Verbos defectivos
Hoje caiu-me a alma aos pés.
Estava eu a explicar à turma o que era um verbo defectivo, dando o exemplo dos verbos abolir e falir - que só se devem conjugar nos tempos e pessoas em que as formas verbais mantêm a vogal tónica do infinitivo (i), - quando, para meu enorme espanto, ao consultar os dicionários Priberam e Porto Editora, e depois a Mordebe, deparo com esses dois verbos conjugados em todos os tempos e em todas as pessoas. Como é possível?!
A minha pergunta tem o seguinte motivo: aceito que a gramática vá mudando conforme o uso dos falantes e parece-me necessário que as bases de dados lexicais, morfológicas e sintácticas vão sendo actualizadas, em vez de permanecerem rigidamente presas ao passado, quando os falantes já não se identificam com elas.
No entanto, parece-me que as alterações efectuadas a essas bases de dados só se justificam na medida do uso, ou seja, não faz sentido registar as formas "abulo, aboles, abolem" (para abolir), ou "falo, fales, fale" (de falir), se ninguém as passou a usar, se ninguém as reconhece.
Isto porque a gramática explícita, enquanto instrumento de consulta, deve ser uma descrição do conhecimento linguístico dos falantes, não uma "invenção" da autoria de uma minoria de "especialistas".
Posso estar redondamente enganada, mas não ouço dizer, nem nunca li, que "cada vez falem mais empresas", nem que "é preciso que o Governo abula as leis obsoletas"...
Senti-me mais confortada quando verifiquei que o Ciberdúvidas me dá razão, ainda que num texto de 2003. Pelos vistos, já não é actual!
1 comentário :
Pobres verbos defectivos, já eram...
Adorei os exemplos. Também não imagino ninguém a dizer:
"Eles abolem" ou "Eles falem a empresa"
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