29 maio 2009

“We are portuguise but we likes Inglish very muche!”



Há uma empresa que, no respectivo portal na Internet, se diz “cem por cento portuguesa”, intitulando-se “Broker de serviços”. Afirma que a sua equipa tem “elevado know-how”, faz “tratamento de mailing”, “impressão de newsletters e flyers”, e também “drop-mail”. Oferece ainda serviços de “design”, “webdesign” e “re-design”. Tem especialistas em áreas como “news” e “lifestyle” e oferece-se para “produzir o seu título, dirigido ao mercado geral ou especificamente ao target da sua empresa”, nomeadamente através de “custom publishing”.

Vai ao ponto de desenvolver “sites com base em serviços especializados de webdesigner´s e webengenier´s [sic]”. Transforma “conteúdos em webcontends [sic]” e, finalmente, produz “meios e técnicas de marketing”, e “divulgação de produtos e serviços na Internet, tais como white paper´s [sic], newsletters, banner [sic], entre outros”.

Quer isto dizer que as pessoas responsáveis por essa empresa tão portuguesa, além de abusarem de anglicismos, nem sabem escrever alguns deles. Shame on them!

27 maio 2009

Ciclo vicioso ou círculo vicioso?

A expressão correcta é círculo vicioso.
De acordo com alguns dicionários, esta expressão designa uma sucessão, geralmente ininterrupta, de acontecimentos que se repetem e voltam sempre ao ponto de origem, colidindo sempre com o mesmo obstáculo.
Na doutrina de Aristóteles, esta expressão designa uma falha lógica que consiste em alcançar dedutivamente uma proposição por meio de outra que, por sua vez, não pode ser demonstrada senão através da primeira.
Por conseguinte, faz todo o sentido que a expressão seja círculo, uma vez que as situações se vão repetindo sucessivamente, provocando um impasse, isto é, A dá origem a B e, por sua vez, B dá novamente origem a A. Assim, não se sai do círculo!
A palavra ciclo, por sua vez, designa uma sucessão de fenómenos sistematicamente reproduzidos em períodos regulares.

26 maio 2009

Teatro amador só de nome


Quem puder ir a Vila Franca de Xira na próxima sexta-feira, dia 29 de Maio, não deve perder a actuação do Grupo O 18 Teatro, no Ateneu, às 21.30 h. A peça intitula-se “As duas cartas” e é baseada na obra homónima de Júlio Dinis (a adaptação é de Isilda Paulo).

Embora todas as personagens sejam uma delícia de ver e ouvir, a que mais me encantou foi o modesto João de Sousa, de origem humilde mas modos muito distintos, que tão naturalmente nos transporta para o século XIX através da forma como se exprime. Todos usam, claro, palavras e construções que não são de hoje e que adivinhamos estarem, se não iguais, pelo menos muito próximas das do texto dramático do autor, sendo a mais óbvia de todas a interjeição “cáspite”. Mas no caso dele, não há deslizes momentâneos para o vocabulário de hoje, para um tom mais contemporâneo. Há sempre aquela classe, aquela serenidade que vem de tempos mais formais e que, ironicamente, a personagem pobre exibe com maior naturalidade – como que dando a entender que a nobreza da alma (que se revela também no discurso) não depende da nobreza de linhagem e muito menos da falsa nobreza conseguida por meio do dinheiro.

Trata-se de uma excelente adaptação do texto, encenação e actuação. Vale a pena ir apreciar o trabalho deste grupo de "curiosos" e faz pena saber que tem tido pouca divulgação, porque merece muito mais espectadores! Ainda por cima, o espectáculo é gratuito.




23 maio 2009

Saudoso vocabulário dos anos oitenta

Os anos oitenta foram únicos e deixaram muita saudade em todos nós, trintões.

Não só pelas tardes passadas na rua a conversar com os amigos ao vivo e a cores (agora "chata-se" na net ou "essiemiessa-se", neologismos que acabo de inventar e que espero que se percebam...), não só pelas horas a construir cenários de florestas, circos e savanas com kalkitos, não só pela música, cuja qualidade fica comprovada pelo insistente revivalismo que hoje causa, não só pelas cartas e pelos postais em papel verdadeiro que se enviavam e recebiam, não apenas pelas colecções de latas de Coca-cola vindas de vários países que decoravam as prateleiras dos nossos quartos, mas também pelas palavras que se diziam e que quase se extinguiram, na voragem do tempo, desprezadas pelos anos 90 e praticamente apagadas das nossas memórias em pleno século XXI.
Estou a falar das coisas escanifobéticas (ou escaganifobéticas), dos melões que se apanhavam, ou dos galos, o que era o mesmo, da paia que se tinha às vezes, de quando percebíamos que uma história que alguém contava era groupe e de outros termos do nosso inocente calão juvenil, que agora quase me fazem vir lágrimas aos olhos.
Não são saudades do calão por si só, naturalmente. São saudades do tempo em que essas palavras andavam na minha boca, misturadas com o sabor de uma alegre e despreocupada juventude.

