O já e o agora que são depois
Interessante, como as palavras tão frequentemente não dizem o que supostamente deveriam dizer. Parece que os falantes se empenham em subverter a lógica da língua, para a tornar mais imprevisível, traiçoeira e... bela, porque não?
Reparem como a palavra já pode, paradoxalmente, significar depois, em frases como «deixa-me só acabar de escrever isto e já te ajudo», ou «já vou, espera só um bocadinho!». É ou não é engraçado?
E vejam como também o advérbio agora foge ao seu sentido imediato (literalmente!), para adquirir um significado imprevisto, sobretudo para os falantes pouco habituados a estes ziguezagues pragmáticos: «fiquei de baixa e agora tenho de ir ao médico na semana que vem!» Isto é como quem diz "e em consequência terei de ir ao médico na semana que vem".
Digo que se trata de "ziguezagues pragmáticos" porque se prendem com usos não previstos nas gramáticas nem nos dicionários, mas que os falantes entendem, porque são suficientemente frequentes, embora estejam relacionados com certos tipos de registo, certas entoações, certos contextos, tornando-se por isso muito difíceis de descrever. São aqueles usos que baralham os estrangeiros, quando eles pensam que já dominam o nosso idioma. E um dos mais curiosos será a palavra bom, que com determinada entoação interjeccional significa precisamente o oposto: "mau!"
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