Beijos, beijinhos e bjs
É engraçado reparar na forma como os beijos se infiltraram na nossa linguagem quotidiana, a tal ponto que o substantivo parece ter dado origem a uma interjeição, se não nas gramáticas e dicionários, pelo menos na nossa cabeça. Quais são os portuguses que, hoje em dia, conseguem evitar despedir-se de alguém íntimo (de preferência) sem exclamar «Beijinhos!», que é como quem diz «Adeus!» de modo mais afectuoso e menos dramático? Poucos, certamente, sobretudo se considerarmos as gerações mais novas.
Na oralidade, portanto, os beijinhos estão a ganhar terreno em relação aos tradicionais "adeuses" e aos cada vez menos (?) populares "tchaus", "txaus" ou "ciaos". Nos beijinhos que se escrevem, proliferam as variantes mais ou menos personalizadas: "beijinhos", "beijos", "jinhos", "jocas", "jokas" e, inevitavelmente, usam-se as reduções para SMS, "bjs" e "bjks", para não falar das onomatopeias, como "chuaks", e dos sinais mais ou menos crípticos que representam os ósculos, como "xxx". Depois existem as contradições como os "beijinhos grandes", que os puristas aproveitam sempre para corrigir.
Em qualquer caso, no meu entender, temos uma nova interjeição na língua portuguesa. Trata-se de uma palavra usada como expressão de um sentimento ou reacção, que condensa em si toda uma ideia e por isso é usada como holofrase, isto é, essa única palavra vale como todo um enunciado. É como quem diz: «então até logo, ou até outro dia, vou-me embora!». E a pessoa vira as costas, desliga o telefone ou envia a mensagem, depois de ter dito a palavra mágica da despedida, que de certo modo acaba esvaziada do seu sentido. Porque tendemos a dizer «beijinhos!» quando não temos a intenção de os dar.