"Ó" não é o mesmo que "oh"!
Já
aqui falámos sobre a diferença entre "oh" e "ó", num breve esclarecimento publicado
em 2007.
«Ó que feliz ia o
menino!»
(Saramago, 2016, p. 17)
Não existirão dúvidas quanto ao
facto de que, aqui, a exclamação expressa alegria, admiração, encantamento,
emoção positiva. Portanto, a palavrinha em causa deveria estar escrita com h e sem acento agudo: oh. Só faria sentido empregar ó se
houvesse um chamamento, uma invocação. Ora, o narrador está apenas a expressar
o que sente, não está a dirigir-se a ninguém. Assim, a grafia correta é:
Oh,
que feliz ia o menino!
ou
Oh!
Que feliz ia o menino!
Note-se que, após proferirmos a
interjeição oh, fazemos
naturalmente uma pausa, pelo que se recomenda o uso de pontuação logo a seguir:
vírgula, ponto de exclamação ou mesmo reticências. Neste último caso, a exclamação terá um tom mais arrastado,
por expressar um sentimento de melancolia, desilusão ou tristeza. Isso não se
aplica neste contexto, mas as reticências poderiam, por exemplo, ser usadas aqui:
Oh… Já não fui a tempo!
Voltando à frase de A Maior Flor do Mundo… Terá sido erro do
autor ou dos revisores e editores?
Não sabemos. Nem importa. Seja
como for, todos temos direito ao equívoco, ao engano, ao erro – pessoas comuns e
conhecidas, escritores pequenos e grandes, autores anónimos ou consagrados. O
que importa é estarmos dispostos a identificá-lo e a corrigi-lo.
Referência: José Saramago, A Maior
Flor do Mundo. Porto: Porto Editora, 2016. [O texto foi publicado pela
primeira vez em 2001, pela editorial Caminho]
Imagem retirada da página WOOK, onde o livro pode ser encomendado: https://www.wook.pt/livro/a-maior-flor-do-mundo-jose-saramago/16467570