15 abril 2009

Respostas aos PORQUÊS

1. Porque é que açoriano se escreve com i, se Açores se escreve com e?
R: Porque ao juntarmos o sufixo -iano, as duas letras finais da palavra Açores desaparecem. A vogal i é, portanto, do sufixo (Tal como flor(es) + inhas = florinhas).

2. Porque é que o verbo despender se escreve com e, se dispendioso se escreve com i?
R: O verbo despender provém do latim dispendere, com i, mas sofreu uma evolução e a partir do século XV passou a escrever-se com e.

3. Porque é que café tem acento e cafezinho não tem?
R: Porque ao associarmos qualquer sufixo a uma palavra, o acento tónico passa a recair na primeira sílaba do sufixo, logo, o acento gráfico deixa de fazer sentido (cafeZInho).

4. Porque é que o plural de carácter é caracteres?
R: Na passagem do singular ao plural, a palavra continua a ser grave quanto à acentuação e, por isso, perde o acento gráfico que existe na forma singular.

5. Porque é que torácico se escreve com c, se tórax se escreve com x?
R: Ambas as palavras provêm do grego: tórax«thoraks,akos e torácico«thorakikos.
O ks deu origem a x e o k deu origem a c.

6. Porque é pára-quedas leva hífen e parapente não leva?
R: Porque pára-quedas é uma palavra portuguesa composta por justaposição (de parar + quedas) e parapente é uma palavra que provém do francês parapente (déc. 1980).

7. Porque é que a palavra carrossel se escreve com dois s e não com c?
R: Porque provém da palavra francesa carrousel, que se escreve com s.

8. Porque é que o verbo relativo a circuncisão não é circuncisar?
R: O nome circuncisão provém do latim circuncisionis; o verbo correspondente é circuncidar, o qual tem origem em circumcidere (cortar ao redor).

15 comentários :

Anónimo disse...

"carácter" ? Você não pretende aderir à nova regra ortográfica ?

fRANCO E sILVA disse...

Dúvida minha: essa regra da manutenção da mesma ordem da sílaba tónica (caRÁCter, caracTÉres), não me parece muito geral. Vejamos:
PÓLEN, PÓLENES; LÍQUEN, LÍQUENES; MOLÍMEN, MOLÍMENES; NATRALÚMEN, NATRALÚMENES; PSEUDÍMEN, PSEUDÍMENES; REGÍMEN, REGÍMENES; TÉGMEN, TÉGMENES; QUALQUER, QUALQUERES; PÓSTER, PÓSTERES; REPÓRTER, REPÓRTERES; LÍDER, LÍDERES; TÁLER, TÁLERES; etc.
Pese embora, por exemplo, MASSÉTER, MASSETERES e ESPÉCIMEN, ESPECÍMENES (embora este para evitar a sobreexdruxulação).

Jorge Pinheiro disse...

Olá, caríssima Dra. Sandra Duarte
Uma vez mais, os meus parabéns pelo vosso blogue. Nem sempre tenho oportunidade de o consultar, mas é sempre com prazer que percorro os artigos. Uma palavra de incentivo – não desistam e, enquanto a voz não vos doer (parafraseando a fadista), ergam-se como paladinos (haverá “paladinas”?) daquela que considero uma das mais belas línguas do mundo, infelizmente tão sujeita a erosões, muitas delas desnecessárias.
E, a propósito de erosão, aproveito para expor uma dúvida. Ao ler um texto, encontrei o termo “erodido”. No entanto, o dicionário, apesar de definir “erosão”, não regista o verbo “erodir”. Pode considerar-se errado o uso de “erodido” ou, pelo contrário, este é um caso de neologismo?
Com os meus votos de felicidade para si e a sua colega,
Jorge Pinheiro

Hugo Pereira disse...

Estes anónimos não lêem as notícias e depois dizem estes disparates.

Portugal adia entrada em vigor do Acordo OrtográficoA implementação do Acordo Ortográfico em Portugal e Cabo Verde, inicialmente indicada para 05 de Maio, foi adiada para o segundo semestre deste ano, garantiu hoje à Agência Lusa o ministro da Cultura cabo-verdiano.
Se ainda não entrou em vigor, seria errado escrever "caráter". e Agora o anónimo dirá. "De fato!".

E eu respondo: "De fato e gravata".

Sou contra o Novo Acordo Ortográfico, vamos andar a falar uma mistura de "pretuguês" com brasileiro.

Hugo Pereira disse...

