17 abril 2012

"Tem-no visto ultimamente?" ou "tem-lo visto ultimamente"?

Tem-no e tem-lo são combinações diferentes de forma verbal e pronome de complemento directo. Como na pergunta do título não há indicação da pessoa que desempenha a acção de ver, há uma ambiguidade que não permite concluir qual das duas seria correcta num determinado contexto. Ambas são possíveis... vejamos porquê.

Em tem-no, temos o verbo no presente do indicativo e a pessoa é a terceira do singular. Ele ou ela tem visto determinado indivíduo, por hipótese. Essa pessoa, enquanto “objecto directo” do verbo ver, é substituída pelo pronome o. Mas como a forma verbal termina em ditongo nasal e o pronome é o de C.D., 3.ª pessoa, a regra é: acrescenta-se um n ao pronome o. Tal como acontece por exemplo em “deram-no” e “põe-nas” (e seria incorrecto dizer “deram-o” e “põe-as”).

No caso de tem-lo, o tempo do verbo é, também, o presente do indicativo. Mas há uma alteração na própria forma verbal, por causa do pronome que se lhe junta, que é novamente o de complemento directo, o. A regra é: quando as formas verbais terminam em s, r, ou z, essas consoantes finais são suprimidas se a seguir vier o pronome o/a(s) e a este pronome antepomos um l. Assim, devemos dizer: “tu come-la muito depressa” (e não “tu comes-a muito depressa”; “vou guardá-los” (e não “vou guardar-los”);  “fi-lo ontem” (e não “fiz-o ontem”).
Portanto, o sujeito implícito em "tem-lo visto" é tu. "Tu tens visto o teu vizinho ultimamente?", por exemplo, o que, simplificado, dá "tem-lo visto ultimamente?", porque: ten(s) + (l)o = tem-lo.

Assim, dependendo de quem seja o sujeito daquele tem (que poderá ser tens), deveremos optar por uma ou outra forma.

4 comentários :

Anónimo disse...

É complicado mesmo o português. A pergunta é: Vocês falam assim no seu dia a dia?...acho que nao, pelo menos nao todo mundo. Um abraço desde Lima no Peru, de um peruano. Víctor.

S. Leite disse...

Obrigada, Víctor. Claro que não falamos exactamente como aqui escrevemos quando estamos entre amigos e familiares, pois nessas ocasiões usamos um registo informal. Com os alunos sim, procuramos usar um registo cuidado, para que não esqueçam que a língua é flexível e deve ser utilizada de acordo com as diferentes situações e interlocutores. Parece que hoje em dia eles têm cada vez mais dificuldade em passar do registo familiar para um registo mais formal...

Nicolices disse...

Ótima explicação. Para muitos exemplo de um preciosismo inútil. Para mim, ilustre a preciosidade que é a língua portuguesa. Abrs.
Diogo Montalvão

Tarso Elvis disse...

Muy bueno, me gustó!