06 julho 2015

Descomplicando a gramática - de pais para filhos



Hoje, e a propósito da publicação recente da nossa Gramática Descomplicada, fomos entrevistadas para o programa "TSF Pais e Filhos". O entrevistador solicitou-nos que sugeríssemos truques e dicas que os pais pudessem utilizar para ajudar os filhos a estudar Português.
Ora, tal como o subtítulo indica (Para pais e filhos, alunos e professores e muito mais), nós procurámos, de facto, fazer um livro que tanto servisse para os jovens estudantes como para os seus progenitores: os filhos encontram ali explicações sobre os diferentes aspetos da gramática que precisam de saber; os pais podem consultar o livro antes ou durante o acompanhamento dos filhos, presumindo que podem estar com eles enquanto estudam ou fazem os trabalhos de casa. O livro é uma espécie de “cábula” a que os pais podem recorrer para rever as matérias que podem estar esquecidas, ou para aprender aquilo que agora tem uma abordagem diferente (caso da nova terminologia, que afetou os nomes de algumas classes gramaticais e funções sintáticas, por exemplo).
Para consultar de forma rápida e eficaz a nossa gramática, recomendo usar em primeiro lugar o índice para procurar o tópico pretendido. Em princípio, ao abrir a página para a qual o índice remete, o pai ou mãe encontrará a informação pretendida. Se não ficar esclarecido/a, sugiro que nos contacte, ou que faça uma busca no Ciberdúvidas, onde há inúmeras respostas a perguntas feitas por pessoas com dúvidas de português ao longo dos últimos 18 anos, no mundo inteiro, e onde os vários consultores continuam a responder às perguntas novas que vão surgindo. Se o problema dos pais é a matéria, existem muitos meios para ficarem esclarecidos e depois poderem ajudar os filhos a estudar.
Quanto a truques e dicas, eu diria que em muitos casos tudo começa pela mentalização. Muitos pais partem do princípio de que não têm tempo nem paciência para ajudar os filhos, e essa questão tem de estar resolvida antes que qualquer truque ou estratégia possa resultar. No que respeita ao tempo, a mentalização pode passar por pensar que, durante a meia hora seguinte, se vão dedicar exclusivamente ao filho ou filha, e tudo o que tenham de fazer fica suspenso, podendo ser resolvido depois. Meia hora em princípio é suficiente para dar aos filhos uma ajuda preciosa, e a decisão de a dispensar permite eliminar da equação o problema do tempo. A questão da impaciência pode ser minimizada, se os pais se concentrarem mais em perceber a matéria do que em enervar-se por os filhos estarem inseguros. Penso que uma boa estratégia é que os pais façam de conta que são outro estudante, um colega do filho, também a tentar apreender a matéria, e não uma espécie de polícia que está ali só para se certificar de que a criança faz o trabalho bem feito, ou estuda como deve ser. Estudar com eles é mesmo estudar com eles. Não é vê-los a estudar, e também não é estudar por eles, claro.
Um truque que eu aconselho, por exemplo no uso da gramática, é terem sempre à mão papel e caneta, onde possam ir transcrevendo frases das explicações ou dos exemplos do livro, mas com espaços em branco em vez das palavras-chave, para que os filhos os preencham com os termos em falta, depois de terem lido essas páginas. Por exemplo, «O predicado é a função sintática desempenhada pelo __________. Pode ser constituído apenas pelo _________, pelo verbo e pelos seus __________  e pelo verbo e seus _________» (p. 117). É uma boa maneira de confirmar que eles retiveram a informação e uma forma de criar ali facilmente um exercício para pôr em prática os conhecimentos recém-adquiridos.
Também podem, ao copiar, modificar ligeiramente as frases dos exemplos, alterar a sua ordem, etc., para não tornar o exercício tão fácil e previsível. Por exemplo, no caso das conjunções, os pais podem fazer, a partir da gramática, uma lista com as 5 copulativas e as 8 subordinativas (p. 77-78). Como apresentamos primeiro uma lista das diferentes subclasses com uma frase exemplificativa para cada, e depois um quadro com as diferentes conjunções e locuções para cada subclasse, podem-se inventar facilmente novas frases, a partir daquelas que nós apresentamos, usando conjunções diferentes. Assim, os pais podem pedir aos filhos que identifiquem o tipo de conjunção em cada caso. Por exemplo, a frase-exemplo para as conjunções temporais é: Fica aqui sentado, enquanto compro os bilhetes. E ao consultar o quadro vê-se que há muitas outras possibilidades, além de enquanto, no caso das conjunções temporais: quando, mal, antes de, desde que, sempre que, etc. Então, os pais podem escrever no papel uma frase como Comprei os bilhetes, mal eles chegaram, entre outras elaboradas de forma semelhante, e depois pedir aos filhos que digam qual é a classe e a subclasse das conjunções presentes em cada frase, e inclusivamente adaptar esse exercício para o estudo das funções sintáticas.
Enquanto copiam regras e exemplos, os pais vão assim interiorizando a matéria. Escrever, tanto para os pais como para os filhos, é uma forma muito mais eficaz de fixar os conteúdos do que simplesmente ler. Dá trabalho, sim. Mas descomplicar também é isso: parece que estamos a complicar, ao início, porque de certo modo estamos a desconstruir para tentar compreender melhor, mas no final descomplica-se, porque aquilo que parecia um “bicho de sete cabeças” acaba por deixar de ter segredos para nós.

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