21 dezembro 2007
19 dezembro 2007
ENIGMA
Ora, aqui está uma mensagem misteriosa, que li num muro de tijolo...
Se não estou enganada, é um bom conselho, ainda que mal redigido (porventura escrito à pressa...).
O que acham?
Por S. Leite às 15:41 6 comentários
Palavras-chave: desafio , ortografia , parónimos
17 dezembro 2007
Tradução de sons?
Há uma aparente incongruência nas onomatopeias: se são palavras que procuram reproduzir os sons que representam, como se justifica que sejam tão diferentes de língua para língua? Será que um inglês ouve o ladrar do cão de maneira diferente de um português?
Tudo indica que sim. É certo que o mugido das vacas soa mais ou menos ao mesmo em todo o lado. A divergência na sua representação escrita é mínima: de mu (italiano) para meu (francês), passando por muhh (alemão), não há nada que nos espante.
Mas como se explica que as rãs façam croac em Portugal e brekeke na Hungria, que o oinc-oinc dos porcos seja gmy na Catalunha, que o cacarejar das galinhas seja cró-cró para os portugueses e kut-kudaj para os russos? Sabem como relincha um cavalo inglês? Neeeigh! Francamente!
Torna-se óbvio que, ou os animais de países diferentes não conseguem comunicar quando se vêem, ou as línguas que falamos condicionam a nossa capacidade de ouvir.
Nota: a Wikipédia tem uma lista de onomatopeias em diversas línguas, de onde retirei alguns exemplos.
Por S. Leite às 15:55 3 comentários
Palavras-chave: divagações , sons
14 dezembro 2007
Há cerca de / acerca de
Estas expressões são claramente homófonas, ou seja, têm o mesmo som, mas grafia diferente.
Comecemos pela que origina mais erros ortográficos: acerca de. É muito frequente vermos um acento grave na primeira vogal desta palavra: * àcerca de. Apesar de se pronunciar /á/, não se escreve com qualquer acento.
Esta palavra significa “sobre, a respeito de”, por exemplo:
(1) Preciso de falar contigo acerca de um assunto.
A expressão há cerca de pode exibir dois significados: um relativo a tempo e outro relativo a espaço.
Quando significa tempo, pode ser parafraseada por “faz aproximadamente”:
(2) Não os vejo há cerca de dois anos. (faz aproximadamente dois anos)
Quando significa espaço, pode ser parafraseada por “existem aproximadamente”:
(3) Nesta gaveta, há cerca de trinta revistas antigas. (existem aproximadamente trinta revistas).
Por S. Duarte às 19:44 7 comentários
Palavras-chave: parónimos
12 dezembro 2007
"Como deve de ser" ou "como deve ser"?
Há muita gente a dizer "deve de ser" e "deve de fazer", mas a verdade é que não estão a falar como deve ser...
Por S. Leite às 22:48 18 comentários
Palavras-chave: expressões , sintaxe
10 dezembro 2007
«Em rigor» ou «a rigor»?
Eis duas expressões muito parecidas, mas que, pelo menos em português europeu, têm sentidos diversos:
A locução em rigor pode ser interpretada literalmente, pois costuma preceder explicações ou exposições de ideias que se pretendem exactas. Pode ser, portanto, substituída pelo advérbio rigorosamente: por exemplo, na frase: «Em rigor, deveríamos dizer “o afluxo de pessoas”, em vez de “o fluxo de pessoas.”»
A expressão a rigor não deve ser usada como sinónimo da anterior, pois o seu significado já tem um cariz mais idiomático. Usa-se, sobretudo, a propósito de indumentária e significa de acordo com as exigências da ocasião. Assim, se vamos vestidos a rigor para uma festa, tanto podemos ir mascarados de vampiros (se for um baile de máscaras), de fato escuro e gravata ou vestido comprido e saltos altos (se for um jantar de gala), como, até, de pijama!
Por S. Leite às 13:12 7 comentários
Palavras-chave: expressões , parónimos
07 dezembro 2007
Desafio sintáctico
Apenas uma das seguintes frases está correcta. Qual é?
E, já agora, atrevem-se a corrigir as que apresentam incorrecções sintácticas?
1. A Inês perguntou ao namorado onde é que ele foi depois de a deixar em casa.
2. Apesar do jornalista ter exibido o seu cartão, o polícia não o deixou entrar.
3. A falta de pontualidade foi talvez um dos motivos que mais contribuiu para o seu despedimento.
4. Um dos requisitos desse emprego é conseguir trabalhar sobre pressão.
5. As entrevistas dos jornalistas deverão ser o mais breves possível.
Por S. Duarte às 17:47 4 comentários
05 dezembro 2007
TER MATADO, TER ACEITADO
Todos os dias, na comunicação social, ouço os jornalistas dizerem "ter morto" ou "ter aceite".
Alguém explica a estes senhores que com o auxiliar TER se usam as formas participiais regulares (terminadas em -ado e -ido) dos verbos que têm duplo particípio passado?
Quando é que eles passarão a dizer TER MATADO e TER ACEITADO? Quando a hipercorrecção tiver vingado e o que está hoje errado se tornar correcto?!
Por S. Leite às 23:59 9 comentários
Palavras-chave: particípios , sintaxe , verbos
03 dezembro 2007
30 novembro 2007
Você quem é?!
Na publicidade e nos programas de rádio, todos nós somos “você”. Você sabe, você escolhe, você para cá, você para lá.
Porém, apesar de se ter generalizado, essa forma de tratamento gera reacções, no mínimo, controversas. Por uns é considerada uma forma respeitosa, já que é proveniente de vossa mercê, depois contraída na versão vocemessê e, posteriormente, abreviada para você. Por outros é mal aceite, sendo encarada como uma falta de respeito para com a pessoa desconhecida que se pretende interpelar. Para esses, você implica demasiada confiança e deveria ser substituído por “o senhor” ou “a senhora”.
Seja como for, a verdade é que esta forma de tratamento gera algumas dificuldades aos falantes de língua portuguesa. Para começar, nem sequer é uma das seis pessoas que podem ditar a flexão dos verbos (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles).
A sua utilização obriga a uma combinação estranha entre tu, vós - porque vocês, tal como tu e vós, corresponde à pessoa a quem se fala - e ele/ela(s) - porque a flexão dos verbos, quando a pessoa é você(s), se faz de acordo com a terceira pessoa. Assim, dizemos “você está óptimo” e “vocês sabem muito”, e não *“você estás óptimo”, nem *“vocês sabeis muito”. Aliás, talvez tenha sido precisamente por causa da formalidade (e da dificuldade) das flexões da pessoa vós (estais, estiverdes, estivestes...) que se generalizou o uso, bem mais simples, de você (está, estiver, esteve), quando não queremos ou podemos tratar o nosso interlocutor por tu.
