O novo “purtuguex”
Confesso que cada vez tenho mais dificuldade em compreender as mensagens que os jovens escrevem uns para os outros hoje em dia. Talvez o objectivo deles também passe por aí – dificultar a compreensão por parte dos “cotas” – apesar de me parecer que a principal razão “pk xcrevem axim” é simplificar a ortografia.
Simplificar, por si só, não é um objectivo condenável. Basta lembrar que é uma das grandes vantagens da reforma ortográfica, para os seus defensores. O problema é que a substituição de umas letras por outras – nomeadamente o q pelo k e o s/ch/ç pelo x – , aliada à falta de leituras de qualidade, vai progressivamente criando imagens mentais das palavras que se afastam da sua grafia oficial.
Rapazes e raparigas com quem tenho falado garantem-me que não, que conseguem escrever “normalmente” sempre que é preciso, que só usam essa escrita abreviada e simplificada nas mensagens de telemóvel e correio electrónico. Eu dou-lhes o benefício da dúvida. Até porque, pela minha experiência como professora, a maior dificuldade da juventude que acaba o secundário e ingressa no ensino superior já nem sequer é escrever sem erros, mas algo muito mais grave: exprimir ideias através de palavras adequadas e frases gramaticalmente aceitáveis.
Nesse sentido, a grande polémica em torno do Acordo Ortográfico parece-me às vezes uma patetice, um devaneio de intelectuais alheados do que realmente interessa na sociedade, no que diz respeito ao uso da língua. E apetece-me dizer «venha o Acordo e depressa! Ao menos assim, os alunos que cometem actualmente vinte erros num ditado de 100 palavras passarão a cometer apenas quinze!»
6 comentários :
Concordo! Nove em dez alunos escreveram "olfato" numa ficha. Para estes o acordo ortográfico só vai trazer benefícios.
Discordo. Acho questionável considerar que o acordo ortográfico nos beneficia só porque os alunos dão menos erros, e ainda por cima é-nos imposto por razões políticas e não por evolução natural da língua, no mínimo incomoda-me.
Acho que já vai sendo tempo de se voltar a ensinar, obrigatoriamente, estenografia, até porque o fenómeno das abreviaturas é global ou tende a sê-lo. Deste modo, os jovens teriam dois sistemas de escrita à sua disposição... Talvez só fossem capazes de aprender um, mas nesse não dariam erros.
São ideias que me passam pela cabeça!
Não me parece uma má ideia, essa da estenografia!
Olá, Maria! A minha declaração final era irónica! Eu também acho que o acordo não faz falta nenhuma. Prova disso é estar há 17 anos para entrar em vigor!
Adorei a critica ao acordo. Concordo com tudo que está escrito no texto.
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