16 outubro 2008

Sofrerão os portugueses de falta de criatividade linguística?



A propósito de um artigo de Manuel Gonçalves da Silva, publicado no Diário Económico, cujo conteúdo subscrevo na íntegra e cuja leitura recomendo, chego a esta conclusão: falta-nos ousadia e criatividade no que toca ao uso da língua.

Que somos (cada vez mais) servis na adopção de estrangeirismos é inegável, é evidente. Ora são as pens, os downloads, os sites e os browsers, ora são os piercings, os liftings, os brushings, mas também os “graffitis” (este plural duplo é de arrepiar), os gangs, o shopping, o jogging, o mailing, o briefing, eu sei lá. Só sei que o inglês fica a ganhar falantes e, dentro do inglês, os nomes terminados em –ing são os mais populares.

E porquê?

Por preguiça mental, por incapacidade de tradução, por se fazer gala em usar termos estrangeiros (fica tão bem saber falar estrangeiro...) - muitas vezes incompreensíveis para quem ouve - mas decerto também por falta de imaginação e até por falta de ousadia.

O “elevator pitch” de que fala o autor do artigo é, realmente, uma expressão difícil de traduzir. Trata-se de uma exposição muito rápida de um projecto, com o objectivo de conseguir que o interlocutor – um financiador – se interesse por ele. O nome vem da circunstância de, tipicamente, estes mini-discursos de argumentação acontecerem nos elevadores, quando os jovens empresários tinham a oportunidade de encontrar um possível financiador e apenas 30 segundos, mais coisa menos coisa, para os tentar convencer a apoiar os seus projectos. Lembram-se de um programa da RTP2 chamado Audax? Era mais ou menos isso.

Então, hoje, em Portugal, chama-se (pasmem) elevator pitch a uma exposição desse tipo. Mas será assim tão difícil encontrar uma expressão válida em português para designar a mesma coisa? Que tal “apresentação-relâmpago”? A mim parece-me bem. Sugestivo e eficaz.

O problema é que não pega. Porque os portugueses não gostam de falar a sua língua, ao que parece...

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