28 janeiro 2008

Às vezes demais é de mais!

Quem escreve bem sabe que a locução adverbial de mais é o oposto de de menos e, portanto, deve ser usada em frases em que exprime quantidade excessiva, como esta:

Comer de mais é prejudicial para a saúde.

Essas pessoas não confundem a locução de mais com outro advérbio, demais, que significa o mesmo que "além disso". Demais, até existe uma variante do mesmo advérbio, que é ademais, exactamente com o mesmo sentido. E há ainda a expressão demais a mais, cujo significado é semelhante a "ainda por cima".

No entanto, tem havido uma tendência crescente para escrever a locução de mais como uma só palavra, a tal ponto, que alguns dicionários, como o Priberam (da Texto Editores), já atestam que demais significa o mesmo que demasiado, assim como algumas gramáticas, como a Saber Falar, Saber Escrever (Dom Quixote), incluem demais nos advérbios de quantidade.
Mais uma vez, conclui-se que os falantes é que vão moldando a língua de acordo com a sua vontade.

O que eu gostaria de saber é onde vai ficar aquele demais que se usa muito, em registo familiar, como adjectivo: quando exclamamos que alguém é demais! Porque nesse caso, não nos estamos apenas a referir a uma quantidade excessiva (embora essa ideia esteja, obviamente, na base do seu uso. "Tu és demais" implica "mais do que eu posso suportar, conceber, etc."). Mas esse demais não é propriamente o oposto de de menos, (alguém exclama "ela é *demenos!"?), trata-se de uma palavra que falta definir "oficialmente", embora todos saibamos que o seu sentido, na maior parte dos contextos, está próximo de "incrível, espantoso, surpreendente".
E o que também é surpreendente é que esse novo adjectivo pode igualmente ser usado com um sentido depreciativo, tal é a sua riqueza expressiva. Imaginem uma mãe a ralhar com o filho por deixar sempre o quarto desarrumado. Pode dizer, com toda a naturalidade: "Olha para esta confusão, rapaz! Safa, tu és demais!"

7 comentários :

Anónimo disse...

Está a tornar-se complicado definir quem escreve bem ou mal. Afinal... se alguém escrever "Não se deve comer demais", podemos corrigir? Passa a ser considerado correcto?
Os dicionários não deviam, a meu ver, ser tão inconstantes. Tudo bem que se nada mudasse ainda hoje falávamos latim, mas nem oito nem oitenta, sei lá.

Ou seja, o melhor é mesmo continuarmos a frequentar este blog para não perder o fio à meada... senão é de mais ;)

Anónimo disse...

Este blog é demais! De mais para muitos e é demais para mim que adoro a minha lingua. E já agora... A palavra "chatear" diz vos algo? ;0)
Abraço!

Anónimo disse...

Estou me complicando com isso... Li explicações diferentes...

S. Leite disse...

É natural... no Brasil as regras são diferentes, tal como com porque/por que. O que é preciso é termos um critério que consigamos explicar a quem nos pergunte porque (ou por que) fizemos determinada opção!

Thiago SRL disse...

Linguistas deste maravilhoso idioma. Para que simplificar se podemos complicar? Não é mesmo? Aff. Eu odeio isso.

Lorena Cordeiro de Lima disse...

Muito interessantem, sempre tive duvidas sobre isso!! =D O portugues é lindo.

Unknown disse...

Lorenna disse...
Muito interessantem,

Não existe "interessantem"