No entanto, você (pronome tónico) também não é assim tão fácil, sobretudo no que toca à pronominalização dos verbos – isto é, quando implica escolher o respectivo pronome átono. Por exemplo, muita gente hesita entre dizer “vou contar-vos uma história, se vocês se calarem” ou “vou contar-lhes uma história”.
Já agora... o que é que VOCÊS diriam?! (Perdoem-me a confiança!...)
Por S. Leite às 12:31 9 comentários
28 novembro 2007
A vírgula e a sintaxe – amigas inseparáveis
Sabiam que as vírgulas podem alterar a sintaxe de uma frase?
Observem os exemplos seguintes, que diferem apenas na presença/ausência de vírgulas:
(1) O irmão da Ana que mora em Paris não vem ao casamento.
(2) O irmão da Ana, que mora em Paris, não vem ao casamento.
Pois bem, a presença ou ausência de vírgulas dá origem a orações diferentes.
No exemplo (1), a oração “que mora em Paris” é uma relativa restritiva, que restringe o âmbito do nome “irmão”, ou seja, indica-nos que só o irmão que mora em Paris é que não vem ao casamento (e dá-nos a ideia de que a Ana tem mais irmãos para além desse).
Se omitíssemos a oração relativa “que mora em Paris”, o sentido da frase seria alterado:
“O irmão da Ana não vem ao casamento” (esta frase tem um significado diferente de “o irmão da Ana que mora em Paris não vem ao casamento").
Na frase (2), “que mora em Paris” é uma oração relativa explicativa, a qual nos dá apenas uma informação adicional, acessória, pelo que a sua omissão não altera o sentido global da frase: o irmão da Ana não vem ao casamento (ela só tem um irmão).
E termino com um desafio: por que razão os exemplos (3) e (4), SEM VÍRGULAS, são agramaticais (i.e. incorrectos do ponto de vista sintáctico-semântico)?
(3) * Os linces que são mamíferos estão em vias de extinção.
(4) * Steven Spielberg que realizou o “Parque Jurássico” ganhou celebridade mundial.
Por S. Duarte às 09:42 8 comentários
Palavras-chave: construção frásica , pontuação , sintaxe
26 novembro 2007
Recandidatar e conflituar
Ouvimos falar, quase todos os dias, de pessoas que se recandidatam a cargos e de coisas, entidades ou até pessoas que conflituam ou são conflituantes – isto é, que provocam ou envolvem conflitos. Contudo, os verbos conflituar e recandidatar não constam dos dicionários mais à mão (ou melhor, mais ao dedo!), como o Priberam (Texto Editora) e a Infopédia (Porto Editora).
Porque será? Por lapso? Por se estar a aguardar mais um tempo, para se ter a certeza de que estes verbos vieram para ficar?
Em todo o caso, recandidatar e conflituar constam da Mordebe, valha-nos isso! Para não ficarmos a pensar que não existem, afinal de contas...
Por S. Leite às 17:24 4 comentários
Palavras-chave: dicionários , palavras
23 novembro 2007
MOS com e sem hífen
Quem é que não sabe que isto é o Presente do Indicativo do verbo agradecer?
Então por que razão há tanta gente a colocar o hífen (indevidamente) entre o radical e a terminação do verbo, na primeira pessoa do plural?
Assim, vejamos estas frases:
Enfermeira - Levo-lhe jornais e revistas ao quarto e ele agradece-mos sempre.
A pessoa em causa (ele) agradece os jornais e revistas à enfermeira que fala, daí a contracção me (a mim) + os (jornais e revistas)
Doente - Nós agradecemos sempre às enfermeiras pelas suas atenções.
O doente fala por si e pelos outros doentes, usando a primeira pessoa do plural, que termina em "mos", sem hífen)
Doente - A enfermeira trouxe-me os jornais quando eu não estava no quarto. Se a vires, agradece-mos, por favor.
Neste exemplo (um pouco menos provável), o doente que fala pede a outro que faça algo por ele, por isso também usa "me" (como quem diz "por mim"), agregado ao pronome que representa o objecto directo (os , que substitui jornais). O verbo, aqui, está no modo Imperativo e refere-se à pessoa "tu".
Portanto, quando a pessoa que desempenha a acção expressa pelo verbo "somos" nós, não há hífen antes de mos. Quando se trata de outra pessoa e mos representa complementos do verbo, escreve-se com hífen.
E existe ainda outra forma de sabermos se a forma verbal em causa leva hífen ou não: quando não leva, a sílaba tónica fica mesmo junto à terminação: agradecemos; quando leva, a sílaba tónica "desloca-se" para trás: agradece-mos.
Foi muito confuso?!
Por S. Leite às 12:30 3 comentários
21 novembro 2007
Post, postar, poster...
Quem, como nós, é participante activo na blogosfera, já se ouviu certamente dizer que vai “postar um post”. Depois, talvez se tenha sentido um pouco envergonhado, ridículo, ou mesmo ligeiramente traidor – conforme o amor que tenha à sua própria língua.
É inegável que vivemos numa era de importação desenfreada de palavras estrangeiras para o português, sobretudo vocábulos relacionados com as novas tecnologias (mas não só), e principalmente vindos da língua inglesa. É completamente impossível manter uma conversa sobre informática ou sobre o mundo virtual criado pela Internet sem dizer palavras que põem os avós a pensar que os netos já não falam a mesma língua do que eles, como software, e-mail, browser, save, blog, e por aí fora.
Os poucos que se esforçam por traduzir os conceitos, dizendo, por exemplo, “senha” em vez de password, “transferência” em vez de download, ou “caneta” em vez de pen, correm o risco de não serem entendidos, de ficarem de fora ou para trás. Porque a linguagem que se gerou é como um rio poderoso, que arrasta tudo e todos na sua frente.
No entanto, há termos ingleses que provêm do latim e que, apesar de parecerem, não são verdadeiros estrangeirismos. A palavra post, por exemplo, usada por quase toda a gente que tem ou lê blogues, é de origem latina. E desde, pelo menos, o século XIV que se usa o verbo postar em português (de posto, segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado) – obviamente, não com o sentido de “publicar algo num blogue”, mas com um sentido muito próximo, apenas mais abrangente: “pôr, colocar”. Por isso, um poster (post + er), em inglês, designa um cartaz que é afixado, isto é, postado. Ou seja, o sufixo é deles, mas a raiz é nossa!
Portanto, se é ridículo pronunciar “paust” à inglesa, já não pode ser acusado de barbarismo aquele que disser postar, à portuguesa, em vez de “pôr on-line”. Da próxima vez que vos sair esse verbo supostamente moderno, não se retraiam. É do mais vernáculo que há!
