17 novembro 2009

Cuidado com a escrita!


No livro que estou a ler, O Priorado do Cifrão, de João Aguiar, aparecem, de vez em quando, algumas falhas ortográficas. Nesse sentido, aproveito, não para criticar a editora, mas para chamar a atenção para essas palavrinhas que, pelos vistos, pregam rasteiras aos mais capazes:

Página 103: «foi guardar a vassoura na dispensa»
A dispensa é o acto de dispensar. O lugar onde se guardam víveres é a despensa.

Página 104 (e outras): «Não tardariam as perseguições aos herejes».
A palavra hereges escreve-se com g.

Página 176: «Mesas com tampo de formica»
A formica (palavra grave) é uma doença. A resina sintética que se usa para revestir móveis chama-se fórmica – palavra esdrúxula.

Página 179: «Mas que não tentasse tomá-lo por tótó»
Em português, as palavras não podem ter dois acentos agudos, porque não têm mais do que uma sílaba tónica. Totó, como popó e bebé só leva acento na última vogal, a que é pronunciada com mais intensidade.

Página 242: «tombava uma moínha fria» (e p. 243)
Moinha, tal como rainha e bainha, não leva acento agudo no i tónico que não forma ditongo com a vogal anterior, porque este é seguido do dígrafos nh.

Páginas 251: «Eugénio Graínha» (e p. 254)
Este apelido também não deve ser escrito com acento agudo no i (portanto, Grainha), pela razão enunciada atrás.

Página 296: «Julgo que para muito espanhois é uma questão estética»
Espanhóis, por enquanto, ainda leva acento agudo no o. Porque o ditongo tónico é semiaberto, “ói” (como em caracóis), e não semifechado, “oi” (como em pois).


4 comentários :

Anónimo disse...

E semifechado escreve-se tudo junto.

S. Leite disse...

Obrigada pelo reparo, caro anónimo! Corrigido. E semiaberto também, já agora.

Anónimo disse...

Pelo novo acordo semiaberto escreve-se junto. Pela ortografia ainda em vigor em Portugal é separado, por isso não fez nenhum reparo.

Fernando Vouga disse...

Pois é

Em bons panos caem as nódoas. Mas é de perdoar. João Aguiar é um dos autores meus preferidos. Ainda não chorei um só cêntimo que gastei com os seus livros.
Mas meditemos um pouco. A língua portuguesa ainda é demasiado complicada. Não se pode aceitar que só meia dúzia de peritos, como a autora deste blogue (sei bem do que estou a falar), esteja ao alcance de uma escrita perfeita. E, mesmo esses, acabam fatalmente por cometer algumas faltas, como se acabou de ver.
Sou do tempo em que se apanhava uma palmatoada por cada erro ortográfico cometido. Porém, se nessa altura a nossa escrita estivesse tão simplifacada como está hoje (e ainda há muito a fazer), eu teria decerto apanhado muito menos.