16 fevereiro 2010

Registo formal em ambiente pré-lúdico


Este fim-de-semana fiz algo que há muitos anos não fazia: joguei à Batalha Naval. E o divertimento que o jogo me proporcionou não se deveu apenas aos momentos animados entre ensinar a minha filha a jogar e perder dois jogos consecutivos. Passou igualmente pela leitura das instruções que vinham na caixa, guardadas religiosamente durante décadas e cujo registo me fez pensar que, hoje em dia, talvez devessem ser "adaptadas" a um português mais coloquial - visto que a linguagem formal, cuidada, está cada vez mais longe dos olhos e ouvidos dos jovens.

Leia-se este excerto, por exemplo:

«Assim, os jogadores passarão a dar um palpite de cada vez, alternadamente, palpite esse que consiste em pronunciar ao adversário um NÚMERO e uma LETRA. Em resposta o adversário dirá se há «FALHA» ou «COLISÃO». [...] No caso de ter anunciado «COLISÃO», o José colocará um perno vermelho no furo da embarcação atingida enquanto que o António sinalizará também, com um perno vermelho, o seu quadrado de marcação. [...] Assim, conforme o jogo vai decorrendo, saberá quais os números já pedidos e bem assim quais os certeiros e não certeiros.»

Na próxima revisão do folheto, proponho que as frases acima citadas sejam escritas da seguinte forma:

«Então, cada jogador diz, à vez, um NÚMERO e uma LETRA, que é onde pensa que pode estar um barco do outro. O outro responde  «ÁGUA» ou «FOGO». [...] Se disser «FOGO», o Zé mete um pino encarnado no buraco do barco que levou o balázio,  e  o Tó também mete  um pino encarnado no mesmo sítio, no quadro onde marca os  tiros que dá.  [...] Assim, durante o jogo, sabe que números é que já pediu e, desses, quais é que foram em cheio e quais é foram na água.»




4 comentários :

Anónimo disse...

Olá

Essa transformação do vermelho para o encarnado tem alguma razão de ser? Tirando o gosto pessoal?

S. Leite disse...

A razão é que hoje ouço mais dizer encarnado do que vermelho (principalmente jovens), mas pode ser ilusão...!

aquele a quem chamam Jonas disse...

Só para dizer que, aqui no Norte (de Portugal), ninguém diz «encarnado». Regionalismo?

S. Leite disse...

Penso que o uso do adjectivo "vermelho" também adquiriu, a certa altura, uma conotação política (associada ao comunismo) que levou muita gente a preferir usar o equivalente encarnado, para evitar dúbias interpretações. Vejam esta resposta do Ciberdúvidas:
http://www.ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=127