15 novembro 2020

Ele foi júri ou foi jurado?

 "Gostaria muito que fosses júri da minha prova"... "Já fui júri num concurso"...

Este tipo de frase ouve-se com alguma frequência e todos percebemos a ideia: que as pessoas em causa fazem parte de um júri.

No entanto, a palavra júri designa um conjunto de pessoas que julgam uma causa (num tribunal), ou que avaliam o mérito de um desempenho, trabalho, obra, etc. (num concurso ou numa prova de avaliação). Logo, uma dessas pessoas não constitui o júri, apenas faz parte desse júri.

 Portanto, quando nos referirmos a alguém que faz parte de um júri, devemos dizer que é um jurado (que significa "membro de um júri")Em alternativa, naturalmente, podemos dizer que essa pessoa integra o júri, ou faz parte do júri, mas nunca devemos dizer que alguém é, foi ou será "júri".

08 novembro 2020

Estasiado ou extasiado?

 Para quem pensava que só existia uma palavra e, por conseguinte, uma grafia possível, aqui fica o esclarecimento:

estasiado - segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa «que tem muita sede, sedento, sequioso», mas também «ressequido, seco». O exemplo que este dicionário fornece é "solo estasiado". A origem desta palavra, ao que parece, é obscura. (Aliás, pode gerar confusão a ideia de que este adjetivo tem relação com o nome estase, de origem grega, cujo sentido se prende com a fixidez - com o que é estático - e com o ato de pôr de pé). 

extasiado - este adjetivo, por seu turno, consiste no particípio passado do verbo extasiar e significa «que se extasiou, enlevado, arrebatado, encantado». Morfologicamente, é composto pelo nome êxtase, pelo sufixo verbal -ar e pelo sufixo flexional -do.

Portanto, o rapazinho da foto ficou extasiado quando viu o bolo de aniversário que a mãe fez para ele. E, como ele não quis que ninguém o comesse, para que não fosse destruído, o bolo acabou por ficar estasiado, ao fim de uns meses... 😅

13 agosto 2020

Bem disposto ou bem-disposto?


 A diferença entre usar e não usar hífen é subtil, mas existe.

O dicionário recomenda que se use bem-disposto como adjetivo, para caracterizar alguém que é prazenteiro, ou que está alegre, bem-humorado (por exemplo na frase «Ele está sempre bem-disposto»).  Nestes contextos, o termo composto pode ser substituído por outro adjetivo com o mesmo significado, como alegre ou divertido.

Porém, o dicionário nada nos diz sobre o eventual uso da locução "bem disposto", pois aí temos já duas palavras, em vez de um vocábulo formado por composição. Para vos elucidar, digo-vos eu o seguinte:

Podemos formar frases corretas em que estas duas palavras surgem seguidas. Basta que utilizemos o advérbio bem para reforçar a ideia da disposição (ou o grau de disposição) patente no adjetivo disposto. Por exemplo, na frase «Ele parece bem disposto a fazer isso!». Note-se como, aqui, o adjetivo pede algo mais, pois rege preposição a, seguida de um verbo (como fazer).

Neste caso, podemos substituir a palavra bem por outro advérbio («Ele parece muito disposto a fazer isso!», «Ele parece extremamente disposto a fazer isso!»). Na primeira frase, essa substituição seria estranha, pois tornaria a frase incompleta. Se dissermos "Ele está sempre muito disposto», os nossos interlocutores quererão saber "A quê?".


Portanto, se o que pretendemos é qualificar uma pessoa de divertida, prazenteira, bem-disposta, o hífen é essencial na escrita.


22 julho 2020

Evitar estrangeirismos desnecessários


    Julgo que é consensual a ideia de que falar e escrever bem em português significa, entre outras coisas, não abusar de palavras estrangeiras.
    Se somos capazes de traduzir essas palavras e se os termos correspondentes, em português, são simples e fáceis de interpretar, optar por usar os estrangeirismos pode ser considerado um sinal de preguiça, de pedantismo ou de desconsideração pelo idioma nativo.
    Há casos, é verdade, em que se torna mais natural e acessível usar a palavra estrangeira, porque é aquela que toda a gente conhece e usa. Isso justifica-se sobretudo quando não existe um só vocábulo que tenha exatamente o mesmo sentido em português. Eis alguns exemplos:

cocktail – cacharolete (alguém saberia o que isto significa?!)
e-mail – mensagem de correio eletrónico (demasiado comprido!)
marketing – divulgação ou promoção de produtos (ninguém vai perceber)
pen – dispositivo USB (um tanto ambíguo...)
t-shirt – camisola de mangas curtas (pois... mas há tantas de feitios diferentes!)
selfie – autorretrato tirado com um telemóvel (se dissermos isto, parece brincadeira!)
take-away – venda de produtos para levar (demasiado complicado!)
very-light – foguete de pistola (demasiado estranho!)

    No entanto, há muitas situações em que preferir o termo inglês ou francês é desnecessário e até desprestigiante. Se o fazemos apenas porque o estrangeirismo soa melhor, por ignorância ou por preguiça, mais vale traduzir! Se quiserem fazer esse pequeno esforço, deixo-vos aqui uma lista com estrangeirismos que desaconselho e os respetivos equivalentes em português. Sei que, em alguns casos, é uma questão de boa vontade. Mas a língua portuguesa merece, não acham?

alien – ET, extraterrestre
expert – especialista, perito
fazer download – transferir
fazer delete – apagar
fazer um scan – digitalizar
pack – conjunto, pacote
password – senha, código
performance – desempenho, prestação
set – conjunto
show – espetáculo
template – modelo, minuta, guião, formulário
top – fantástico, excelente, cinco estrelas
username – nome de utilizador
workshop – oficina, curso prático