Você quem é?!
Na publicidade e nos programas de rádio, todos nós somos “você”. Você sabe, você escolhe, você para cá, você para lá.
Porém, apesar de se ter generalizado, essa forma de tratamento gera reacções, no mínimo, controversas. Por uns é considerada uma forma respeitosa, já que é proveniente de vossa mercê, depois contraída na versão vocemessê e, posteriormente, abreviada para você. Por outros é mal aceite, sendo encarada como uma falta de respeito para com a pessoa desconhecida que se pretende interpelar. Para esses, você implica demasiada confiança e deveria ser substituído por “o senhor” ou “a senhora”.
Seja como for, a verdade é que esta forma de tratamento gera algumas dificuldades aos falantes de língua portuguesa. Para começar, nem sequer é uma das seis pessoas que podem ditar a flexão dos verbos (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles).
A sua utilização obriga a uma combinação estranha entre tu, vós - porque vocês, tal como tu e vós, corresponde à pessoa a quem se fala - e ele/ela(s) - porque a flexão dos verbos, quando a pessoa é você(s), se faz de acordo com a terceira pessoa. Assim, dizemos “você está óptimo” e “vocês sabem muito”, e não *“você estás óptimo”, nem *“vocês sabeis muito”. Aliás, talvez tenha sido precisamente por causa da formalidade (e da dificuldade) das flexões da pessoa vós (estais, estiverdes, estivestes...) que se generalizou o uso, bem mais simples, de você (está, estiver, esteve), quando não queremos ou podemos tratar o nosso interlocutor por tu.
No entanto, você (pronome tónico) também não é assim tão fácil, sobretudo no que toca à pronominalização dos verbos – isto é, quando implica escolher o respectivo pronome átono. Por exemplo, muita gente hesita entre dizer “vou contar-vos uma história, se vocês se calarem” ou “vou contar-lhes uma história”.
Já agora... o que é que VOCÊS diriam?! (Perdoem-me a confiança!...)