Apresente-se, sem nódoas linguísticas!
Escrever com clareza, rigor e correção linguística é, nos dias de hoje, uma autêntica prova de esforço. E no meio empresarial, ou institucional, creio poder ser um fator decisivo na seleção de um candidato a um emprego.
Incorreções linguísticas, como “ele interviu” ou “melhor preparado”, e vícios de linguagem, como “há anos atrás” ou “tenho que enviar”, não só mancham a imagem do seu autor como podem excluir de imediato uma candidatura.
Quais são, então, os aspetos linguísticos (e formais) que devemos ter em conta quando redigimos uma carta de apresentação?
A forma de tratamento da pessoa a quem nos dirigimos deve ser, justamente, formal: “Senhor Diretor, Senhor Engenheiro, Senhor Professor”. E não nos podemos esquecer dos pontos de abreviatura, imediatamente antes do o ou do a sobrescritos: “Exm.ª Sr.ª Diretora”. O verbo, esse, deve ser sempre conjugado na 1.ª pessoa do singular, em concordância com o sujeito emissor da respetiva carta: “Venho muito respeitosamente apresentar…”.
E os tempos verbais? Bem sabemos que usamos com frequência o Presente do Indicativo com valor de futuro próximo, mas esse é um uso típico da oralidade. No código escrito, o Futuro do Indicativo é a opção mais adequada: “enviarei o certificado” em vez de “vou enviar o certificado”.
Outro aspeto característico da oralidade é o uso do Imperfeito em vez do Condicional. Em registo cuidado, devemos sempre usar este último: “aceitaria uma entrevista, caso desejasse” em vez de “aceitava”. Falar em Condicional é falar em mesóclise, i.e., a colocação do pronome pessoal no meio da forma verbal: “enviar-lhe-ia o CV” em vez de “enviaria-lhe o CV”, um dos muitos erros que, infelizmente, por aí grassam.
No domínio da ortografia, muita atenção aos acentos a mais: inclusivé, à priori, rúbrica, bem como aos acentos a menos: orgão, periodo. E atenção redobrada para os erros mais subtis – os da sintaxe – que podem não passar despercebidos ao olho mais desperto para as questões linguísticas: “vão haver, discordo com, tratam-se de, melhor classificado”, entre outros. Há ainda outras subtilezas sintáticas a ter em consideração, por exemplo, a incorreta omissão da preposição de com certos nomes abstratos: certeza de que, possibilidade de que, consciência de que. Assim, na parte final da carta de apresentação, esta regra deve ser bem observada: “Na expectativa de que esta carta merecerá a Sua melhor atenção, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos”.
Fazer um bom ou um mau uso da língua transmite, inequivocamente, uma imagem de nós, que pode ser positiva ou menos positiva…
Por conseguinte, preocupe-se não só em construir um bom CV, mas também em se apresentar com rigor e sem nódoas linguísticas!
4 comentários :
Apesar de tudo, o pior dos erros é escrever em brasileiro....
Olá Sandra. Você poderia explicar melhor o vício de linguagem "tenho que enviar". Posso estar equivocado, mas tenho a impressão de aqui no Brasil esta construção não chamaria tanto a atenção enquanto vício.
Com relação à opinião do João, entendo que, se você se candidata a uma vaga, os seus potenciais empregadores precisam rapidamente a partir da sua carta de apresentação e seu CV ter uma idéia muito clara de quem você é e da sua experiência prévia para então considerar uma futura entrevista. Se esta vaga é em Portugal, escrever a sua carta e o seu CV em português brasileiro pode complicar a comunicação efetiva dado que, por alguns termos diferentes, o seu empregador português pode não entender a sua experiência prévia. Neste caso específico, o João tem razão em dizer que não há pior coisa que escrever em "brasileiro", seja você português ou não. Contudo, se você procura uma vaga no Brasil, escrever a sua carta e o seu CV com norma lusitana tampouco será muito útil para um potencial empregador local. De fato, ajudei uma grande amiga portuguesa a re-escrever o seu CV quando buscava uma posição gerencial em grandes empresas farmacêuticas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Hoje ela está feliz em São Paulo. Mas, com o CV de antes escrito em norma lusitana, já não teria tanta certeza de que ela teria conseguido passar para a fase de entrevistas. Assim, como bem colocou a Sandra Duarte, escrever com clareza é primordial na seleção de um candidato, seja no Brasil, seja em Portugal.
Os meus melhores cumprimentos, porque os piores não são para si. Os meus cumprimentos.
Excelente!
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