"Quem Tem Medo do Acordo Ortográfico?"
O título acima foi o que demos a uma comunicação que fomos fazer ontem à Escola Básica 2 3 D. Pedro IV, em Queluz.
A pedido da responsável pela organização do evento anual Semana da Leitura, o tema foi o do Acordo Ortográfico. E como a turma que iria assistir à nossa apresentação já tinha aprendido, com a professora de Português, quais são as mudanças implicadas, optámos por levar-lhes alguns exercícios que suscitassem dúvidas e os nossos esclarecimentos.
A sessão correu bem, os meninos e meninas do 5.º ano estiveram extremamente atentos e foram muito participativos. As perplexidades foram surgindo e os porquês começaram a fazer-se ouvir. A cada regra que enunciávamos, para a eliminação de acentos ou para a utilização do hífen, surgia, de imediato, a excepção evidente e desconcertante. No final, e propositadamente, mostrámos-lhes um texto escrito numa grafia pós-acordo que, em vez de ser una e inequívoca, era escandalosamente mista e incompatível: uma "salada" de português europeu e português do Brasil. A ideia era que percebessem que, apesar de tudo, o Acordo não nos obriga a nós a escrever "brasileiro" nem aos brasileiros a escrever conforme a grafia de Portugal. A certa altura, uma professora pergunta: «então se eu escrever "perspectiva" estarei a cometer um erro ou não?». Explicámos que em Portugal perspectiva não é aconselhado, ao passo que no Brasil é a grafia certa, pois lá pronuncia-se o [k] antes do t. «E se eu estiver no meio do Atlântico?», brincou ela.
E eu tive vontade de nunca mais me dispor a prestar esclarecimentos sobre um absurdo.
5 comentários :
Sou bacharel em direito e confesso que apesar de todos os meus esforços até hoje não consegui aprender, agora com essa mudança a vaca foi para o brejo de vez! rsrsrsrs.. Abs e parabéns pelo excelente trabalho de vocês.
Gostaria de seguir o blog, mas não encontrei como me cadastrar.
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Sobre o texto ""Quem Tem Medo do Acordo Ortográfico?"" ,D'Silvas Filho comenta
Peço o favor de transmitir à autoria deste texto, a seguinte
observação minha que pode ser publicada se o entender.
O vocábullo "perspectiva" está abonado para Portugal pelo VOP do ILTEC e aconselhado por mim na 6.ª edição do meu «Prontuário» como variante,apresentando a vantagem de unificação da língua.
Seguir, no AO, taxativa e exclusivamente o critério fonético em Portugal elimina desnecessariamente muitas consoantes etimológicas
úteis no português europeu.
Não será só a meio do Atlântico que as grafias brasileiras serão
válidas também em Portugal. Num Vocabulário Comum, todos os vocábulos serão legais no universo da língua. É esse o espírito do 4.4 da Nota Explicativa e a justificação do AO de 1990.
Um critério fonético estrito, não só continua a dividir a língua
Portugla-Brasil, e agora em termos nos quais não havia antes essa divisão, mas corre o risco de proliferação de línguas diferentes nesse universo.
É prudente não se fazerem agora afirmações conclusivas enquanto não ficar estabelecido o conteúdo e os critérios de aplicação desse Vocabulário Comum.
D' Silvas Filho
Agradeço o comentário de D'Silvas Filho. Porém, não posso deixar de ter reservas quanto a essa unificação forçada do uso da ortografia, que inevitavelmente, porque as mudaças impostas se prendem com o uso fonético, deixa falantes descontentes, de ambos os lados do oceano. Se o Vocabulário Comum ainda não existe e era reconhecido como condição fundamental para aplicar o AO, então o AO não deveria ter entrado em vigor enquanto o VC não existisse.
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