Ainda o AO
Fernando dos Santos Neves assina um texto intitulado "Onze teses contra os inimigos do Acordo Ortográfico (II)", do qual cito este parágrafo:
«E já agora, e como a subjacente acusação dos antiacordistas é a de que o Acordo Ortográfico constitui um verdadeiro ato de traição a Portugal (o que não deixa de fazer lembrar velhas acusações e despertar velhos fantasmas...), bastaria um mínimo de lucidez para entender que é, precisamente, o Acordo Ortográfico que permitirá a continuação da existência da língua portuguesa no Brasil, etc., a qual, sem ele, inevitavelmente se tornará, a breve trecho, a "língua brasileira”, como de algum modo principiaria a ser o caso. Sem nenhuma tragédia, aliás, para a Humanidade, mas, suponho, com algum legítimo sofrimento para todos os portugueses.
»
Será preciso entender que quem é contra o Acordo (porque não vê nele nem a necessidade nem a capacidade para alcançar o objectivo que se propõe) defende, necessariamente, o "orgulhosamente sós" de eco salazarista?
É que a língua é expressão cultural e, por mais que nos chamemos irmãos, portugueses e brasileiros têm vivências culturais diferentes que se espelham na forma particular de cada povo utilizar a sua versão da língua. E cada versão segue o seu percurso, à medida que a História desenha com maior nitidez as suas idiossincrasias. Não é apenas (mas é também, e não fica resolvida com o AO) uma questão de ortografia! É uma questão de léxico, de sintaxe e afectará também a morfologia.
Não se pode impor politicamente a um povo toda uma forma de falar. E como cada vez mais (infelizmente, acho eu) a fala comanda a escrita, as diferenças aumentarão. Resta saber se nós, ao contrário dos povos que têm o inglês como língua materna, continuaremos a bater com a cabeça na parede pela teimosia de chegar a uma mítica grafia única.
5 comentários :
O que é que a ortografia (logo, esta ou qualquer uma das anteriores reformas na escrita da lingua portuguesa) tem que ver com "a fala"??!!
Por exemplo, quando, depois de 1911, deixou de se escrever "parmacia" e passou a escrever-se "farmácia", acaso houve alguma alteração na prolação da palavra???
Ou é muito ignorante quem escreve isto (num espaço supostamente de algum conhecimento linguistico) ou, então, trata-se pura desonestidade intelectual.
Pode ser-se anti-Acordo Ortográfico toda a vida (Fernando Pessoa também nunca quis deixar de escrever "parmacia" e "philosophia"...), mas ao menos argumente-se com razoabildade (mesmo que esta discussão seja totalmente a destempo e sem qualquer efeito pr´atico senão ruído de uma minoria dita intelectual que acha que o português é propriedade exclusiva deste rectângulozinho europeu).
Já gora: será que o Acordo Ortográfico é mais "calamitoso" para o país, como nos querem fazer crer os Vascos Graças Mouras e amigos do "Público", do que o garrotes da "troika" e das agências de rating? Pelo menos pelas diferentes reacções dos anti-acordistas, até parece que sim...
A ortografia tem que ver com a fala quando os acordos substituem a escrita etimológica pela chamada escrita "fonética". Por exemplo, quando passamos a escrever "ato" em vez de "acto" por não se pronunciar o c.
Mas a questão que eu propunha salientar era esta: as diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil são muitas e serão cada vez mais (à medida que a fala for influenciando a forma de escrever, em termos sintácticos, lexicais e morfológicos, não apenas ortográficos).
"(...) sem ele, inevitavelmente se tornará, a breve trecho, a "língua brasileira”, como de algum modo principiaria a ser o caso. Sem nenhuma tragédia, aliás, para a Humanidade, mas, suponho, com algum legítimo sofrimento para todos os portugueses."
Que sofrimento? Eu não sofreria absolutamente NADA. Se há o Galego, porque não o Brasileiro? Deixamos de ser quem somos, por algum acaso?!
Como foi dito neste belo texto acima, nós, brasileiros e portugueses somos diferentes.
Não dá para unificar ! Então vamos mudar as estruturas morfológicas também ? Sou brasileiro, devo preferir falar "paragem" a "parada" ?
Ora, é tão simples ! É só aceitar as formas que não são iguais. Devemos ser poliglotas em nossas próprias línguas.
Mas o tema é polêmico... ou polémico ? Já que muitos professores de português daqui não viram com bons olhos essa mudança de 2009.
E a nossa trema ? Tadinha, era tão inocente, não merecia ser morta !
Escreveu: «acho eu». Não deveria ter escrito: «penso eu»?
Vim aqui pela primeira vez. Gostei muito do vosso blog e adicionei-o aos meus favoritos.
José
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