Infligir e não "inflingir"
Provavelmente, é mais um caso de contaminação fonética, pois o núcleo da primeira sílaba é constituído por uma vogal nasal ([ ĩ ]), o que leva muitos falantes a nasalisarem, por influência do contexto, a vogal da sílaba seguinte. Esta é, então, pronunciada como [ f l ĩ ] em vez de [ f l i ], à semelhança do que sucede com insosso, que tanta gente diz "insonso". Para mais, existe a palavra (parónima) infringir (que no entanto significa algo diferente: "quebrar, trangredir, violar uma regra"), essa sim com duas vogais nasais seguidas, o que pode causar alguma confusão entre as duas.
Fica, então, a advertência, a lembrança ou o alerta: infligir é que está certo, "inflingir" está errado!
* Por cá, está longe de terminar a polémica a propósito da gaffe de António Costa, que hoje é destaque na imprensa nacional (capa do i, do DN, do Público). Destaco as opiniões, à esquerda e à direita, de Daniel Oliveira e Henrique Raposo, no Expresso Diário. Se é certo que a direita está a usar o caso o mais que pode para inflingir danos aos socialistas, não o é menos que o próprio Costa quanto mais se tenta desenvencilhar do nó que criou, mais enleado parece ficar. Ele diz que está perplexo. Nós percebemo-lo. Também estamos. (Martim Silva, "Expresso Curto", 27/02/2015, acessível em https://www.facebook.com/jornalexpresso)