22 setembro 2008

Apóstrofos e tecidos



Há muito tempo que os Portugueses revelam uma certa aversão, ou medo, ou ambos, de colocar os estrangeirismos no plural.
Quer se trate de collants, de boxers, de placards ou de bibellots, três em cada cinco portugueses optam por deixar o "s" do plural à margem do resto da palavra, destacando-o com um estiloso apóstrofo: "collant's", "boxer's", "placard's" e "bibellot's". Que é como quem diz: "eu sei muito bem que esta palavra é estrangeira e por isso não pode ficar como as nossas quando está no plural".
O uso de siglas e acrónimos confirma que o apóstrofo veio para ficar na nossa língua: agora proliferam os CD's, os DVD's, mas também os ATL's e os BI's. E o apóstrofo ri-se de todos os puristas que pretendem erradicá-lo do uso comum.
Quanto ao "tirilene", trata-se de um dos mistérios da língua portuguesa. Eu já vi "terilene" e "tirilene" muitas vezes, mas infelizmente nem os dicionários, nem a Mordebe, nem o Ciberdúvidas, nem o Corpus do Português me esclarecem sobre a existência e o significado dessa palavra em português...
No entanto, e em abono dos lojistas que lidam com tecidos e se vêem obrigados a escrever os nomes dos seus diferentes tipos, devo dizer que me compadeço com eles, pela sua ingrata tarefa. Devem morder os lábios, olhar para o tecto, roer a caneta e quem sabe até verter umas gotas de suor em sinal da sua perturbação, cada vez que precisam de colocar na montra um aviso de promoção das calças de "tirilene" ou dos veludos "cotelês"...

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