Por S. Leite às 21:26 5 comentários
Palavras-chave: palavras
19 novembro 2007
Quilos e não “kilos”
Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, -quilo- é um “elemento de composição de nomes e medidas criadas pelo estabelecimento do sistema métrico; traduz a ideia de «mil»” e vem do grego chílios.
Não se percebe, por isso, que ainda haja quem cometa o erro de escrever “kilos” em português – confundindo a palavra com o símbolo kg, ou copiando servilmente o inglês.
Por S. Leite às 11:58 12 comentários
Palavras-chave: ortografia
16 novembro 2007
Acentos a menos
Agora é a vez dos “pecados por defeito”: erros ortográficos por falta de acentos.
E não me venham dizer que os acentos não servem para nada, porque servem e servem muito. Reparem como nos seguintes exemplos a presença ou ausência de acento dá origem a uma palavra diferente:
- estudámos (Pretérito Perfeito do Indicativo) / estudamos (Presente do Indicativo)
- pôr (verbo) / por (preposição)
- pára (verbo parar) / para (preposição)
- influência (nome) / influencia (verbo)
- contínua (adjectivo) / continua (verbo)
Gostaria ainda de salientar algumas palavras graves terminadas em ão, que são frequentemente escritas sem acento: *benção, *orfão, *orgão e *sotão.
Eu até sei porque é que isso acontece. Generalizou-se a ideia de que o til é um acento gráfico e, por esse motivo, hesita-se em colocar um acento na primeira sílaba destas palavras, porque “ficariam com dois acentos e isso não é possível em Português”.
Ora, convém esclarecer que o til não é um acento gráfico, mas sim uma marca de nasalidade, indicando vogais nasais (ex. irmã) ou ditongos nasais (ex. irmão). Normalmente, este ditongo coincide com a sílaba tónica (leão, coração, etc.), mas há casos em que pode não coincidir. Em bênção, órfão, órgão e sótão, o acento tónico encontra-se na primeira sílaba.
Experimentem pronunciar pausadamente estas palavras, sem acento, e vão verificar que a tónica recairá na sílaba em que ão se inclui. Vão com certeza achar graça a essa prosódia!
Estas palavrinhas são muito vaidosas, por isso, não se contentam com um adereço apenas, e exigem sempre mais um! Digam lá se não ficam bem mais elegantes com dois!
bênção, órfão, órgão e sótão
Por S. Duarte às 09:39 0 comentários
Palavras-chave: acentuação , ortografia
14 novembro 2007
Acentos a mais
Alguns erros ortográficos decorrem da falta de acentos, mas muitos resultam também do seu excesso. Considerem-se as seguintes palavras que costumam“pecar” por excesso:
*alcoolémia, *rúbrica, *outrém, *inclusivé, *à priori, *sózinho e *diáriamente.
Alguns destes erros têm origem em vícios de pronúncia, é o caso de *alcoolémia e *rúbrica. (ver E se recusasse fazer o teste da “alcoolémia? e ainda a “rúbrica”).
Outros são cometidos por analogia com palavras semelhantes, por exemplo, *outrém (por analogia com ninguém e alguém). Uma das regras de acentuação diz que são acentuadas apenas as palavras agudas (não monossilábicas) terminadas em -em. Ora, outrem é uma palavra grave.
Verifica-se, ainda, uma tendência para colocar um acento gráfico em determinadas vogais abertas: *à priori e *inclusivé. Estas palavras são expressões latinas e, por isso, a sua grafia original deve ser respeitada (em latim não havia acentuação gráfica). Para além disso, se pronunciarmos a palavra inclusive pausadamente, verificamos que o acento tónico recai na sílaba si, logo, não faz sentido colocar um sinal gráfico na vogal /e/.
Por fim, palavras terminadas em -mente e em -zinho têm também por hábito receber um acento! Por exemplo: *sózinho e *diáriamente. Ao associar qualquer sufixo a uma palavra base, o acento tónico avança “uma casa”, passando a recair na primeira sílaba do sufixo. Por isso, essas palavras não devem ter qualquer acento gráfico, já que este daria uma falsa indicação do acento tónico.
Digam lá, então, se as ditas palavrinhas não ficam mais bonitas sem qualquer adereço!
alcoolemia, rubrica, outrem, inclusive, a priori, sozinho e diariamente.Por S. Duarte às 17:04 0 comentários
Palavras-chave: acentuação , ortografia
12 novembro 2007
“Encontrar-se-á” ou “encontrar-se-à”?
Muitos têm a tentação de colocar um acento grave nesse a que fica “pendurado” no final das flexões de verbos no Futuro do Indicativo, quando existe mesóclise.
“Mesóclise?! Que palavra estranha! O que é isso?”, estarão alguns leitores a perguntar. Simples: vem de -meso-, elemento de composição de origem grega que significa meio, e usa-se para designar as formas verbais em que o pronome não aparece antes, nem depois, mas sim no meio do verbo. Já agora, porque os palavrões são só três, sistematizemos:
Próclise: pronome antes do verbo. Ex.: “Quem te disse isso?”
Mesóclise: pronome no meio do verbo. Ex.: “Entregar-te-ei em breve”
Ênclise: pronome depois do verbo. Ex.: “Deram-nos mais tempo.”
Ora, na realidade, a mesóclise só o é hoje em dia. Porque aquele á, ou aquele ei, que aparece depois do pronome, no Futuro do Indicativo, e que dizemos ser a terminação do verbo, é o que resta da flexão do verbo haver, que se usava (e ainda usa!) como auxiliar, para exprimir a ideia de futuro. Reparem:
Encontrar-se-á é, na verdade, encontrar-se-(h)á – ou seja: há-de se encontrar
Entregar-te-ei é, na verdade, encontrar-te-(h)ei – ou seja: hei-de te entregar
Assim, não há dúvida: o acento do -á é agudo, exactamente como o acento de há. Só lhe falta o h!
Por S. Leite às 11:59 2 comentários
Palavras-chave: acentuação , flexão , verbos
09 novembro 2007
Trás não é traz!
Ainda há quem confunda estas duas palavras, tão distintas em termos de significado!
Traz é flexão do verbo trazer (por isso se escreve com z...), na terceira pessoa do singular no Presente do Indicativo (“Ele traz os teus livros”) e também na segunda pessoa do singular no Imperativo (“Traz aquela cadeira, por favor”).
Trás é preposição e é pouco habitual aparecer sozinha, pois costuma usar-se em locuções (por trás, de trás...), ou ser substituída pelo composto atrás.
Porém, não há que enganar: quando é forma do verbo trazer, traz o z do Infinitivo!
Sempre que vejo a porta da imagem, tenho vontade de ir lá bater, para perguntar: “trago o quê?”
