03 março 2009

"Graffitis", "pizzas" e frangos anglo-saxónicos


Se é verdade que os graffiti incomodam muita gente, não se pode propriamente dizer que os "graffitis" incomodam muito mais. No entanto, há pessoas que se enervam quando ouvem alguém falar de "graffitis" e têm uma certa razão: é que a palavra italiana graffiti já está no plural, sendo o substantivo singular graffito. Portanto, explicam esses ilustres defensores da nossa língua e da coerência gramatical, não faz qualquer sentido flexionar duplamente uma palavra no plural. É tão absurdo como dizer "verõesãos"...
Mas como fazer ver aos portugueses que a palavra que importaram já está no plural e, portanto, devem referir-se a um
graffito ou a vários graffiti? Decerto não será fácil, dado que para nós o plural dos nomes leva, por defeito (e salvo raras excepções), um -s no fim...
Afinal, se quisermos ser puristas, também devemos dizer
pizze no plural, dado que a forma pizza também não se flexiona em número, em italiano, por meio da junção do -s ao nome singular...
Podemos sentir-nos um pouco envergonhados por causa da "ignorância geral" e insistirmos em usar graffiti quando nos referimos a muitos desenhos feitos nas paredes e muros. Mas também podemos tolerar esse plural mal formado como um sinal da inevitabilidade das mudanças menos informadas que sempre ocorreram nas línguas. Afinal, não se pode esperar que os falantes saibam todos de onde vieram e como foram formadas as palavras que usam! E em todos ou quase todos os idiomas deve haver casos assim, de formas equivocadas que acabaram por vingar. Pensemos por exemplo em
chicken (frango), que era o plural de chick, em inglês (como child/children), e passou a designar o singular, sendo hoje normal usar-se o duplo plural (ainda que um deles agora passe despercebido) chickens.

3 comentários :

Anónimo disse...

O mesmo problema se coloca nas palavras de origem hebraica terminadas em “–im”, já de si um plural, como “serafim” ou “querubim” que, em português, fazem, respectivamente “serafins” e “querubins” e ninguém pensa na incongruência. Com os estrangeirismos este é um problema recorrente. E a tendência da língua é “nacionalizar” a palavra estrangeira dando-lhe um cunho retintamente português. É o caso de “football – futebol” (e seus sucedâneos terminados em –ball), das palavras de origem árabes começadas por “al-” (Alcorão, alferes, Algarve – embora haja quem insista em “o Corão”, ninguém se lembra que “o Algarve” já é “o o gharb”) e de tantas outras. De facto, “os graffitis” soa mal a um entendido, mas o problema resolver-se-ia, aportuguesando ainda mais o termo. Eis a sugestão: os grafitis. Retire-se-lhe o duplo “f” e será ouro sobre azul.
Como nota pessoal, fiquei com muita pena de não poder ter ido à Expolíngua, mas as minhas obrigações profissionais a isso obstaram. Creio, porém, que a intervenção das autoras do blogue foi brilhante.

Marta Guerreiro disse...

O Graffiti – Arte Urbana, para muitos de nós ainda é considerado um simples acto de pintar uma parede, com intuito de vandalizar. A verdade é, que cada vez mais há artistas a praticarem este tipo de arte ou simplesmente a inspirarem-se nela para enriquecer os seus trabalhos, desde o design gráfico à moda.

Assim sendo, gostaria de o convidar a aparecer dia 16 de Junho do corrente ano, pelas 18horas na Biblioteca da Universidade Nova de Lisboa, Campus de Caparica, para a inauguração da Exposição/Intervenção/Debate Terroir Graffiti.

E partilhe da sua opinião!
Pois, poderá participar no debate que reúne artistas, investigadores no campo das ciências sociais, juristas e outras individualidades que trabalham sobre o tema da Arte Urbana.

Poderá também usufruir de uma exposição que integra uma dimensão extramuros, onde um Writer será acompanhado na sua actividade por uma equipa de filmagens que produzirá um documentário, outra intramuros que consiste na pintura de um mural do Campus de Caparica e uma terceira indoor, instalação efémera de artes plásticas.


Local: Biblioteca UNL no Campus de Caparica – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
Data: 16 de Junho a 11 de Setembro de 2009
Horário: 16 de Junho a 19 de Julho, 2.ª a 6.ª, das 09:00h às 20:00h.
20 de Julho a 11 de Setembro, 2.ª a 6.ª, das 09:00h às 17:00h.
Tel. 21 2947829 / 21 2949677

Para mais informações: http://biblioteca.fct.unl.pt
http://bibliotecaunl.blogspot.com/

Como cá chegar:
http://www.fct.unl.pt/candidato/como-chegar-a-fct

světluška disse...

No Brasil quando são aqueles que só enfeiam os lugares, chamamos-lhes pichação, mas quando são mais artísticos, dizemos grafie (http://www.aulete.portaldapalavra.com.br/site.php?mdl=aulete_digital&op=loadVerbete&pesquisa=1&palavra=grafite)., que não oferece nenhum problema na hora de pluralizar. Quanto a grafiti em português, não me parece que seja uma boa opção, já que assim seríamos "forçados" a pronúncia a última sílaba como tônica. Talvez grafíti, mas como já mostrei, já há grafite (espero que não valha só para o Brasil, seria uma pena se assim o fosse).