09 outubro 2009

Acordo para quê?


Muitas são as ocasiões em que me apercebo, com satisfação, de que não sou a única a pensar que o Acordo de 1990, que tarda em fazer-se sentir em Portugal, não vai servir para nada que valha a pena.
E para ilustrar o meu ponto de vista, gostaria de dar aqui alguns exemplos de palavras de uso corrente que, apesar das boas intenções de uniformização ortográfica, vão continuar a escrever-se de forma diferente, em Portugal e no Brasil:

P                     B

aluguer            aluguel
amnistia          anistia
averiguam       averíguam
catorze             quatorze
conceção         concepção
desporto          esporte
encontrámos    encontramos
facto                fato
íman                ímã
indemnizar      indenizar
maioritário       majoritário
metro               metrô
planear            planejar
polémico         polêmico
quotidiano       cotidiano
receção            recepção
registo             registro
soutien             sutiã
stress               estresse
subtil               sutil
...

É uma lista curta, mas poderia ser muito maior. E nem sequer contém palavras que são completamente diferentes (para designar as mesmas realidades) num e no outro lado do Atlântico e que obrigarão à "conversão" dos textos escritos em Português do Brasil, no futuro, tal como agora.
Digam lá se vale a pena gastar tempo, dinheiro e recursos num esforço para uniformizar o que não é uniformizável?


5 comentários :

světluška disse...

No Brasil é averiguam e ímã. Há gente que pronuncia averiguam averíguam, mas é uma pronúncia errada (e o meu corretor ortográfico estranhou quando lhe pus o acento). Também pode ser aluguer no Brasil, o que é comum entre advogados. Tanto catorze quanto quatorze são corretas nas duas variedades do português, mas no Brasil é muito mais comum catorze, mas talvez dependa da região, eu, de São Paulo, associo a pronúncia quatorze com o Rio de Janeiro. Quotidiano também é possível no Brasil, mas cotidiano é mais comum.

S. Leite disse...

Obrigada pelos esclarecimentos, Svetluska. Na verdade, só em Portugal existem inúmeras palavras que permitem duas grafias (ou mais). Isto significa que a diversidade começa dentro das nossas próprias fronteiras, pelo que é de esperar que as ultrapasse. A minha pergunta é: qual o problema?!

Jorge Pinheiro disse...

Verifico, com satisfação, não ser o único a criticar a inutilidade deste (des)acordo ortográfico. Em meu entender mais valeria a pena considerá-lo um «Acordo Desortográfico» (perdoe-se o barbarismo). O problema é que a sua finalidade é eminentemente política e todos sabemos que quando a política se intromete em questões culturais o resultado é sempre um enorme disparate (para não lhe chamar outra coisa). De facto, este malfadado instrumento nada irá uniformizar e criará ainda mais confusão no futuro. Mesmo ado(p)tando grafia igual em todo o espaço lusófono, a forma brasileira de escrever continuará a ser (sendo) bem distinta da portuguesa. O resultado final é que irá haver em breve 4 normas: as duas actuais (brasileira e portuguesa), que os mais antigos não irão abandonar, a nova (o malfadado acordo), que os políticos e quejando irão aplicar religiosamente e a popular, em que cada um escreverá conforme lhe der mais jeito.
Teria sido preferível as Academias terem-se preocupado, isso sim, com a uniformização das diversas terminologias. E a um nível mais prático, teria sido mais proveitoso que os governos de todo o espaço lusófono uniformizassem os programas escolares para que a mobilidade entre estudantes e docentes (para não mencionar as equivalências) fosse uma realidade. Infelizmente, como sempre acontece, a massa cinzenta fugiu toda para um único lado e não foi para o dos nossos políticos.

S. Leite disse...

Acho que tem toda a razão. Mas as nossas vozes falam para surdos...

Anónimo disse...

Com 32 anos e depois de ter sido sua aluna na faculdade, penso: serei que fiquei burra??? Vou ter de ensinar aos alunos palavras sem sentido??? Depois de as escrever há 26 anos??? Óbvio como ser humano, terei de me adaptar à realidade, mas NÃO ACEITO! Quem é que iniciou a Língua Portuguesa??? Realmente estes governantes... Obrigada professora por este blogue! Continuação de bom trabalho!
Patrícia Carvalho