30 abril 2009

portinglês


Desde o "car jaquim" até ao "car audio", do "kit" ao "park", pergunto-me qual é que será o limite (quantas palavras por frase, por exemplo) após o qual a nossa língua passará a ser portinglês!

A propósito, uma nota para a agenda: na próxima segunda-feira, dia 4 de Maio, o programa Cuidado com a Língua abordará a temática dos estrangeirismos... e seu abuso.

27 abril 2009

Porque interrogativo?

Nota prévia: este é um assunto linguístico bastante controverso, pelo que respeito quem não concorde com a minha posição.
Passo a enunciar os argumentos a favor da existência de um porque interrogativo:

Factos históricos
A palavra porque provém da forma latina quare, palavra composta (qua + re = por que motivo, por que causa), mas sempre escrita como uma só palavra. Século XV: porque.

Factos lexicográficos
Vários dicionários de referência registam porque como advérbio interrogativo: Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Dicionário da Porto Editora, Dicionário da Texto Editores, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: “porque ocorre com valor circunstancial, expressando circunstância de causa, em frase interrogativa directa ou indirecta”.

Factos literários: abonações de grandes escritores portugueses
- Fernão Lopes, Crónica de D. João I: “Ó Deus, porque te prougue leixar um rei tão só e tão desemparado de tantos e bons como hei perdidos! (…) Ó Senhor, porque me leixaste vencer?”
- Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra: “Joaninha, Joaninha, porque tens tu os olhos verdes?”
- Eça de Queirós, Os Maias: “Porque não tens tu voltado aos Gouvarinhos?”
“Porque vieste tão tarde?
- Bernardo Santareno, O Judeu, “Porque… porque somos tão desgraçados?!...”

Factos linguísticos
A palavra advérbio tem origem na forma latina adverbiu (junto ao verbo) e tem por função modificar um verbo, um adjectivo, outro advérbio ou uma frase, exprimindo diferentes valores: tempo, lugar, modo, causa, etc.
Em português, existem pronomes e advérbios que introduzem frases interrogativas, sendo que cada um exprime um valor semântico diferente:
- Quem (= «que pessoa») Quem chegou?
- Que (= «qual pessoa/coisa») Que compraste?
- Onde (= «em que lugar») Onde estiveste?
- Quando (= «em que altura») Quando chegaste?
- Como (= «de que modo») Como vieste?
- Porque e Porquê (= «por que motivo») Porque faltaste? / Faltaste porquê?

Se em perguntas que exprimem circunstância de causa optássemos pela expressão por que, estaríamos perante uma preposição + um pronome interrogativo, logo, substituível por outro pronome - qual, por exemplo. O resultado seria claramente agramatical: Por que chegaste atrasado? = * Por qual chegaste atrasado?

Por todos estes argumentos, parece-me legítimo o uso de porque enquanto advérbio interrogativo.

21 abril 2009

Dispor ou dispôr?


Dispor, como inferior, sem acento no o. O mesmo acontece com compor, propor e supor.
No Infinitivo, apenas o verbo pôr leva (por enquanto) acento circunflexo,
pois assim se distingue da preposição por.


20 abril 2009

Esclarecimento

Naturalmente, este esclarecimento teria surgido mais cedo, se eu me tivesse apercebido da publicação desta notícia no dia 6 de Março. Só ontem soube que fui apelidada de "linguista", o que, como todos poderão constatar ao verificar o meu perfil, não corresponde à realidade.
É preciso dizer que o jornalista teve o cuidado de me telefonar, após a nossa breve conversa no fim da apresentação que fizemos na Expolíngua, para me perguntar precisamente se eu poderia ser considerada uma linguista. Expliquei-lhe que não seria rigoroso, embora pudesse ser um termo útil para se referir às duas - a mim e à minha colega S. Duarte. No entanto, sou referida na notícia, isoladamente, como linguista, coisa que eu não esperava e penso que não faz sentido. Sou apenas uma professora de Língua Portuguesa, mais nada.

Por outro lado, o artigo centra-se numa posição radical contra o Acordo Ortográfico que terei assumido durante a apresentação na Expolíngua. Quando o li, fiquei um tanto chocada, porque ainda que eu tenha realmente proferido aquelas palavras, lê-las assim descontextualizadas não permite supor que eu também poderia falar a favor do Acordo. Porque considero que, como tudo, o Acordo tem vantagens e desvantagens.

