"Deixá-los falá-los, que eles calalão-se hão-se!!"
Outra das dificuldades sentidas pelos meus alunos - relacionada com a que expus no texto anterior - é a conjugação pronominal.
Percebe-se porquê: na linguagem corrente (que é praticamente o único registo que utilizam, acima do coloquial ou familiar) substituem-se habilmente as formas verbais que dificultam a utilização de pronomes (como o Futuro do Indicativo e o Condicional) por outras, que acabaram por adquirir o mesmo valor semântico - precisamente para evitar o embaraço de hesitar, ou de usar uma combinação errada de verbo-pronome, e até para não cair na cacofonia de certas construções perfeitamente correctas mas muito mal sonantes.
Dou exemplos: dizemos "fazia-te jeito" em vez de "far-te-ia jeito", "tinha-vos dito" em vez de "ter-vos-ia dito" e "vão dizer-vos" em lugar de "dir-vo-lo-ão".
E a progressiva raridade das formas pronominalizadas do Futuro do Indicativo e do Condicional, em que os pronomes são incomodamente "entalados" entre o radical do verbo e a respectiva marca de tempo e pessoa - um verdadeiro dinossauro das línguas latinas - faz com que as gerações mais novas não as reconheçam, não saibam construí-las, nem vejam a sua utilidade.
Porém, hoje, em vez de me lamentar, resolvi deixar aqui alguns exercícios práticos, para quem queira desenferrujar (ou começar a treinar) a sua capacidade para pronominalizar os verbos conjugados.
Reescreva as formas verbais, substituindo os complementos sublinhados por pronomes, conforme o exemplo:
Ex.: Comunicarão o resultado da prova a vocês todos em breve.
Comunicar-vo-lo-ão
a) Eles dão os livros à biblioteca.
b) Fiz as colagens ontem.
c) A professora quer as respostas a azul.
d) A minha avó faz a cama ao meu irmão todos os dias.
e) Comes a sopa tão depressa, que nem a aprecias!
f) O chefe de mesa aconselhou o prato do dia à minha sogra.
g) Devolve já as bonecas à tua irmã!
h) Recomendei um livro aos alunos.
i) Daria uma guloseima a vocês os dois, se comessem a sopa.
j) Obrigada por teres trazido os livros.
13 comentários :
a) Eles os dão à biblioteca.
b) Fi-las ontem.
c) A professora as quer a azul.
d) A minha avó lha faz todos os dias.
e) Come-la tão depressa, que nem a aprecias!
f) O chefe de mesa lho aconselhou.
g) Devolve-lhas já!
h) Recomendei-lhos.
i) Daria-lhas, se comessem a sopa.
j) Obrigada por os teres trazido.
l) É melhor a deixares sossegada.
m) Trá-la lá!
a) Eles dão-nos à biblioteca.
b) Fi-las ontem.
c) A professora quere-as a azul.
d) A minha avó faz-lha todos os dias.
e) Come-la tão depressa, que nem a aprecias!
f) O chefe de mesa aconselhou-lho.
g) Devolve-lhas já!
h) Recomendei-lho.
i) Dar-lha-ia se comessem a sopa.
j) Obrigada por os teres trazido.
l) É melhor deixare-la sossegada.
m) Trá-la/Traze-a lá!
a) dá-los-ão
b) fi-las
c) quere-las
d) fá-la
e) come-la
f) aconselhou-lhe-o
g) devolve-lhe-las
h) recomendei-lhes-lo
i) dar-vos-ia
j) tê-los trazido
l) deixá-la (?)
m) trá-la
a)dão-os
b)fi-las
c)quer-las
d)faz-lha
e)come-la
f)aconselhou-lho
g)devolve-lhas
h)recomendei-lho
i)dar-vo-la-ia
j)trazer-los
l)deixar-la
m)trá-la
SOLUÇÕES:
a)dão-nos. b)Fi-las. c)quere-as*. d)faz-lha. e)Come-la. f)aconselhou-lho. g)Devolve-lhas. h) Recomendei-lho. i)Dar-vo-la-ia. j)tê-los. l)deixá-la. m)Trá-la.
*quer-las ou qué-las são formas antigas e populares.
Posso dizer que não sei utilizar corretamente a colocação pronominal no futuro do indicativo e do condicional.
Reflita: quantos brasileiros adotam a norma culta? Quantos se quer a conhecem?
Anotei algumas palavras, entre elas "dir-vo-lo-ão" porque, sinceramente, nunca a li/ ouvi em lugar algum. O que é vergonhoso para alguém que ama a língua portuguesa.
Vergonhoso por quê? Você mesma disse que desconhece essas formas, isso só pode ser porque não se utilizam. Tens vergonha de não utilizar ou desconhecer o latim? A língua é viva, portanto, algumas formas devem cair em desuso sim.
Usando como exemplo o verbo 'cortar':
'Eles cortá-lo-ão'
"Eles irão cortá-lo'
A segunda forma também está correcta.?
Sim, está correcta. É a chamada conjugação perifrástica, em que usamos um verbo auxiliar (ir, neste caso) para dizer em duas palavras (irão cortar) o que poderíamos dizer numa só (cortarão)!
Muito obrigado S.Leite.
Adoro o vosso blog! Realmente a língua portuguesa a sua complexa gramática são verdadeiros desafios.
Em relação ao 1º exemplo 'dir-vo-lo-ão'. se o 'a vocês' fosse substituido pelo 'a ti' como ficaria esta conjugação?
"Dir-to-ão", pois dá-se a contracção do pronome de complemento indirecto "te" com o pronome de complemento directo, "o".
No caso em que o pronome de complemento indirecto é "vos" ou "nos" não é possível fazer essa contracção, por isso ficamos com formas pronominais mais complicadas.
Na norma culta das variantes europeia e brasileira da língua portuguesa, "vos" não retoma "vocês", mas apenas "vós": em ambas, portanto, a resposta correta à letra "i" seria "dar-lho-ia", não "dar-vo-lo-ia".
É claro que, ao menos no Brasil, isso só vale para a escrita, pois os brasileiros diriam, independentemente do nível de escolaridade, "eu daria ela [a guloseima] pra vocês", ou, dependendo da região e do nível sociocultural, "eu daria ela pr'ocês" ou "eu daria ela pra ti".
No último exemplo, "ti" poderia, dependendo também da região, associar-se a "você", exatamente da mesma forma que, em Portugal, "vos" se relaciona a "vocês".
Os gramáticos brasileiros tradicionalistas vivem corrigindo os alunos quando dizem algo como "VOCÊ leu o livro que eu TE dei?", mas poucos, se é que algum, lembram que se poderia dizer, em Portugal,"VOCÊS leram o livro que VOS dei?", sem que quase ninguém acusasse o erro.
A propósito, causa-me certo espanto que o AO seja visto, em Portugal, como uma imposição das editoras brasileiras, porque, como o exemplo supracitado demonstra, a variante europeia é tida pelos tradicionalistas como norma padrão, mujo embora nenhum dos 200 milhões de brasileiros a use ao falar ou ao escrever, independentemente do nível educacional; eu mesmo não consigo iniciar uma frase escrita com pronome oblíquo, porque estudei por gramáticas ortodoxas, que tomam por referência autores portugueses e brasileiros do século XIX, embora jamais me ocorresse dizer "Dê-me um café" em vez de "Me dá um café".
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