24 julho 2024

Para-quedas e parapente

Afinal, escreve-se para-quedas, pára-quedas ou paraquedas?

A forma corre(c) era pára-quedas (antes do A.O. de 1990), com acento e com hífen, por se tratar de um composto cuja primeira palavra é uma forma verbal, no presente do indicativo, 3.ª pessoa do plural (do verbo parar), tal como para-brisas e para-raios e para-vento.
O texto do Acordo Ortográfico de 1990, contudo, estabelece o seguinte, na Base XV, n.º 3: «Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.». Portanto, e ainda que sob o ponto de vista morfológico e etimológico, "para-quedas" (tal como guarda-chuva ou para-brisas) apresente uma estrutura composta que inclui um verbo no presente do indicativo, a orientação oficial mais recente obriga-nos a usar a grafia proposta no próprio documento: paraquedas
Ainda assim, podem persistir dúvidas, porque o Portal da Língua Portuguesa disponibiliza uma lista de palavras que mudaram como o A.O. na qual esta palavra supostamente mantém o hífen, perdendo apenas o acento agudo. 
Nesta base de dados, a forma para-quedas é apresentada no vocabulário ortográfico da língua portuguesa como uma "variante" igualmente legítima de paraquedas.
Fica-se, assim, com um argumento para legitimar a grafia para-quedas, mesmo após o A.O.

parapente não deixa dúvidas de que se escreve sem hífen, pois nunca houve outra grafia para esta palavra em português. Porquê? Porque o suposto "primeiro elemento" não é a forma verbal do verbo parar, uma vez que o termo é um empréstimo do francês, parapente (favor pronunciar "parrapante" 😊).


07 maio 2024

"Ensinou-o" ou "ensinou-lhe"? (Os escritores também se enganam!)


Certamente já tiveram esta dúvida:

"ensinou-o" ou "ensinou-lhe"?

Precisam de um esclarecimento? Aqui fica!

Tanto "ensinou-o" como "ensinou-lhe" são formas legítimas - a diferença no pronome (o ou lhe) prende-se com o uso da preposição a

Ora, o verbo ensinar permite-nos:

a) Ensinar alguma coisa a alguém

b) Ensinar alguém a fazer alguma coisa

Repare-se, então, que apenas no primeiro caso "alguém" vem precedido de preposição, sendo o complemento indireto da oração - portanto, substituível pelo pronome lhe(s). No segundo caso, a preposição não está associada a esse "alguém", mas antes àquilo que se ensina (uma ação, como "a fazer" ou "a distinguir"). Nestes contextos, portanto, tal ser é o complemento direto, que deve ser substituído pelo pronome o/a(s).

Assim:

a) Ensinar-lhe [a alguém] alguma coisa

b) Ensiná-lo [alguém] a fazer alguma coisa

Portanto, em vez do texto sublinhado na página que se vê na imagem, deveria estar:

Eu ensinava-o a distinguir os grilos das grilas [...]
e

Eu ensinava-o a distinguir as bolotas das landes [...]