Concordância, concordância...
Muito sinceramente, venho confessar uma dúvida que me assaltou hoje, enquanto lia A Arte de Ler, de José Morais, um livro de 1997, mas interessantíssimo e extremamente completo sobre psicologia cognitiva da leitura. Deparei com esta frase:
Tudo isto constitui factores de diferenciação. (p. 256)
A minha primeira reacção, ao ler «constitui factores», foi voltar atrás e confirmar que não havia ali nenhuma falha de concordância, dado que estava em presença de uma forma verbal no singular («constitui») e de um nome no plural («factores»). Quando verifiquei que o sujeito era a expressão «Tudo isto», lembrei-me da regra ditada por Celso Cunha e Lindley Cintra: «o verbo ser concorda com o predicativo [...] quando o sujeito do verbo ser é um dos pronomes isto, isso, aquilo, tudo ou o (= aquilo) e o predicativo vem expresso por um substantivo no plural» (p. 354, na 3.ª edição Breve de 1989).
Está bem, na frase em questão não temos o verbo ser, mas sim o verbo constituir. Porém, se o correcto, com o primeiro verbo, seria Tudo isto são factores de diferenciação, isso não sugere que a mesma regra se deveria aplicar ao verbo constituir, que aqui tem exactamente o mesmo significado?!
Ao que parece, a resposta é não. E é verdade que ler "Tudo isto *constituem factores de diferenciação" não me agradaria mais...
No entanto, parece-me que se trata de um daqueles casos em que a emoção deve pesar mais do que a razão. Aliás, Cunha e Cintra explicam que a concordância do verbo ser com o predicativo, no caso acima referido, se explica «pela tendência que tem o nosso espírito de preferir destacar como sujeito o que representamos por palavra nocional, pois esta alude a realidades mais evidentes».
Então, se o que está certo não tem uma sonoridade agradável, eu optaria por modificar a frase, até que ela me soasse bem. Por exemplo, usando o verbo ser...
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