Por S. Leite às 11:46 13 comentários
07 novembro 2007
Um desafio com o verbo PODER
O verbo poder assume diferentes valores semânticos, consoante o contexto frásico. Vejamos quais são esses valores:
1º valor: permissão - Ex.: Podes usar o meu telefone à vontade!
2º valor: probabilidade - Ex.: Leva o guarda-chuva, porque pode chover.
3º valor: capacidade - Ex.: Este elevador pode levar até 5 pessoas.
Por vezes, este verbo exibe simultaneamente dois valores, dando origem a frases ambíguas. Por exemplo, a frase
“Os ciclistas podem passar por aqui” pode significar:
1. “É-lhes permitido que passem por aqui” (valor de permissão);
2. “É provável que passem por aqui” (valor de probabilidade).
Porém, se substituirmos o sujeito “ciclistas” por um fenómeno da natureza, como “ciclone” (o ciclone pode passar por aqui), há uma leitura que é automaticamente bloqueada. Qual é e porquê?
Nesta linha de pensamento, deixo-vos mais um desafio. Considerem as seguintes frases e digam que interpretações podem ter:
(a) O Tomás pode ir à festa.
(b) O Tomás não pode ir à festa.
(c) O Tomás pode não ir à festa.
Por S. Duarte às 14:53 9 comentários
Palavras-chave: verbos
05 novembro 2007
Cuidado com a vírgula!
Há tempos, havia por Lisboa cartazes que sensibilizavam a população para a necessidade de reciclar as pilhas. O texto, destacado no meio de um fundo verde, era simplesmente assim:
NO LIXO, NÃO
NO PILHÃO.
Repararam como a vírgula, aliada à falta de pontuação logo após o advérbio não, compromete o sentido da frase?
É que, em muitos casos, a vírgula serve para separar orações. Assim, e sabendo que a linguagem publicitária é muitas vezes elíptica, podíamos perfeitamente interpretá-la da seguinte forma:
1ª oração – uma imperativa, com omissão do verbo e do objecto directo: “[deitem as pilhas] no lixo,”
2ª oração – outra imperativa, com as mesmas omissões: “não [as deitem] no pilhão”.
Resultado: veiculava-se, ali, exactamente o oposto do que se pretendia!
Por S. Leite às 12:02 4 comentários
Palavras-chave: pontuação
02 novembro 2007
Sob e sobre
Eis uma confusão que persiste, embora as palavras em causa tenham sentidos opostos. Sob significa “debaixo de” (vem de sub, que se usa como elemento de formação em palavras como subterrâneo e subentender), sobre é “por cima de” e vem de super, que tem o mesmo sentido em latim.
Talvez por se tratar de duas palavrinhas curtas e semelhantes, ouve-se às vezes dizer, erradamente, que alguém está, por exemplo, “sobre pressão”, ou seja, usa-se sobre em vez de sob.
Há dias, numa série informativa do canal Panda, explicaram que “os gorilas vivem em grupos, sobre o comando de um macho líder.” Até estremeci! Uma coisa é ouvir uma pessoa cometer um erro destes na rua... mas num programa supostamente educativo para crianças e adolescentes? Como é que um tradutor comete um erro desses? E como se admite que quem edita e narra o texto não dê por ele?
Os gorilas obviamente obedecem ao líder. Como tal, estão debaixo do seu comando (sob) e não “acima” dele (“sobre”)...
Por S. Leite às 13:00 52 comentários
Palavras-chave: parónimos
31 outubro 2007
Ovelha ranhosa?!
“Ele é a ovelha ranhosa da família!” Quem nunca ouviu esta expressão?
Espero, com este pequeno texto, surpreender-vos, sem vos desiludir!
Pois é, todas as vezes em que usamos a expressão “ovelha ranhosa”, estamos a cometer um erro. Sabem porquê?
Ronha é uma doença que ataca alguns animais, é uma espécie de sarna. A partir deste nome, formou-se o adjectivo ronhoso, que significa “que tem ronha”. E como sabem, muitas palavras assumem sentidos figurados ou são usadas em registo familiar. É o caso. Ronhoso também significa “manhoso, velhaco”, que origina então a expressão tão conhecida OVELHA RONHOSA.
Quanto a ranhoso, ninguém precisa de esclarecimento acerca do seu significado literal! Esta palavra tem também um sentido figurado, que é “desprezível, reles”, mas nunca é usada como combinatória de OVELHA.
Portanto, nunca mais digam que alguém é a ovelha ranhosa da família!
Por S. Duarte às 09:46 10 comentários
Palavras-chave: palavras
29 outubro 2007
Curioso invejoso
Quem não ouviu já alguém chamar "invejoso" a quem suscita a inveja dos outros, por exibir o que eles não têm, sem partilhar? Eu lembro-me de, na escola, se dizer muito "não sejas invejoso/a" a quem tinha e não dava - pastilhas ou rebuçados, por exemplo - por puro egoísmo.
Por S. Leite às 20:33 4 comentários
Palavras-chave: dicionários , palavras
26 outubro 2007
Data-limite e ideia chave
Por S. Leite às 13:29 7 comentários
Palavras-chave: dicionários , hífen
24 outubro 2007
Protestar também significa afirmar!
Todavia, basta uma consulta rápida ao dicionário para constatar que protestar significa, em primeiro lugar – enquanto verbo transitivo directo – “prometer ou afirmar solenemente”. Assim, quem protesta algo, como um sentimento, afirma-o, declara-o.
Portanto, se protestar significa prometer, declarar, um dos sinónimos do substantivo protesto pode bem ser promessa, ou declaração. Por isso, são perfeitamente correctas estas duas frases:
Aceite o protesto dos meus melhores cumprimentos. (= a manifestação)
O chefe viu-se obrigado a concordar com o protesto dos funcionários. (= a reclamação)
Aliás, há nas cartas formais outro exemplo de um verbo cujo significado, nesse âmbito, é diferente daquele que usamos mais frequentemente no dia-a-dia, que é acusar. Quem não acusou já a recepção de uma carta? Certamente não estava a culpá-la de nada...
Assim, não estranhem fórmulas como “aceite os meus protestos de elevada estima e consideração”. Podem parecer antiquadas e demasiado eruditas, mas estão perfeitamente de acordo com o sentido das palavras usadas.
Por S. Leite às 10:55 9 comentários
Palavras-chave: palavras
22 outubro 2007
Homens que pastam...
Por S. Leite às 10:50 6 comentários
18 outubro 2007
ONDE existe, mas às vezes não se recomenda...
Este relativo é com frequência usado incorrectamente, dando origem a erros não ortográficos, mas sim sintácticos. Observem-se os seguintes exemplos:
* Este foi o jogo onde a nossa equipa obteve melhores resultados.
* Ninguém faltou à reunião onde se aprovou o novo regulamento.