Já agora, não querendo incorrer em erro, estive a consultar o Novo Acordo Ortográfico e há um variado número de palavras que não sofrem a supressão dos "c", "p", etc...

Pode dizer-se ainda que, no que respeita às alterações de conteúdo, de entre os princípios em que assenta a ortografia portuguesa se privilegiou o critério fonético (ou da pronúncia) com um certo detrimento para o critério etimológico.
É o critério da pronúncia que determina, aliás, a supressão gráfica das consoantes mudas ou não articuladas, que se têm conservado na ortografia lusitana essencialmente por razões de ordem etimológica.
É também o critério da pronúncia que nos leva a manter um certo número de grafias duplas do tipo de caráter e carácter, facto e fato, sumptuoso e suntuoso, etc.
in Acordo Ortográfico 1990, Anexo II, 3.

S. Duarte disse...

o AO ainda não entrou em vigor em Portugal, razão pela qual ainda mantive o -c- antes do -t-!

Anónimo disse...

Quando é que entre em vigor?

Anónimo disse...

Também tenho uma questão. Por que é que se usa uma conjunção causal ("porque") como se fosse um pronome interrogativo?

S. Duarte disse...

Franco e Silva,
o plural de carácter é caracteres, porque assim era a pronúncia no latim: character, eris, com e vogal longa, logo tónica. José Pedro Machado indica que em 1014 se escrevia caracter, mas que no século XVII já se escrevia carácter.

Jorge Pinheiro,
erodido é o particípio passado do verbo erodir, atestado em vários dicionários: Porto Editora, Dicionário Houaiss, por exemplo.

Anónimo,
Em relação ao «porque», sugiro que veja esta resposta: http://www.ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=23335.

Anónimo disse...

Cara S.Duarte, a explicação do Ciberdúvidas parece-me um pouco forçada e infeliz. Nessa explicação, a palavra "porque" pode ser um advérbio interrogativo, funcionando em perguntas sempre que anteceda um verbo. Ora, gostaria de saber quando ou em que dicionários "porque" é considerado advérbio. Celso Cunha e Lindley Cintra, por exemplo, consideram como advérbio interrogativo "por que" e não "porque".

Em primeiro lugar, as coisas têm de fazer sentido. Estipular uma regra que diz que se deve usar "porque" como advérbio interrogativo quando antecede um verbo e "por que" quando antecede um substantivo não faz qualquer sentido. "Porque" é uma conjunção causal e deve ser utilizado apenas quando expressa causa. Não sei quando terá passado a ter um uso interrogativo, mas acredito que o tenha adquirido pelo erro sistemático e por facilidade de emprego. Acho que as coisas, em Língua, têm de fazer sentido. A principal razão para estar contra este Acordo Ortográfico prende-se precisamente com o facto de maior parte das alterações propostas não corresponderem a critérios de evolução da língua, mas sim a uma necessidade política. Com o "porque" é mais ou menos o menos. O seu uso como Advérbio Interrogativo é recente e ter-se-á consagrado em Língua Portuguesa por um fenómeno de hipercorrecção. Em PB, por exemplo, a conjunção não adquiriu esse valor. E não o adquiriu porque não precisa de adquiri-lo. Sou a favor do enriquecimento lexical e considero útil grande parte dos neologismos, mas sou contra a criação de novas palavras (ou acepções de palavras já existentes) que não acrescentem nada de novo. Para dar um exemplo concreto, "empenhamento" é uma palavra criada recentemente. Nasceu não sei bem por que necessidade, pois já existia "empenho", que significa precisamente o mesmo e tem menos duas sílabas. Este tipo de palavras são absolutamente escusadas. Com o "porque" acontece o mesmo. Não é necessário que "porque" passe a ter um valor interrogativo quando temos "por que". E o correcto, antecendendo verbo ou substantivo, é usar "por que".

Comecei este argumento a falar de sentido e é com ele que espero justificar a minha opinião. Consideremos expressão "Por que é que não vieste?", por exemplo. Toda a pergunta que implica uma causa, iniciada pelo advérbio interrogativo "por que", verifica uma elipse de um substantivo (ex. "razão", "motivo", etc.). Assim, o "que" é relativo a esse substantivo e determina-o. Perguntar "Por que é que não vieste?" é igual a perguntar "Por que razão é que não vieste?". O que o interlocutor quer saber pode ser formulado também por outra pergunta, como seja: "Que razão te impediu de vir?" Ou ainda: "Qual a razão de não teres vindo?" Se todas as outras formas de formular a mesma pergunta implicam o uso do pronome interrogativo "que" ou "qual", que sentido faria numa delas usar "porque"?

