Durante as férias, um dos nossos leitores pediu-nos que abordássemos as regras para o emprego da vírgula. Esperamos que este texto seja suficientemente esclarecedor. Se não for, já sabem o que fazer...!
As vírgulas, ao contrário do que muita gente pensa, não servem simplesmente para marcar na escrita as pausas curtas do discurso oral. Se assim fosse, seria correcto colocar uma vírgula entre o sujeito e o predicado de uma frase, o que quase toda a gente sabe que não se deve fazer!
Ora, o uso da vírgula deve ser criterioso, tanto no interior das orações como na ligação entre estas, nas frases complexas.
No interior de orações, a vírgula serve para:
a) separar elementos que têm a mesma função sintáctica (elementos de uma enumeração)
“Os edifícios do quartel, casernas, refeitório, cantina, campos de jogos e outras dependências (...) foram sendo construídos a pouco e pouco (...).” (CPM, p.10)
b) isolar o aposto explicativo (grupo nominal ou adjectival que fornece informação adicional sobre um nome)
”Arthur foi sempre um sahib, filho de sahib, acima de qualquer casta indiana.” (CPM, p.37)
c) isolar o vocativo (palavra ou expressão que usamos para interpelar alguém)
“Cometemos um pequeno erro, rapaz.” (BG)
d) separar palavras repetidas, por uma questão de ênfase
“A mulher falava, falava, falava...” (CPM, p.25)
e) separar o adjunto adverbial, sobretudo quando antecipado
“Como de costume, em casa do pequeno Carlos o almoço decorria em silêncio.” (D)
f) separar o nome do local dos elementos de uma data
“Cascais, 2 de Outubro de 1974.” (CPM, p.183)
g) indicar a supressão do verbo, no meio de uma oração
“Galinha, só em datas festivas.” (D)
h) isolar uma expressão explicativa
Os macacos são omnívoros, isto é, alimentam-se de vegetais e animais.
Nota
Os exemplos entre aspas foram retirados dos seguintes textos de Costa Monteiro:
BG – “Beijar a Glória” (conto não publicado)
CPM – Caminhos Perdidos na Madrugada (Lisboa, Editorial Escritor, 1999)
D – “O Desgraçado” (www.deprofundis.blogs.sapo.pt)