Como já foi dito, ONDE exprime a ideia de “o lugar em que”, devendo, por isso, ser associado unicamente a nomes locativos, isto é, nomes que designam um local ou espaço físico. Por exemplo:
Na cidade onde vivo, há muitos espaços verdes.
Fechei à chave o armário onde guardei os documentos.
“Jogo” e “reunião” são nomes que não exprimem essa ideia. Antes pelo contrário, se reflectirmos um pouco, aos mesmos está subjacente uma certa ideia de tempo.
No entanto, não basta que o nome que antecede este pronome seja um locativo; é necessário ter atenção também ao verbo que o segue, o qual deverá reger a preposição em:
A igreja onde casaram é muito antiga. (Casar em)
*A igreja onde visitei é muito antiga. (Visitar alguma coisa)
Nos casos em que o verbo rege a preposição em, mas o nome não é um locativo, devem usar-se os relativos em que ou no/a qual:
Este foi o jogo em que a nossa equipa obteve melhores resultados.
Ninguém faltou à reunião na qual se aprovou o novo regulamento.
(Nota: O asterisco indica que a frase é agramatical, ou seja, incorrecta do ponto de vista sintáctico)
Por S. Duarte às 09:20 4 comentários
16 outubro 2007
AONDE existe e recomenda-se!
Muita gente pensa que a palavra aonde não existe, porque julga tratar-se do mesmo -a- que se acrescenta a alguns verbos para dar uma certa ideia de “balanço”, por exemplo: *amandar (em vez de mandar), *assentar-se (em vez de sentar-se), entre outros.
Desenganem-se, porque, apesar da inexistência desses pseudo-verbos, de facto, AONDE existe e recomenda-se!
Comecemos por observar os contextos de uso do pronome que lhe deu origem – ONDE. Este pronome significa “em que lugar” e é usado com verbos estativos, ou seja, que não contêm a ideia de movimento, por exemplo: Onde estiveste ontem?
O pronome AONDE, pelo contrário, significa “a que lugar” e é usado com verbos de movimento, por exemplo: Aonde foste ontem?
Para comprovar a existência de AONDE, sugiro que observem as seguintes três respostas e as suas respectivas perguntas:
Resposta 1: “Vim por Alcácer do Sal. ”Pergunta: “Por onde vieste?”
Resposta 2: “Venho de Coimbra.” Pergunta: “De onde vens?”
Resposta 3: “Vou para casa.” Pergunta: “Para onde vais?”
Podemos concluir que a preposição presente na resposta tem obrigatoriamente de estar na pergunta. (para uma resposta “Vim por Alcácer”, a pergunta nunca poderia ser “onde vieste?”).
Ora, tal como POR, DE e PARA, A também é uma preposição. Logo, parece lógico que quando a encontramos numa resposta, a mesma tenha de ocorrer na pergunta, como verificámos com as preposições acima. Assim,
Resposta: “Vou a casa buscar um casaco.” Pergunta: "AONDE vais?"
A única diferença é que a preposição A, como se sentia muito só, pediu o pronome ONDE em casamento, daí a aglutinação – aonde !!
Por S. Duarte às 16:04 6 comentários
12 outubro 2007
Qualquer, quaisquer e quais queres
O determinante indefinido qualquer é uma palavra composta por aglutinação, tal como malmequer, lengalenga ou pontapé. O plural deste tipo de palavras forma-se, normalmente, flexionando apenas o segundo elemento. Assim, temos malmequeres, lengalengas, pontapés. No entanto, No caso de quaisquer, só o primeiro elemento se flexiona, pelo que podemos dizer que se trata de uma excepção à regra geral.
Em todo o caso, não existem em português palavras compostas por aglutinação cujo plural seja obtido através da flexão dos dois elementos. São, pois, erradas as formas "quaisqueres" e "lengaslengas", que no entanto muito se lêem e ouvem por aí.
Mas atenção! Podemos dizer quais queres sem receio de sermos corrigidos ou criticados... se usarmos o pronome qual no plural, seguido do verbo querer conjugado na segunda pessoa do singular, no tempo Presente do Indicativo. Por exemplo em: “Não pus os teus livros na mala, porque não sei quais queres levar.”
Foto enviada pela Joana. Obrigada, Joana!
Por S. Leite às 22:57 22 comentários
Palavras-chave: flexão
10 outubro 2007
“Empregue” e “encarregue”
Embora andem na boca de muita gente, os particípios “empregue” e “encarregue”, dos verbos empregar e encarregar, não constam dos actuais dicionários e bases de dados de português. Não é, portanto, correcto, dizer-se “isso é dinheiro mal empregue” ou “ela está encarregue da revisão do texto”.
Se têm dúvidas, experimentem consultar a Mordebe, os dicionários Priberam ou Porto Editora, por exemplo, ou outros dicionários impressos recentes.
Tanto quanto sei, apenas o Vocabulário de Rebelo Gonçalves atesta a existência dessas duas formas participiais. E qual é o problema desse Vocabulário, que é uma das grandes obras de referência, por exemplo, do Ciberdúvidas? É que a obra data de 1967, quase ninguém a conhece e não está disponível no mercado. Não se pode, pois, encarar este vocabulário, por mais bem conseguido que esteja, por mais útil que seja, como regra para os nossos dias.
Paradoxalmente, porém, e apesar de nenhum dos actuais instrumentos de consulta que verifiquei apresentar os particípios "empregue" e "encarregue" no quadro dos respectivos verbos conjugados, é inegável que, se tantos falantes os utilizam, o tal Vocabulário é, no que respeita a esses itens, mais fiel ao uso actual do que as modernas bases de dados!
Conclui-se, portanto, que há qualquer coisa que não está bem...
Por S. Leite às 14:51 7 comentários
Palavras-chave: dicionários , flexão , verbos
09 outubro 2007
Comida à “descrição”?!
À porta de alguns restaurantes tipo rodízio, há umas tabuletas com um slogan apelativo que nos convida a entrar: “Comida à descrição!”
Durante alguns instantes, fico ali trépida, reticente, com um pé dentro, outro fora, sem saber bem o que fazer perante a fealdade daquele erro que me tira logo o apetite...
Mas, afinal, qual a diferença entre descrição e discrição? E qual a expressão correcta: à descrição ou à discrição?
Descrição é o acto de descrever, por exemplo, “A lojista fez uma descrição minuciosa do assaltante.
Discrição é a qualidade do que é discreto: “Ela veste-se com muita discrição.”
A expressão à discrição, frequentemente usada, significa “à disposição, à vontade, sem restrições”.
Parece não haver qualquer relação entre esta expressão e a palavra discrição, porém, os dicionários etimológicos dizem-nos que o significado original de discrição é precisamente “capacidade de ser prudente, de se conter”.
Até parece um contra-senso, porque quando comemos num desses restaurantes “à discrição”, somos tudo menos discretos!
