05 setembro 2008

Vírgulas II

Entre orações, a vírgula deve usar-se para:

a) separar orações coordenadas assindéticas (sem conjunções a ligá-las)

E pelos vistos foi essa tal de Glória que o provocou, disso não tenho dúvidas.“ (BG)

b) separar orações coordenadas sindéticas (com conjunções a ligá-las), excepto as introduzidas por e

Você falou em matar o homem, mas aí é que tudo se complica, porque não se trata de um homem qualquer.” (BG)

c) isolar uma oração intercalada (inseridas entre os elementos de outra oração)

“Não sou perito em arte e antiguidades, mas aquela peça, caso fosse verdadeira, era de certeza dos finais do Século XVIII e valeria uma pequena fortuna.” (BG)

d) separar orações subordinadas, com excepção das integrantes*

Mal entrei em casa, o telefone tocou.” (BG)

e) isolar as orações relativas explicativas (as que fornecem informação suplementar, que pode ser omitida da frase)

O seu último artigo, cujo título é “Forças Armadas — Do haver ao Existir, parece-me muito interessante.

f) para separar as orações reduzidas:

- gerundivas

“Pôs fim aos privilégios das farmácias, abrindo o negócio à concorrência.” (PE)

- infinitivas

“As perdizes chegaram, a fumegar.” (CPM, p.92)

- participiais

Agarrado às suas câmaras e ao seu vetusto ampliador, fazia maravilhas.” (E)


* É o caso de que e se, quando estas conjunções introduzem o sujeito ou complemento de verbo. por exemplo nas frases Ele perguntou-nos se iríamos votar, Que votar é um dever já eu sei e Nós respondemos-lhe que sim. Nestes casos, não é correcto usar vírgula para separar as orações.

Nota

Os exemplos entre aspas foram retirados dos seguintes textos de Costa Monteiro:

BG – “Beijar a Glória” (conto não publicado)

CPM – Caminhos Perdidos na Madrugada (Lisboa, Editorial Escritor, 1999)

E – “Encontro” (conto não publicado)

PE – “Presente envenenado” (www.deprofundis.blogs.sapo.pt)


3 comentários :

Hugo Pereira disse...

Também aqui há uma frase que me suscita algumas dúvidas e em que acho não ser obrigatório o uso de vírgula:

“As perdizes chegaram, a fumegar.”

Não posso dizer também:

"As perdizes chegaram a fumegar."?

Haverá alguma obrigatoriedade de usar vírgula, se no discurso não se faz uma pausa?

Por exemplo, na frase:

"O João entrou a falar ao telemóvel".

Se eu usar a regra acima descrita, devia dizer:

"O João entrou, a falar ao telemóvel"?

Acho que não faz muito sentido...

S. Leite disse...

Olá, Hugo. Obrigada pelo comentário. Concordo com as suas observações, sobretudo nos casos em que a oração infinitiva é constituída por uma ou duas palavras (como "a fumegar") - em que a vírgula não é, para mim, imprescindível.

O mesmo, aliás, se pode dizer de outros critérios, como o emprego de vírgula após um adjunto adverbial: a frase "Ontem à noite fui ao cinema" parece-me perfeitamente correcta sem vírgula depois de "noite".

No entanto, estas regras podem (e talvez devam) entender-se como recomendações - e não propriamente como imposições. Não obstante, umas serão mais questionáveis do que outras.

Hugo Pereira disse...

No entanto, estas regras podem (e talvez devam) entender-se como recomendações - e não propriamente como imposições.

Obrigado pela explicação. Fiquei esclarecido!! ;)