Finalmente, a minha afirmação "politicamente incorrecta" de que no Brasil se fala outra língua pode ofender muita gente, inclusivamente aqueles que lêem este blogue. Quanto a isso, só posso explicar que, para mim, se trata de um fenómeno muito natural e comparável ao que sucedeu na Península Ibérica com o Latim: se nesta região os diferentes povos, com as suas culturas distintas, deram origem a línguas diversas, todas elas derivadas da mesma, como não aceitar que entre o português do Brasil e o que se fala em Portugal as divergências crescentes não dêem, também, origem a falares distintos, com prosódia, léxico e gramáticas próprias?

E, nesse sentido, preciso ainda de acrescentar o seguinte: este blogue é sobre a língua portuguesa que se fala em Portugal. Não por qualquer espécie de "embirração", longe de nós, mas simplesmente devido à nossa quase total ignorância sobre a(s) variante(s) que se falam e escrevem no Brasil. Seria tão absurdo pretender que os nossos esclarecimentos fossem válidos para os Brasileiros como para os Galegos. Daqui os saudamos, a uns e a outros, com respeito e com pena de não lhes podermos ser úteis.

15 abril 2009

Respostas aos PORQUÊS

1. Porque é que açoriano se escreve com i, se Açores se escreve com e?
R: Porque ao juntarmos o sufixo -iano, as duas letras finais da palavra Açores desaparecem. A vogal i é, portanto, do sufixo (Tal como flor(es) + inhas = florinhas).

2. Porque é que o verbo despender se escreve com e, se dispendioso se escreve com i?
R: O verbo despender provém do latim dispendere, com i, mas sofreu uma evolução e a partir do século XV passou a escrever-se com e.

3. Porque é que café tem acento e cafezinho não tem?
R: Porque ao associarmos qualquer sufixo a uma palavra, o acento tónico passa a recair na primeira sílaba do sufixo, logo, o acento gráfico deixa de fazer sentido (cafeZInho).

4. Porque é que o plural de carácter é caracteres?
R: Na passagem do singular ao plural, a palavra continua a ser grave quanto à acentuação e, por isso, perde o acento gráfico que existe na forma singular.

5. Porque é que torácico se escreve com c, se tórax se escreve com x?
R: Ambas as palavras provêm do grego: tórax«thoraks,akos e torácico«thorakikos.
O ks deu origem a x e o k deu origem a c.

6. Porque é pára-quedas leva hífen e parapente não leva?
R: Porque pára-quedas é uma palavra portuguesa composta por justaposição (de parar + quedas) e parapente é uma palavra que provém do francês parapente (déc. 1980).

7. Porque é que a palavra carrossel se escreve com dois s e não com c?
R: Porque provém da palavra francesa carrousel, que se escreve com s.

8. Porque é que o verbo relativo a circuncisão não é circuncisar?
R: O nome circuncisão provém do latim circuncisionis; o verbo correspondente é circuncidar, o qual tem origem em circumcidere (cortar ao redor).

09 abril 2009

PORQUÊ??

1. Porque é que açoriano se escreve com i, se Açores se escreve com e?
2. Porque é que o verbo despender se escreve com e, se dispendioso se escreve com i?
3. Porque é que café tem acento e cafezinho não tem?
4. Porque é que o plural de carácter é caracteres?
5. Porque é que torácico se escreve com c, se tórax se escreve com x?
6. Porque é pára-quedas leva hífen e parapente não leva?
7. Porque é que a palavra carrossel se escreve com dois s e não com c?
8. Porque é que o verbo relativo a circuncisão não é circuncisar?

Mas porquê?
Alguém quer tentar desvendar estes pequenos mistérios?!

01 abril 2009

quem munge e quem muge?



Munge a vaca
ou muge a vaca?
Tira leite
E faz ruído?
Munge e muge é igual?
Não faz sentido!
O camponês é que ordenha;
A vaca faz o som dela.
Um munge,
Outro muge,
E "a vaca munge" está mal?
Como munge e muge é parecido,
A confusão é total!
Quem munge não muge
E quem muge não munge.
Então qual,
dos que mugem ou mungem,
É que é a vaca afinal?