Por S. Duarte às 13:55 12 comentários
08 outubro 2007
Ainda os acentos... palavras terminadas em -inho/a
Esta regra, prometo, é muito simples: NENHUMA palavra terminada em -inho ou -inha leva acento gráfico.
Portanto, deixem-se de “avôzinhos” e “avózinhas”, de “cafézinhos”, de “cházinhos”, de “baínhas”, “pézinhos” e, sobretudo, de “sózinhos”!
É que em todas essas palavras a vogal tónica é o i da penúltima sílaba. E não se pode colocar acento agudo ou circunflexo noutra vogal que não seja a tónica, por mais aberto que seja o seu som.
Por S. Leite às 14:46 14 comentários
Palavras-chave: acentuação , ortografia
04 outubro 2007
Incarnar ou encarnar?
Eu bem tento ler um livro pelo seu conteúdo, deixar-me absorver pela informação que estou a retirar da leitura. Mas, a cada passo, vejo-me obrigada a parar e a questionar-me sobre o uso da língua que o autor ou o tradutor faz. Por mais interessante que seja o assunto (e é!), não consigo evitar distrair-me com o português! É o mal da minha profissão... Desta vez, fiquei perplexa com o facto de, na mesma página do livro que citei no desafio de ontem, aparecerem duas variantes da mesma palavra: Agora ficam-me duas perguntas: por que razão aqueles dicionários não apresentam a mesma informação em relação a este item? E por que motivo o tradutor do texto resolveu usar alternadamente uma e outra grafia? E depois admiram-se que eu só leia uma página do livro por dia!!
Muhammad Yunus incarna antes de mais o ideal híbrido [...].
Estes alter-empresários [...] não se manifestam para reclamar a mudança, encarnam-na e provocam-na.
Como se não bastasse, na página seguinte ainda li:
Então incarnemos o desenvolvimento sustentável nos exemplos de sucesso [...].
...e achei que deveria ter a humildade de ir verificar se o verbo “incarnar” não existiria mesmo, ao contrário do que eu pensava. O resultado na Mordebe foi “palavra não encontrada”. Porém, e depois de a Infopédia me ter aconselhado a verificar a ortografia da palavra incarnar, que também não constava da base de dados, pasmei quando abri o dicionário on-line da Texto Editora, que apresentava incarnar como variante de encarnar (na verdade, o verbo em latim começava com i).
Por S. Leite às 12:24 18 comentários
Palavras-chave: dicionários , ortografia
03 outubro 2007
Desafio
Esta frase está correcta ou não? Porquê?
“Os cerca de duas dezenas de colaboradores que actualmente me rodeiam partilham todos da mesma preocupação de resultados concretos, para um impacto global positivo.”
De: Maximilien Rouer, Prefácio a 80 Homens para Mudar o Mundo. (Trad. Maria Amélia Pedrosa. Porto, Ambar, 2005, p.16).
Por S. Leite às 15:39 3 comentários
Palavras-chave: desafio
01 outubro 2007
Em diferido ou em deferido?
Com o desporto a inundar os nossos ecrãs, em particular, o futebol, pode surgir-nos esta dúvida:
“O jogo vai ser dado em diferido ou em deferido?”
Pois bem, vamos lá saber que significados podem assumir estes dois verbos.
Deferir significa aprovar, conceder. Se fiz um requerimento, posso dizer que “o meu pedido foi deferido”, ou seja, “foi aceite”.
Diferir, por sua vez, exibe dois significados: 1. ser diferente, divergir: “A minha opinião difere da tua”; 2. adiar, transferir para outra data: “Vou diferir o pagamento deste serviço”.
E é com esta segunda acepção que a nossa dúvida fica resolvida:
Um jogo que não é transmitido em directo é, sim, transmitido em diferido!
Por S. Duarte às 16:31 6 comentários
Palavras-chave: parónimos
28 setembro 2007
PIMBA!
Hoje em dia, a palavra pimba pode pertencer a duas classes gramaticais e ter dois significados distintos em português europeu, sendo que o segundo decorre do primeiro.
Antes de mais, é uma interjeição de origem onomatopaica, usada para exprimir o ruído, geralmente inesperado, de uma acção que envolve o choque físico. Por exemplo em: “e o palhaço... pimba! Voltou a bater na cabeça do outro.”
Esta interjeição, usada na letra de canções como “Pimba Pimba” de Emanuel (“E se elas querem um abraço, nós pimba! Nós pimba!”), levou a que o termo pimba começasse a ser empregado para qualificar esse tipo de música popular, de letra brejeira (para não dizer mais nada...) e considerada de mau gosto, adquirindo assim um sentido depreciativo que foi não obstante repudiado pelos defensores do “estilo pimba”.
Hoje, em linguagem familiar e mesmo corrente, podemos falar de canções e cantores pimba, porque todos estamos familiarizados com este termo bem expressivo.
Embora ocorram muitas conversões em português, pimba deve ser um dos raros casos em que uma interjeição se transforma num adjectivo.
Por S. Leite às 15:23 4 comentários
Palavras-chave: palavras
26 setembro 2007
Não basta a ideia, é preciso rigor!
Por S. Leite às 15:17 2 comentários
Palavras-chave: palavras
25 setembro 2007
Extra com hífen
As regras de emprego do hífen são muitas e difíceis de decorar. Mas não custa nada consultá-las!
Por S. Leite às 14:21 4 comentários
23 setembro 2007
Explicações de "Françês"?!
É compreensível que alunos do ensino básico se baralhem e utilizem ç em vez de c em palavras como você e francês. O que não se admite é que pessoas adultas que se propõem conduzir estudo acompanhado e dar explicações (do 1º ao 12º ano) num ATL tenham colocado este anúncio na janela. É caso para nos questionarmos: se não sabem que, em português, o c só leva cedilha antes de a, o e u, serão de confiança para ensinarem às crianças a língua francesa?
Espanta-me, ainda, que este anúncio esteja afixado há largos meses, sem que ninguém, até agora, tenha dado pelo erro, ou tido a preocupação de o emendar.
Talvez já tenhamos chegado ao ponto em que alguns explicadores não sabem mais do que um miúdo de dez anos...
Por S. Leite às 13:36 4 comentários
Palavras-chave: ortografia
21 setembro 2007
“Informamos que” ou “de que”?
O verbo informar requer, à partida, dois complementos, um deles directo (informamos alguém) e o outro preposicionado (sobre ou de alguma coisa).
Em princípio, estando os dois complementos presentes na frase, a preposição exigida antes do segundo complemento não deve ser omitida. Portanto, “Informamos os nossos estimados clientes de que o estabelecimento se encontra encerrado para obras”.
