,muito bom dia! o Sro.uo a Sro,.podia fazer-me o favor de trocar estas notas por moedas? ou então dizia o Sro podia faz
er o favor de trocar estas moedas pr notas?
Não diria em notas ,nem em moedas. Quanto a mim uma ou outra vão dar na mesma!quem não as compreende é o b....,não eu