Onde começam e acabam as palavras?
Quando lemos as primeiras produções de escrita espontânea de uma criança de 5 ou 6 anos, confirmamos (ou descobrimos) que as palavras não são, ao contrário do que os adultos letrados tendem a pensar, unidades com fronteiras bem definidas.
É já clássica a história da criança (e afinal são muitas crianças!) que pensava ser um "setanão" o singular de sete anões.
As expressões que utilizamos quotidianamente, como "fim de semana", "com licença", "com certeza" e "se faz favor" (aliás, até lhes pedimos que digam a "palavra mágica", quando as crianças nos fazem um pedido e se esquecem de incluir a expressão...) têm, na oralidade, as fronteiras lógicas que o significado permite atribuir-lhes: aquele que todas as palavras que a compõem forma quando elas são usadas como um todo. Quando as escrevemos, inserimos espaços entre as diferentes palavras porque sabemos que cada uma delas é uma unidade autónoma e estamos habituados a vê-la escrita. Mas as crianças que se estão a iniciar nas actividades de leitura e escrita ainda não tiveram tempo de consolidar e interiorizar regras que são essencialmente ortográficas e que, aliás, são suficientemente flexíveis para que, ao longo do tempo, algumas expressões possam fundir-se numa única palavra, como sucedeu com depressa, devagar, contudo, talvez, aonde, entretanto e tantas outras.
E quem se ri deste inocente "sefasfavor" pense bem: nunca teve a tentação de escrever "concerteza", "derrepente", "afim de" ...?