30 março 2012

"Estou cidrada" ou "estou siderada"?

Quando certas palavras se pronunciam de forma idêntica ou muito semelhante, há dúvidas que podem surgir apenas no momento em que nos vemos obrigados a escrever aquilo que apenas costumamos dizer. Então, o que nos confunde são os chamados parónimos: pares de vocábulos cujo significado é perfeitamente distinto, mas que pela forma se aproximam, como descriminado / discriminado, intersecção / intercessão, caçar / cassar, despensa / dispensa, elação / ilação, entre tantos outros. 

No caso de nos sentirmos surpreendidos, perplexos, atónitos, fulminados, "esmagados" por alguma coisa que experimentamos ou testemunhamos, o que devemos escrever: que estamos cidrados ou siderados?






A grafia certa é siderados. Vem do verbo latino siderāre, cujo significado é «sofrer a influência dos astros», como refere a Infopédia (daí a afinidade com sideral, relativo ao céu ou aos astros).

A forma participial "cidrados" só poderia vir do verbo cidrar, por sua vez derivado de cidra, o fruto da cidreira. Embora exista o substantivo cidrada, que é um doce feito com cidras, o verbo cidrar não se encontra atestado. Isso não nos impede de o usarmos, se for necessário. Porém, o seu uso deve reservar-se às situações em que uma pessoa ou coisa seja porventura esmagada por uma cidra...


3 comentários :

Olga disse...

Olá,
Parabéns pelo vosso site que é muito completo e interessante. Tenho uma dúvida em relação a um texto que li, nesta frase:

"Também ficou combinado que a inscrição dos concorrentes acarretaria para cada um o pagamento de uma pequena importância - não me recorda a quantia exacta - que apenas rapazes até aos dezoito anos..."

É correcto escrever "não me recorda a quantia" ou tem de ser "não me recordo da quantia".

Obrigada pela vossa ajuda, pois após horas de pesquisa na net, não consegui nada de fiável sobre esta questão.

Boa continuação.

Olga
olgamendes555@hotmail.com

S. Leite disse...

Penso que a frase "não me recorda a quantia exacta" não pode ser considerada aceitável, uma vez que quem recorda é claramente a pessoa que fala e, por isso, o verbo deve estar conjugado na primeira pessoa (recordo + da) Sendo o verbo recordar, neste caso, pronominal, pressupõe o uso do pronome me, que está antes do verbo por causa da negativa (não me recordo); e rege a preposição de (recordamo-nos de alguma coisa).
O verbo só poderia estar na terceira pessoa (recorda), sem preposição, se o sujeito fosse, por exemplo, alguém ou alguma coisa que recordasse (fizesse lembrar) a quantia. Nesse caso, seria verbo transitivo directo e por isso dispensaria preposição. Por exemplo: "já lhe pedi que o fizesse, mas ela não me recorda a quantia exacta que eu paguei". Mesmo assim, seria um pouco forçado aqui o uso de "me", mas é admissível, tal como o podemos usar em "faz-me isso".
Serviu?

Letrário disse...

Muitos parabéns pelo blog com artigos completos e informativos.