Outra explicação, um pouco mais plausível que a do Ciberdúvidas, pode ser encontrada aqui (http://www.priberam.pt/duvidas/duvidas_detalhe.aspx?Id=1317). Também aqui "porque" pode assumir um valor interrogativo, desta feita como "pronome interrogativo". A diferença, segundo esta explicação, entre o uso de "porque" e "por que" está na expressão de causa encerrada pela primeira. Assim, é possível dizer "Porque esperas?", se a pergunta pressupõe causa, mas também "Por que esperas?", em caso contrário, sendo que aqui a preposição "por" pertence à regência do verbo esperar (Resp: "Espero por ti"). O que, no entanto, parece contraditório, é considerar um terceiro caso, quando seguido do advérbio interrogativo vem um nome como "motivo" ou "razão". Assim, deve usar-se "por que" com um valor causal em construções do tipo "Por que motivo não vieste?". Ora, regressamos ao mesmo problema. Por que motivo é que na última pergunta o "que" é determinante de "motivo" e na primeira é substituído por "porque"?

Ao contrário, portanto, do que estas duas explicações procuram asseverar, e dando razão a Celso Cunha e Lindley Cintra, o advérbio interrogativo correcto é "por que". "Porque" só pode ocorrer numa pergunta caso essa pergunta já contenha em si uma resposta, ou seja, caso seja uma pergunta retórica, como nas três perguntas que seguem a pergunta principal no seguinte exemplo: "Por que é que não vieste? Porque esteve a chover? Porque não te apeteceu? Porque te esqueceste?" De resto, uma pergunta deve ser formulada com "por que" e não com "porque".

S. Duarte disse...

Caro Anónimo
1. Está no seu direito de considerar a minha resposta no Ciberdúvidas forçada e infeliz. Curiosamente, a Comissão Consultiva do Ciberdúvidas não pensou assim quando a publicou.
2. Quais os dicionários que registam «porque» como advérbio interrogativo? Cito-lhe dois de referência: Dicionário Houaiss e Dicionário da Porto Editora.
3. Com todo o respeito que tenho pela obra de CC e LC, na melhor das hipóteses, «por que» seria uma locução adverbial e nunca um advérbio, por se tratar de dois vocábulos.
4. A maioria das palavras da língua pode pertencer a mais do que uma classe gramatical: «a» pode ser um artigo, uma preposição ou um pronome, por exemplo. Portanto, «porque» pode ser um advérbio interrogativo, ou uma conjunção causal ou explicativa.
5. As outras línguas têm à sua disposição palavras que introduzem frases interrogativas para questionar a identidade ou a quantidade dos seres/objectos. Por exemplo, o inglês dispõe de: who, what, which, when, where, how, why. Ora, à semelhança do inglês, também o português tem pronomes interrogativos – quem, que, qual, quanto - e advérbios interrogativos - como, onde, quando, porque, porquê.
6. E para terminar, como em tudo na vida (e não apenas em matéria de gramática), não há verdades absolutas. Há, sim, opiniões e argumentos que fundamentam essas opiniões. Eu respeito a opinião dos que postulam a tal «elipse do substantivo». Respeito, mas não concordo. Para mim, os nomes «motivo» e «razão» ou estão explícitos ou não existem.
Os argumentos que apresento a favor da minha tese estão à disposição na resposta em apreço, pelo que não os vou repetir aqui. Mantenho-me, pois, firme nas minhas convicções.

Anónimo disse...

Cara S.Duarte,

3. Evidentemente. Penso, contudo, que importa, para o assunto, a função da locução adverbial (que é igual à função do advérbio) e não a designação/classificação em si.

4. Não refuto isso. No entanto, quando não há necessidade de que essas palavras assumam outras acepções, não me parece que devam assumi-las. "Porque" poderia ser um advérbio interrogativo, além de conjunção causal, se não houvesse já outras palavras com a mesma função, nomeadamente "porquê" ou a locução "por que".