No entanto, é possível que, na frase, esteja ausente o complemento directo (a pessoa ou entidade a quem se informa). Nesse caso, é legítimo omitir a preposição de antes da conjunção que: “Informamos que o estabelecimento se encontra encerrado.”
Alguns autores consideram correctas as construções em que se omite o de, mesmo quando o complemento directo está presente (pelo que também seria aceitável escrever “Informamos os nossos estimados clientes que o estabelecimento se encontra encerrado”). O que todos consideram INCORRECTO é usar a preposição de nos casos em que o complemento directo está ausente: “Informamos de que o estabelecimento se encontra encerrado”.
Por S. Leite às 10:51 13 comentários
Palavras-chave: construção frásica
19 setembro 2007
Não experimente “exprimentar”!
Como atesta a imagem gentilmente enviada pela Dulce, há por aí quem se esqueça de certas letras em determinadas palavras, como experimentar, adivinhar, adequar e subestimar, que assim aparecem como “exprimentar”, “advinhar”, “adquar” e “substimar”.
É verdade que esses grafemas correspondem a sons que mal se ouvem, mas essa não é razão suficiente para atentarmos contra a ortografia vigente... afinal, são as regras ortográficas que salvaguardam a unidade necessária para que nos entendamos por escrito! Embora, pessoalmente, seja uma adepta do alfabeto fonético internacional. Se todos os falantes das várias línguas o utilizassem, qualquer um poderia facilmente pronunciar uma sequência escrita noutro idioma, para além da vantagem de ninguém cometer erros de ortografia, porque cada som apenas seria representado por um único símbolo!
Por S. Leite às 10:17 9 comentários
Palavras-chave: ortografia
14 setembro 2007
Acordo ortográfico: uma unidade sem futuro
Na revista brasileira Veja do passado dia 12, há um interessante artigo sobre a importância do domínio da língua no sucesso profissional, acompanhado de considerações sobre as mudanças que o novo acordo ortográfico trará ao português, com depoimentos de escritores, linguistas e professores brasileiros.
Segue-se um artigo de opinião de Reinaldo Azevedo que gostei particularmente de ler, pois retrata a situação do ensino no Brasil desde a década de 70, em particular no que se refere à moda de prezar o “uso criativo” da língua por parte dos alunos, em detrimento do ensino da gramática e da dotação dos educandos com “instrumentos que abrem as portas da dificuldade”. Optou-se, no seu entender, “pelo mesquinho, pelo medíocre, pelo simplório.” (Onde é que já ouvimos isto?!). Não resisto a citar alguns excertos:
As aulas de sintaxe – sim, leitor, a tal “análise sintática”, lembra-se? – cederam espaço à “interpretação de texto”, exercício energúmeno que consiste em submeter o que se leu a perífrases – reescrever o mesmo, mas com excesso de palavras, sempre mais imprecisas. (...) A educação, ao contrário do que prega certa pedagogia do miolo mole, é o contrário da “sedução”. Quem nos seduz é a vida, são as suas exigências da hora, são as suas causas contingentes, passageiras, sem importância. É a disciplina que nos devolve ao caminho, à educação. Professores de português e literatura vivem hoje pressionados pela idéia de “seduzir”, não de “educar”. (...) As reformas ortográficas, acreditem, empobrecem a língua. Não democratizam, só obscurecem o sentido. Uma coisa boba como cassar o “p” de “exce(p)ção” cria ao leitor comum dificuldades para que perceba que ali está a raiz de “excepcional” (...).
E com estas palavras gostaria de estimular o debate no espaço reservado aos comentários...
Por S. Leite às 10:55 10 comentários
Palavras-chave: acentuação , Acordo Ortográfico , divulgação , variantes
12 setembro 2007
outrem, nuvem e constroem
Eis três palavras que parecem uma verdadeira tentação: é que quase ninguém resiste a colocar-lhes um acento agudo!
Sendo todas elas graves, nenhuma deve ser escrita com acento, pelo que é incorrecto grafá-las assim: “outrém”, “núvem” e “constróem”.
Explica-se isto porque a nossa tendência natural, enquanto falantes de português, é para pronunciarmos as palavras que acabam em -em com tónica na penúltima sílaba. Não precisam, portanto, de acento, as palavras outrem, nuvem e constroem, tal como tantas formas verbais, como fazem, comem, bebem, vivem... Bem vistas as coisas, é tão absurdo escrever “núvem” e “constróem” como seria ridículo escrever “ôntem” ou “lútem”!
Pelo contrário, palavras agudas terminadas em -em, essas sim, levam acento gráfico (alguém, também, Belém) – excepto as monossilábicas – precisamente para que não sejam pronunciadas como se fossem graves. Desta forma evidenciamos a diferença entre, por exemplo, contem e contém.
Portanto, no erro frequente “outrém”, há duas incorrecções: primeiro, acentuar graficamente uma palavra grave terminada em -em e, segundo, colocar o acento sobre a vogal e, que nem sequer é tónica.
O caso de “constróem” também é duplamente grave, pois não só se trata de um erro de acentuação, como é um erro que o corrector automático do meu computador me aconselha, em vez da forma correcta constroem!
Por S. Leite às 15:07 10 comentários
Palavras-chave: acentuação , ortografia
10 setembro 2007
Controlo e controle
Enquanto substantivo, e em português europeu, controle é uma variante de controlo. Ambas as formas estão consagradas em diversos dicionários, sendo no entanto a última preferível, segundo os linguistas portugueses.
E por que motivo devem os Portugueses dizer e escrever, por exemplo, “está tudo sob controlo”, enquanto os Brasileiros optam por “está tudo sob controle”?
Ao contrário do que muitos pensam, não é por causa das novelas brasileiras que alguns portugueses dizem controle. O termo é um galicismo, ou seja, entrou no nosso léxico por influência da língua francesa, e - tal como biciclete, camionete, equipe e omelete – foi posteriormente adaptado à nossa língua (e temos agora bicicleta, camioneta, equipa e omeleta). No caso de controle, substituiu-se o -e final por um -o em vez de um -a, mas o procedimento é idêntico. Trata-se de uma alteração que tem vingado entre os portugueses (provavelmente teve início na linguagem popular e corrente, estendendo-se depois aos registos mais cultos), embora não entre brasileiros, que tendem a preferir as formas mais próximas do francês, terminadas em -e.
Por S. Leite às 17:49 14 comentários
Palavras-chave: ortografia
07 setembro 2007
Quando a flexão se torna criação
Assim, em vez de falar simplesmente de um pardal, de um miúdo, de um fogo, de um papel, de uma boca, às quais depois associamos determinados adjectivos, podemos referir-nos a um pardalito, a um miudeco, a um fogaréu, a um fatucho, a uma bocarra. E não deve haver muitas línguas em que isso seja possível!“Mas esses sufixos diminutivos e aumentativos não têm grande utilidade na linguagem do dia-a-dia!”, dir-me-ão. No entanto, muitos deles permitiram criar palavras novas, cujo significado não se resume à soma do sentido do sufixo ao do radical. Por exemplo palhinha, latão, cavalete, pastilha... já tinham pensado nisso?
