A triste história da camisola em Portugal
Era uma vez uma camisola, que havia chegado há muitos séculos a Portugal. Viera de França, mas sem grandes pretensões nem ambições.
Entrara devagar, com discrição e humildade, no nosso léxico e nem se importara quando a obrigaram a substituir o seu e final por um a mais português. O que ela queria era mesmo ficar por cá, por isso achou bem assumir uma forma que a identificasse e confundisse mais com as palavras portuguesas. E a sua vontade e determinação foram tão fortes, que os falantes se esqueceram de que a camisola tinha vindo de fora, acarinhando-a como cidadã do léxico nacional.
Um dia, porém, quando ela própria já tinha esquecido as suas origens, os falantes começaram a impacientar-se com ela. Alguns deixaram de a querer usar, sem razão aparente. Outros acusavam-na de ser demasiado ambígua, de servir para tudo e para nada, de não satisfazer as suas necessidades vocabulares. Alegavam que outras palavras, frescas e sofisticadas, se revelavam muito mais eficazes para aplicar nos diversos contextos em que as camisolas não eram, afinal, simples camisolas. E as divertidas t-shirts, as confortáveis sweat-shirts, os bonitos pullovers, as frívolas sweaters e os jovens tops foram-se insinuando na cabeça dos falantes. Mas, como eram cheias de si, estas palavras fizeram uma exigência: que a sua forma e graça original fossem sempre mantidas, de modo que não admitiam mudanças ortográficas nem deslizes de pronúncia.
E as camisolas, que antes nos tinham servido tão bem, em todas as ocasiões, foram preteridas em favor dessas novatas impertinentes, que agora se julgam as melhores do mundo.
É uma história comum, infelizmente...
2 comentários :
Acompanho-a no sentimento!
Nem sabe como também lamento a (quase) morte da nossa querida, velhinha e aconchegante camisola!
As pessoas aqui dizem plóver, o meu dicionário diz pelôver... Bah.
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