Vírgulas II
Entre orações, a vírgula deve usar-se para:
a) separar orações coordenadas assindéticas (sem conjunções a ligá-las)
“E pelos vistos foi essa tal de Glória que o provocou, disso não tenho dúvidas.“ (BG)
“Você falou em matar o homem, mas aí é que tudo se complica, porque não se trata de um homem qualquer.” (BG)
“Não sou perito em arte e antiguidades, mas aquela peça, caso fosse verdadeira, era de certeza dos finais do Século XVIII e valeria uma pequena fortuna.” (BG)
d) separar orações subordinadas, com excepção das integrantes*
“Mal entrei em casa, o telefone tocou.” (BG)
e) isolar as orações relativas explicativas (as que fornecem informação suplementar, que pode ser omitida da frase)
O seu último artigo, cujo título é “Forças Armadas — Do haver ao Existir”, parece-me muito interessante.
f) para separar as orações reduzidas:
- gerundivas
“Pôs fim aos privilégios das farmácias, abrindo o negócio à concorrência.” (PE)
- infinitivas
“As perdizes chegaram, a fumegar.” (CPM, p.92)
- participiais
“Agarrado às suas câmaras e ao seu vetusto ampliador, fazia maravilhas.” (E)
* É o caso de que e se, quando estas conjunções introduzem o sujeito ou complemento de verbo. por exemplo nas frases Ele perguntou-nos se iríamos votar, Que votar é um dever já eu sei e Nós respondemos-lhe que sim. Nestes casos, não é correcto usar vírgula para separar as orações.
Nota
Os exemplos entre aspas foram retirados dos seguintes textos de Costa Monteiro:
BG – “Beijar a Glória” (conto não publicado)
CPM – Caminhos Perdidos na Madrugada (Lisboa, Editorial Escritor, 1999)
E – “Encontro” (conto não publicado)
PE – “Presente envenenado” (www.deprofundis.blogs.sapo.pt)
3 comentários :
Também aqui há uma frase que me suscita algumas dúvidas e em que acho não ser obrigatório o uso de vírgula:
“As perdizes chegaram, a fumegar.”
Não posso dizer também:
"As perdizes chegaram a fumegar."?
Haverá alguma obrigatoriedade de usar vírgula, se no discurso não se faz uma pausa?
Por exemplo, na frase:
"O João entrou a falar ao telemóvel".
Se eu usar a regra acima descrita, devia dizer:
"O João entrou, a falar ao telemóvel"?
Acho que não faz muito sentido...
Olá, Hugo. Obrigada pelo comentário. Concordo com as suas observações, sobretudo nos casos em que a oração infinitiva é constituída por uma ou duas palavras (como "a fumegar") - em que a vírgula não é, para mim, imprescindível.
O mesmo, aliás, se pode dizer de outros critérios, como o emprego de vírgula após um adjunto adverbial: a frase "Ontem à noite fui ao cinema" parece-me perfeitamente correcta sem vírgula depois de "noite".
No entanto, estas regras podem (e talvez devam) entender-se como recomendações - e não propriamente como imposições. Não obstante, umas serão mais questionáveis do que outras.
No entanto, estas regras podem (e talvez devam) entender-se como recomendações - e não propriamente como imposições.
Obrigado pela explicação. Fiquei esclarecido!! ;)
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