14 maio 2023

A grafia de lilás e lilases


O nome lilás vem do árabe lilak, que significa «azulado». Chegou até nós por via da língua francesa, através da palavra lilas. Em português, escreve-se com s, portanto. 

O plural é lilases, sem acento agudo, pois deixa de ser necessário marcar a vogal tónica, como acontece no singular. Isto porque se acentuam graficamente, em português, as palavras agudas (com tónica na última sílaba) terminadas em -a(s), mas não as palavras graves (com tónica na penúltima sílaba) terminadas em -e(s). Estas regras ortográficas aplicam-se igualmente ao adjetivo que designa algo de cor arroxeada, entre o rosa e o violeta.

Assim, escreva-se, sempre:

singular - lilás

plural - lilases



05 maio 2023

Dia Mundial da Língua Portuguesa

 


Para assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, apresento-vos os livros que já escrevi sobre o nosso idioma. Foram publicados em Portugal pela Editorial Verbo, pela Editora Planeta e pela Presença / Manuscrito.

18 abril 2023

Proposital ou propositado? E o verbo "reticenciar" existe?

Já vos aconteceu isto?

Por vezes, ouço usar (ou leio) certas palavras e sou levada a desconfiar da sua existência nos dicionários. Parece-me que a pessoa que a empregou tomou a liberdade de a inventar, por ser a primeira vez que deparo com esse vocábulo. Creio que a estranheza que me provoca advém do facto, contraditório, de essa palavra estar bem formada e, ao mesmo tempo, ter um aspeto ou uma sonoridade algo bizarra. Hoje aconteceu-me isso, ao deparar com o termo "proposital" no trabalho de uma aluna. Estive quase para o corrigir, propondo antes propositado. Porém, como essa aluna é brasileira, decidi verificar primeiro se aquele (para mim insólito) adjetivo, formado como "intencional", estaria dicionarizado. Já aprendi que o português do Brasil é suficientemente diferente do português europeu para ser sempre recomendável fazer essa verificação. E proposital é, realmente, um adjetivo legítimo no português brasileiro. Aquele teria sido o único senão num texto que, de resto, estava perfeito. Afinal, não tinha nem esse senão. Nota 20 para o trabalho!

Prossegui com as minhas tarefas e, daí a pouco, estava a ouvir a gravação de uma entrevista que tinha feito a um contador de histórias. A dado momento, ele referiu-se à forma particular de narrar de outro contador, explicando que ele "reticenciava" as frases. Surgiu-me, portanto, a dúvida: ao transcrever aquela intervenção, eu deveria usar aspas, por se tratar de um neologismo, ou grafar a palavra normalmente? Abri novamente a página da Infopédia e confirmei: o verbo "reticenciar" também está dicionarizado!

Gosto que isto me aconteça. É uma surpresa agradável, que me permite ampliar o conhecimento lexical, sendo também um alerta para a importância de dar aos outros, sejam quem forem, o benefício da dúvida.





12 fevereiro 2023

Luísa Ducla Soares é uma daquelas pessoas que dispensa ou dispensam apresentações?

 


Luísa Ducla Soares é uma daquelas pessoas que ___ apresentações.

Que opção escolheriam para completar a frase acima?

a) dispensa     b) dispensam


Creio que algumas pessoas tendem a escolher a opção a), confiando que o singular é mais adequado, tendo em conta que o sujeito mais importante da frase é Luísa Ducla Soares, correspondente à 3.ª pessoa do singular.

No entanto, quando queremos caracterizar uma pessoa, coisa ou situação, associando-a a um grupo de outras que têm as mesmas características, dizendo que é “daqueles” ou “daquelas que”..., o verbo que se segue tem de estar sempre no plural.

O predicado, efetivamente, concorda com o sujeito. Mas o verbo usado a seguir à palavra que tem de estar no plural, por concordância com a expressão que está antes - “daquelas pessoas” - uma vez que o pronome que representa esse sujeito plural: Daquelas pessoas que não precisam de apresentações, Luísa Ducla Soares é uma (delas).

Ao fazermos esta inversão de constituintes na ordem da frase, percebemos que nela existem duas orações, cada qual com o seu sujeito e o seu predicado:

1. Luísa Ducla Soares é uma daquelas pessoas - oração subordinante (principal), com um sujeito singular (Luísa Ducla Soares).

2. que não precisam de apresentações - oração subordinada adjetiva relativa restritiva, introduzida pelo pronome relativo que (sujeito plural, pois representa a expressão "daquelas pessoas", presente na oração anterior).

Portanto, mesmo que estejamos a falar de uma só pessoa, coisa ou situação, se optarmos por dizer que é daqueles que... ou daquelas que..., temos de conjugar o verbo plural: fazem, dizem, merecem, trabalham, etc.

Se queremos, realmente, destacar o caráter único de tal sujeito, então devemos usar uma construção mais simples, na qual o pronome que se refira a essa pessoa, para que o verbo possa estar no singular: Luísa Ducla Soares é uma pessoa que dispensa apresentações.

Espero não ser uma das pessoas que contribuem para vos confundir!