20 junho 2007

“Do” ou “de o”?

Será mais um preciosismo, mais uma batalha garantidamente perdida?

A verdade é que há uma diferença entre contrair ou não contrair preposições como a, de, por e determinantes ou pronomes como o, a, ele, ela, este, isto, etc.

A diferença reside no facto (e aqui já temos uma frase exemplificativa) de o referido determinante ou pronome ser ou não o sujeito de uma oração infinitiva. No caso da frase anterior, por exemplo, temos um verbo no Infinitivo (“ser”) cujo sujeito é “o referido determinante”. É por isso que seria incorrecto escrever: *“a diferença reside no facto do determinante ser ou não sujeito”. É como se a separação entre de e o servisse precisamente para evidenciar, a priori, a importância do determinante o enquanto sujeito da oração seguinte, para avisar os leitores de que a frase não acaba ali.

Se após o determinante ou pronome não houver nenhum verbo no Infinitivo, então já é recomendável contraí-lo com a preposição anterior. Por exemplo aqui: “Achei óptima a ideia dele.” (Em vez de: *“Achei óptima a ideia de ele.”). E até poderia haver uma oração a seguir, desde que ele não fosse o respectivo sujeito. Por hipótese: “Achei óptima a ideia dele, embora me parecesse um pouco ousada.”

Admito que esta regra cada vez é mais ignorada, até por pessoas que escrevem bem. Mas isso, como sabem, não é argumento que nos detenha. Se fosse, nem valeria a pena continuar este blogue!

7 comentários :

Anónimo disse...

E este é dedicado a mim. Esta dica vou imprimir e levar a uns amigos meus que nem sabiam que existia "de o".

Espero que, apesar do Verão e das férias, não parem de escrever post´s como estes...APESAR DO 11 esforço-me por aprender

Anónimo disse...

Realmente eu aprendi isso este ano mas sinceramente ainda tenho alguma dificuldade em aplicar :| beijinho

Maria disse...

Nunca tinha procurado saber a explicação do uso, ou não, das referidas contracções mas é sempre bom saber. Acho até q vou lê-la de novo. Acontece-me por vezes ter essa dúvida quando escrevo e nessas alturas "vou pelo ouvido". Há coisas q não soam nada bem (pelo menos a mim).
Um abraço.

S. Leite disse...

O problema é que esta é uma das regras que passam despercebidas na oralidade: quando ouvimos alguém falar, não sabemos ao certo se escreveria correctamente este tipo de frases ou não!

G. Bruno disse...

O que me está a parecer é que hoje em dia se começou a abusar do uso de: de o, sem necessidade, em vez de se escrever "do".

Ricardo Kurtz disse...

E no seguinte exemplo, como faríamos: Lembrei-me dele brincando ou de ele brincando?

S. Leite disse...

É uma excelente pergunta! "Lembrei-me dele brincando" seria a opção mais coerente, tendo em conta a regra enunciada no texto, uma ver que brincando é gerúndio e não infinitivo.
No entanto, a oração infinitiva cujo predicado é "brincando" tem como sujeito ele, portanto seria lógico sustentar que se aplica uma regra semelhante: em "lembrei-me de ele brincando" a ausência de crase entre "de" e "ele" evidencia que "ele" é o sujeito de "brincando". Quando escrevemos "lembrei-me dele brincando", aliás, há a possibilidade de se gerar ambiguidade com outro sentido: o de eu me ter lembrado dele enquanto (eu) brincava.