5. Atenção que o inglês "why" corresponde ao nosso "porquê" e não a "porque". Assim como "porquoi" em francês e "perché" em italiano. Mas o caso mais interessante é o do espanhol, em que advérbio interrogativo é "por qué" e a conjunção causal "porque" (só se usa "porqué" como substantivo). Julgo que o problema está no uso restritivo do nosso "porquê". Ao contrário do que se passa nas restantes línguas mencionadas, o nosso advérbio interrogativo de causa por excelência não pode ser usado em todos os contextos. Assim, "porquê", em início de frase, só se não tiver verbo expresso ("Porquê estas perguntas?") ou se o verbo estiver no infinitivo ("Porquê fazer contas de cabeça?"). De qualquer forma, pode sempre ser usado no fim da frase ("Não vieste porquê?". Creio que isto acontece apenas em português pelo carácter peculiar da acústica da nossa língua. Em determinada altura, portanto, o "porquê", enquanto advérbio interrogativo de causa único, terá caído em desuso e dado lugar à forma átona por uma questão de prosódia. Mas a verdade é que toda a pergunta iniciada com um advérbio interrogativo pode ter o mesmo advérbio, como alternativa, no final. Assim, se por questões de prosódia é errado dizer "Porquê não vieste?", já não o é se se disser "Não vieste porquê?". Ora bem, "porquê" significa precisamente "por que razão". A frase "Não vieste porquê?" pode ser substituída por "Não vieste por que razão?". Passando o advérbio para início de frase, temos "Por que razão não vieste?". Ou seja, elidindo o substantivo, "Por que não vieste?" O argumento mais forte a favor desta tese será precisamente o facto de a frase com "porque" não poder ser construída com o advérbio em final de frase ("Não vieste porque?") da mesma maneira que a elipse do substantivo "razão" também só faz sentido a meio da frase. Ao contrário, pois, dos restantes advérbios interrogativos (porquê, como, onde e quando), o "porque", assumindo que fosse advérbio interrogativo, não funciona em final de frase. Isso tem de querer dizer alguma coisa. Já o "por que razão", que mais não é que "porquê", funciona. Resumindo, devido à restrição de uso do "porquê" e à elipse do substantivo "razão", o "por que" passou a ser, de forma errada, confundido com "porque", até que, a dada altura, se assumiu que "porque" poderia ter uma função interrogativa. Como a língua não necessita que o "porque" tenha esse uso, não me parece haver uma razão lógica para que o tenha.

6. As verdades absolutas, às vezes, existem, ainda que este possa não ser o caso. Concordo, porém, que os argumentos são o que melhor existe para fundamentar opiniões e conferir sentido às coisas. Também não concordo com quem defende a tese contrária à minha. A diferença estará, todavia, na qualidade dos argumentos. Dizer que uma forma ocorre antes de um verbo e outra ocorre antes de um nome, ou inferir que a ausência de um nome numa frase significa a sua inexistência, parecem-me argumentos um pouco fracos. Se o primeiro denota uma clara estipulação à posteriori de uma regra, ignorando que as regras devem ser mais que meras convenções, o segundo, além de esquecer que um advérbio interrogativo de causa implica sempre uma causa e que a mesma pode vir explícita por um nome ou no próprio significado do advérbio ("porquê" significa "por que razão"), ainda acarreta implicações engraçadas como o facto de, seguindo o argumento, não se poder aceitar uma metonímia como "Apetece-me um copo!", sendo que o conteúdo do continente "copo", não estando explícito, não pode existir.

Resumindo, todas as evidências apontam para que a forma correcta seja "por que" e não "porque", sendo que a argumentação contrária assenta em estipulações arbitrárias e em refutações falaciosas. Ademais, a existência de línguas vizinhas com a mesma origem do português ajuda a perceber a evolução da nossa língua. O facto de em nenhuma delas haver mais do que um advérbio interrogativo de causa deveria ser indício suficiente.

Nós disse...

Dá vontade de dizer: "Leva lá a taça!"
Para a professora Sandra: a sua explicação faz todo o sentido para quem a ouve nas aulas. Muito Obrigada!!!
;-)

Franco e Silva disse...

Em relação aos exemplos de não deslocação de sílaba entre o singular e o plural de várias palavras, a respeito de CARÁCTER, CARACTERES, serve este comentário para corrigir um erro no meu primeiro comentário: será, efectivamente, QUALQUER; QUAISQUER (e não QUALQUER; *QUALQUERES) e em que, aliás, não há deslocamento de sílaba (face à epecificidade da formação destas palavras (QUAL+QUERO; QUAIS+QUERO).

S. Duarte disse...

Anónimo, só uma pergunta e com porque!!

Porque (ou por que, na sua linguagem) é que tão sumptuosos argumentos não revelam a identidade do seu autor?
Alguma razão em particular para se esconderem atrás de uma máscara?...