20 maio 2009

Jogo da Língua

Para quem não saiba, a Antena 1 convida os ouvintes, todos os dias, às 06.20 e às 14.40 (excepto aos fins-de-semana), a participarem num curto programa sobre língua portuguesa em que a minha colega e co-autora deste blogue, S. Duarte, presta esclarecimentos sobre dúvidas frequentes.

Talvez já devesse ter feito aqui esta referência, pois há mais de 8 meses (tanto???) ela é a responsável pelo conteúdo do programa, que interessará, julgo eu, a todos os leitores deste blogue. Por isso mesmo, peço desculpa aos visitantes e, claro, à S. Duarte ;).
A verdade é que não sei se me fica mal ou bem fazer neste blogue um elogio ao trabalho da sua co-autora. Mas também não importa! O que importa é salientar que vale a pena ouvir as suas claras e úteis explicações.

14 maio 2009

Ai... o i com som de "ai"!


Em inglês, uma das realizações fonéticas que a letra i pode ter é o ditongo [ai]. Isto acontece em I, mice, time, kite e muitas outras palavras.
Em português, porém, o i nunca tem este som.

...ou nunca tinha, porque, com a entrada de palavras inglesas no nosso léxico, parece que nos andamos a habituar aos "ais". Os estrangeirismos estão na moda e andam na boca de muita gente. A toda a hora se ouve falar em "táimingues" para cumprir, que é para não falhar os "dedelaines", em "saites" na Internet, em "baites" de memória, em "aicebergues" a derreter, enfim, anda meio Portugal aos ais. Até dá dó!
E o outro meio?
O outro meio, se vir escritas estas palavras, se por acaso se deparar com timings, com deadlines, com sites, com bites e com icebergues provavelmente irá pensar que aquela metade anda mesmo com dores. E depois perguntar-se-á o que são, afinal, os "timingues", os "deadelines", os "sites" e os "bites". Os "aicebergues" é que, como já cá andam há mais tempo, não causam estranheza. Mas deviam! Porque o aportuguesamento da palavra só se fez em parte. Se mudámos o fim (de iceberg para icebergue), por que razão não mudámos também o início?!

13 maio 2009

VOU ao Torneio ou VOO ao Torneio?!



Perdoem-nos pela falta de artigos, mas amanhã é o dia do Torneio ISEC de Língua Portuguesa e temos estado, como calculam, a preparar as provas e a organizar o evento.


Desejamos muito boa sorte aos concorrentes e deixamos-lhes (sim, deixamos-lhes e não "deixamo-lhes"!), desde já, o nosso agradecimento sincero por participarem, pois sem eles não seria possível concretizar a 5ª edição do Torneio.


Quanto ao prémio, os vencedores terão a oportunidade de dar um passeio num avião da Gestair Flying Academy... esperamos que gostem da experiência!

07 maio 2009

UMA TURMA QUE PROMETE!

Hoje fomos à Escola D. Pedro IV, em Queluz, conversar com uma turma do 5º ano do ensino básico sobre dúvidas e erros de português, um encontro inserido na Semana da Leitura, organizada anualmente pela instituição.
Ficámos muito bem impressionadas com o entusiasmo dos alunos, que demonstraram grande vontade de participar na actividade que lhes propusemos e de responder às perguntas e desafios que lhes lançámos; e agradavelmente surpreendidas ao verificarmos que eles sabiam corrigir a maior parte dos erros que lhes mostrámos em diversas imagens, muitas das quais temos divulgado neste blogue.
Aqui ficam, portanto, os nossos parabéns aos alunos e às suas professoras de Português pelo bom trabalho que têm feito!
Aproveitamos para divulgar o blogue da Biblioteca da Escola (com uma excelente lista de ligações para páginas de interesse) e para desejar muito sucesso à Cyberteca!

05 maio 2009

Mal-estar ou mau-estar?

Quando sentimos uma indisposição ou um incómodo, devemos dizer que sentimos um mal-estar ou um mau-estar?
Por hipótese, a palavra estar poderia coocorrer com o adjectivo mau, uma vez que é, neste composto, um nome, formado por conversão a partir do verbo estar.
Porém, a expressão consagrada pelos dicionários é mal-estar, palavra composta pelo advérbio mal e pelo nome estar, que ainda conserva traços verbais (ou seja, invertendo os elementos, teríamos: «estar mal»).
Mas há um argumento ainda mais forte! Reparem que a expressão oposta é bem-estar e não bom-estar!