Descomplicando a gramática - de pais para filhos
Hoje, e a propósito da publicação recente da nossa Gramática Descomplicada, fomos entrevistadas para o programa "TSF Pais e Filhos". O entrevistador solicitou-nos que sugeríssemos truques e dicas que os pais pudessem utilizar para ajudar os filhos a estudar Português.
Ora, tal como o subtítulo indica (Para pais e filhos, alunos e professores e muito mais), nós procurámos, de facto, fazer um livro que tanto
servisse para os jovens estudantes como para os seus progenitores: os filhos encontram ali explicações sobre
os diferentes aspetos da gramática que precisam de saber; os pais podem
consultar o livro antes ou durante o acompanhamento dos filhos, presumindo que podem estar com eles enquanto estudam ou fazem os trabalhos de casa. O livro é uma espécie de “cábula” a que os pais
podem recorrer para rever as matérias que podem estar esquecidas, ou para
aprender aquilo que agora tem uma abordagem diferente (caso da nova
terminologia, que afetou os nomes de algumas classes gramaticais e funções
sintáticas, por exemplo).
Para
consultar de forma rápida e eficaz a nossa gramática, recomendo usar em primeiro lugar o índice para procurar o tópico pretendido. Em
princípio, ao abrir a página para a qual o índice remete, o pai ou mãe encontrará
a informação pretendida. Se não ficar esclarecido/a, sugiro que nos
contacte, ou que faça uma busca no Ciberdúvidas, onde há inúmeras respostas
a perguntas feitas por pessoas com dúvidas de português ao longo dos últimos 18
anos, no mundo inteiro, e onde os vários consultores continuam a responder às perguntas novas que
vão surgindo. Se o problema dos pais é a matéria, existem muitos meios para ficarem esclarecidos e depois
poderem ajudar os filhos a estudar.
Quanto
a truques e dicas, eu diria que em muitos casos tudo começa pela mentalização. Muitos pais partem do
princípio de que não têm tempo nem paciência para ajudar os filhos, e essa
questão tem de estar resolvida antes que qualquer truque ou estratégia possa
resultar. No que respeita ao tempo, a
mentalização pode passar por pensar que, durante a meia hora seguinte, se vão
dedicar exclusivamente ao filho ou filha, e tudo o que tenham de fazer fica
suspenso, podendo ser resolvido depois. Meia hora em
princípio é suficiente para dar aos filhos uma ajuda preciosa, e a decisão de a
dispensar permite eliminar da equação o problema do tempo. A questão da impaciência pode ser minimizada, se os
pais se concentrarem mais em perceber a matéria do que em enervar-se por os
filhos estarem inseguros. Penso que uma boa estratégia é que os pais façam de
conta que são outro estudante, um colega do filho, também a tentar apreender a
matéria, e não uma espécie de polícia que está ali só para se certificar de que
a criança faz o trabalho bem feito, ou estuda como deve ser. Estudar com eles é
mesmo estudar com eles. Não é vê-los a estudar, e também não é estudar por eles,
claro.
Um
truque que eu aconselho, por exemplo
no uso da gramática, é terem sempre à mão papel e caneta, onde possam ir transcrevendo frases das explicações ou
dos exemplos do livro, mas com espaços em branco em vez das palavras-chave,
para que os filhos os preencham com os termos em falta, depois de terem lido essas
páginas. Por exemplo, «O predicado é a função sintática desempenhada pelo
__________. Pode ser constituído apenas pelo _________, pelo verbo e pelos seus
__________ e pelo verbo e seus _________»
(p. 117). É uma boa maneira de confirmar que eles retiveram a informação e uma
forma de criar ali facilmente um exercício para pôr em prática os conhecimentos
recém-adquiridos.
Também
podem, ao copiar, modificar ligeiramente
as frases dos exemplos, alterar a sua ordem, etc., para não tornar o
exercício tão fácil e previsível. Por exemplo, no caso das conjunções, os pais podem fazer,
a partir da gramática, uma lista com as 5 copulativas e as 8 subordinativas (p.
77-78). Como apresentamos primeiro uma lista das diferentes subclasses com uma
frase exemplificativa para cada, e depois um quadro com as diferentes
conjunções e locuções para cada subclasse, podem-se inventar facilmente novas frases, a partir daquelas que nós apresentamos, usando conjunções diferentes. Assim, os pais podem pedir aos filhos que
identifiquem o tipo de conjunção em cada caso. Por exemplo, a frase-exemplo para
as conjunções temporais é: Fica aqui
sentado, enquanto compro os bilhetes. E ao consultar o quadro vê-se
que há muitas outras possibilidades, além de enquanto, no caso das conjunções temporais: quando, mal, antes de, desde que, sempre
que, etc. Então, os pais podem escrever no papel uma frase como Comprei os bilhetes, mal eles chegaram,
entre outras elaboradas de forma semelhante, e depois pedir aos filhos que
digam qual é a classe e a subclasse das conjunções presentes em cada frase, e
inclusivamente adaptar esse exercício para o estudo das funções sintáticas.
Enquanto
copiam regras e exemplos, os pais vão assim interiorizando a matéria. Escrever, tanto para os pais como para
os filhos, é uma forma muito mais eficaz de fixar os conteúdos do que
simplesmente ler. Dá trabalho, sim. Mas descomplicar
também é isso: parece que estamos a complicar, ao início, porque de certo modo
estamos a desconstruir para tentar compreender melhor, mas no final
descomplica-se, porque aquilo que parecia um “bicho de sete cabeças” acaba
por deixar de ter segredos para nós.
Sem comentários :
Enviar um comentário