palavras-crianças
De entre os processos de formação de palavras novas, a afixação será o mais produtivo e, também, o mais previsível. Aliás, é tão fácil criar palavras com base naquelas que já existem, juntando-lhes prefixos ou sufixos, que o fazemos diariamente, sem dar por isso, e ficaríamos surpreendidos com a quantidade de termos que, apesar de serem usados com frequência, nem sequer constam dos dicionários.
Experimentem, por exemplo, procurar no Priberam, que é bastante actual, as palavras sistematicidade (de sistemático + -idade), potenciador (de potencia(r) + dor) e intermutável (inter- + mutável)... Ou façam outra experiência interessante: procurem-nas no dicionário on-line da Porto Editora (onde não constam) e depois consultem a Infopédia, da mesma editora, que apresenta vários textos em que elas são utilizadas! Curioso, não?!
Estas jovens palavras, tão discretas na sua novidade, são facilmente interpretadas e podem ser usadas nos mais diversos contextos, mas ainda não fazem parte do léxico "oficial" apenas por causa da sua tenra idade... é uma questão de tempo! Deixemo-las saborear a liberdade de andarem por aí a brincar nas nossas cabeças, como crianças irreverentes. Porque é também nisso que reside a beleza das línguas vivas.
4 comentários :
Duas notas apenas:
1. Nenhum dos exemplos dados ocorrerá em Portugal por efeito de criação lusofalante, mas pela circunstância de o país pertencer à mesma área cultural que deu origem a "intermutable"(castelhano/inglês/francês), "systematicité/ sistematicidad" (ing./cast.), ou "potenciador/potentiateur/potentiator" (cast./fr./ingl.). Trata-se, pois, de empréstimos linguísticos, não se presumindo, claro, que a origem do empréstimo seja portuguesa.
2. O drama dos dicionários portugueses do tipo Editora e Priberam até nem é o de não recolherem esta ou aquela neologia mais ou menos fresca, mas sim a falta de um critério científico e fiável na sua feitura, daí resultando um verdadeiro pastiche com definições bastas vezes deficientes e contradições internas.
Alberto Sousa
Ainda hoje ouvi uma notícia na rádio e que se falava de um decreto-lei que continha a palavra "empodeirado" (deve ser assim que se escreve), que é uma palavra que não existe e que deriva da palavra inglesa empowerment!
Como inventamos palavras!!!
As suas notas enriquecem em muito o meu modesto texto, Alberto Sousa. Mas não me parece que as palavras de que falei sejam propriamente empréstimos, na medida em que se trata, quando muito, de traduções, e não da importação pura e simples de vocábulos estrangeiros, como acontece com download, piercing ou lingerie).
Quanto a Nós... inacreditável!!!
Encontrei em "O Jogo do Anjo" a palavra "ingravidez". Não a encontro registada em lado algum. Através de uma busca na internet descobri-a em textos espanhóis com o significado de "ausência de gravidade". Tratar-se-á de uma tradução literal do espanhol da lavra do tradutor?
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