Por S. Leite às 14:04 5 comentários
04 setembro 2007
Síndroma
Por S. Leite às 15:36 8 comentários
Palavras-chave: masculino ou feminino? , ortografia , palavras
31 agosto 2007
Capaz
Capaz é um adjectivo que comporta, entre outros, o significado “que tem capacidade”. Os outros sentidos estão enumerados, por exemplo, neste dicionário virtual. No entanto, os dicionários não contemplam todas as possibilidades semânticas dos vocábulos, sobretudo no que toca aos vários registos de língua (popular, familiar, calão, gírias...) e às colocações, isto é, expressões em que as palavras se inserem e que têm um significado específico, diferente da simples associação dos sentidos de cada um dos termos que nelas se incluem. É o caso de “ser capaz de”, que pode significar (embora nem sempre signifique), na linguagem familiar, algo semelhante a talvez. Por exemplo, a frase “Ela é capaz de não ir” pode ser substituída, sem mudança de sentido, por “ela talvez não vá”.
Acontece que, quando a expressão “ser capaz de” é usada com esse sentido adverbial, existe alguma tendência para encarar a palavra capaz como se fosse invariável, ou seja, não a flexionando em número. Contudo, capaz continua a ser um adjectivo e, como tal, varia em número de acordo com o substantivo ou pronome que qualifica. Assim, seria incorrecto dizer “eles são capaz de não voltar antes de domingo”, pois há nessa frase um erro de concordância. Diga-se, antes, “eles são capazes de”...
Por S. Leite às 15:19 0 comentários
Palavras-chave: construção frásica , flexão
24 agosto 2007
ANUNCIE SEM ACENTO!
A “nossa” Mafalda descobriu este erro ortográfico, que teve a amabilidade de nos enviar. É daqueles que passam despercebidos a muitos falantes, sobretudo àqueles que confessam ter muitas dúvidas sobre acentos gráficos.
Contudo, as regras de acentuação gráfica em português são poucas e quase todas lógicas e naturais. E para as compreender basta saber que os acentos (agudo e circunflexo) servem para indicar qual é a vogal tónica (a que se pronuncia com mais “força”), nos casos em que poderia haver dúvidas.
Em anuncie, é descabido colocar o acento agudo na vogal “u”, que NÃO é tónica nesta flexão do verbo anunciar. Em anúncio, sim, o “u” é a vogal tónica e a palavra leva acento gráfico por ser esdrúxula. Só assim não será pronunciada como anuncio, primeira pessoa do verbo anunciar no Presente do Indicativo!
Os amigos da Mafalda riram-se da sua mania de encontrar erros em todo o lado. Com efeito, a nós, que queremos bem à nossa língua, dizem-nos: “Lá estás tu!... que mal é que tem um acento a mais ou um acento a menos?...” Mas a todas as pessoas que escrevem, imprimem e afixam textos com erros ortográficos ninguém se lembra de dizer: “Lá estás tu! Então não consultaste primeiro o prontuário ortográfico?”
Por S. Leite às 17:53 12 comentários
Palavras-chave: acentuação , ortografia
20 agosto 2007
Porque e por que
Antes de tentar lançar alguma luz sobre a diferença entre porque (junto) e por que (separado), é preciso dizer que NÃO existe consenso entre os especialistas em língua portuguesa e que Portugueses e Brasileiros aplicam critérios diferentes na utilização da palavra/locução.
A palavra porque – deve ser usada sempre que é pronome interrogativo (por exemplo em “Porque é que o João não foi?”) ou conjunção explicativa (por exemplo em “Não foi, porque estava de férias.”). No primeiro caso significa o mesmo que “por que motivo” e nunca é seguida de um nome (reparem que nunca perguntaríamos, pelo menos em português de Portugal, "Porque o João não foi?"). No segundo caso significa “uma vez que” e serve para ligar orações.
A locução por que – deve ser empregada quando podemos substituir a palavra que por qual. Por exemplo em “Por que (=qual) caminho foste?”. Pode usar-se tanto em frases interrogativas como em declarativas. Por exemplo em “Foi essa a razão por que (= pela qual) não falei”. Em ambos os casos, como é fácil verificar, a separação entre por e que justifica-se por se tratar de duas palavras com classes e funções gramaticais diferentes, sendo a primeira uma preposição e segunda um determinante ou um pronome, conforme o caso.
Por S. Leite às 19:01 6 comentários
Palavras-chave: parónimos
15 agosto 2007
Mais pequeno?!
Se há uma regra gramatical que nós, Portugueses, aprendemos desde cedo, é a da flexão irregular de certos adjectivos em grau. Todos sabemos que bom e mau, grande e pequeno, no grau comparativo e também no superlativo relativo, se transformam em melhor, pior, maior e... menor. E aprendemos tão bem a lição que, em adultos, não hesitamos em corrigir as crianças que caem na “asneira” de dizer “mais bom” ou “mais grande”.
Curioso é, porém, que haja entre os casos desta regra uma excepção que é paradoxalmente escandalosa e discreta, para quem fala a versão da língua usada deste lado do Oceano Atlântico. Eu explico; ou melhor, alguém me explica: por que motivo andamos todos a dizer e a escrever, alegremente, mais pequeno, quando nunca ousaríamos usar a expressão “mais grande” e talvez nem mesmo “menos pequeno”?! Como e quando é que o adjectivo pequeno, no grau comparativo de superioridade, passou a escapar à regra?
Uma pergunta que gostaria de fazer, se pudesse, a todos aqueles portugueses que já se permitiram pensar, num assomo de veleidade e arrogância, que no Brasil se fala “mal” a língua portuguesa. É que lá, meus caros, também é errado dizer “mais pequeno” em vez de menor!
Por S. Leite às 20:32 53 comentários
Palavras-chave: construção frásica , flexão , variantes
07 agosto 2007
INTERREGNO
Desculpem a falta de artigos, mas temos duas boas razões.
A primeira é ser Agosto o nosso mês de férias. E por mais que queiramos deixar-vos aqui as nossas ideias, mesmo em tempo de lazer, falta-nos a ligação à Internet nas zonas de veraneio onde nos encontramos ;)
A segunda é que eu, S. Leite, acabo de ser mãe pela segunda vez e por isso tenho dificuldade, neste momento, em pensar noutras coisas além de fraldas, amamentação e, é claro, dar carinho ao meu pequeno príncipe.
Contamos, portanto, com a vossa compreensão. E esperamos que não deixem de nos visitar por causa deste interregno!
Por S. Leite às 14:53 7 comentários