Naturalmente, este esclarecimento teria surgido mais cedo, se eu me tivesse apercebido da publicação desta notícia no dia 6 de Março. Só ontem soube que fui apelidada de "linguista", o que, como todos poderão constatar ao verificar o meu perfil, não corresponde à realidade.
É preciso dizer que o jornalista teve o cuidado de me telefonar, após a nossa breve conversa no fim da apresentação que fizemos na Expolíngua, para me perguntar precisamente se eu poderia ser considerada uma linguista. Expliquei-lhe que não seria rigoroso, embora pudesse ser um termo útil para se referir às duas - a mim e à minha colega S. Duarte. No entanto, sou referida na notícia, isoladamente, como linguista, coisa que eu não esperava e penso que não faz sentido. Sou apenas uma professora de Língua Portuguesa, mais nada.
Por outro lado, o artigo centra-se numa posição radical contra o Acordo Ortográfico que terei assumido durante a apresentação na Expolíngua. Quando o li, fiquei um tanto chocada, porque ainda que eu tenha realmente proferido aquelas palavras, lê-las assim descontextualizadas não permite supor que eu também poderia falar a favor do Acordo. Porque considero que, como tudo, o Acordo tem vantagens e desvantagens.
Finalmente, a minha afirmação "politicamente incorrecta" de que no Brasil se fala outra língua pode ofender muita gente, inclusivamente aqueles que lêem este blogue. Quanto a isso, só posso explicar que, para mim, se trata de um fenómeno muito natural e comparável ao que sucedeu na Península Ibérica com o Latim: se nesta região os diferentes povos, com as suas culturas distintas, deram origem a línguas diversas, todas elas derivadas da mesma, como não aceitar que entre o português do Brasil e o que se fala em Portugal as divergências crescentes não dêem, também, origem a falares distintos, com prosódia, léxico e gramáticas próprias?
E, nesse sentido, preciso ainda de acrescentar o seguinte: este blogue é sobre a língua portuguesa que se fala em Portugal. Não por qualquer espécie de "embirração", longe de nós, mas simplesmente devido à nossa quase total ignorância sobre a(s) variante(s) que se falam e escrevem no Brasil. Seria tão absurdo pretender que os nossos esclarecimentos fossem válidos para os Brasileiros como para os Galegos. Daqui os saudamos, a uns e a outros, com respeito e com pena de não lhes podermos ser úteis.