Haja doces ou hajam doces?!
"Haja doces para esquecermos as tristezas!"... ou "Hajam doces para esquecermos as tristezas!"...?
O verbo haver, quando é verbo principal numa oração, com o significado de existir, ou acontecer, apenas se conjuga na 3ª pessoa do singular, por ser impessoal. Por isso, dizemos "há coisas” e não "hão coisas".
Do mesmo modo, portanto, devemos dizer "haja doces" e não "hajam doces", “houve situações” e não "houveram situações", "haverá riscos" e não "haverão riscos", etc. Penso que poucos leitores deste blogue ficaram admirados com o que acabaram de ler.
Contudo, muita gente esquece que a regra de não flexionar o verbo haver de acordo com um pretenso sujeito (que afinal não é sujeito nenhum) também se aplica aos seus auxiliares, como ter, costumar, continuar, ir, poder, etc. Assim, acontece frequentemente ouvir-se "vão haver concertos" em vez de "vai haver concertos", "continuam a haver vagas" em vez de "continua a haver vagas", "têm havido reclamações" em vez de "tem havido reclamações".
Portanto, o verbo haver é sempre impessoal se for verbo principal, o que se manifesta inclusivamente na flexão dos seus auxiliares. Só devemos conjugar o verbo haver em todas as pessoas quando é auxiliar: seja com o sentido de ter (ex.: "eles haviam feito"), seja como expressão de intenção (ex.: "eles hão de fazer").
26 comentários :
Finalmente alguém fala deste verbo tão controverso! Não digo "controverso", mas alvo de grandes calinadas por muito boa gente! "Haviam 3 pessoas ali" e coisas do género!
bons posts
antónio
"Agora a coisa vai". Agora aprendo gramática.
Parabéns. Convincente e didático
AS
Obrigada, Airton. Infelizmente, por sermos portuguesas e ser a variante europeia da língua o nosso objecto de estudo, não poderemos ajudá-lo muito no que toca ao português do Brasil. É inegável que há muitas diferenças, tanto a nível ortográfico e lexical como sintáctico e até morfológico, para não falar do fonético.
Muito bom.
"Última Flor do Lácio, inculta e bela", já Olavo Bilac, a Língua Portuguesa (que já deveria ser brasileira há um bom tempo), como forma de comunicação, e cujo propósito primordial é a comunicação oral e escrita, deixa a desejar em relação a outras pelo mundo todo. O inglês - por exemplo - que criticamos quando usado em seu lugar ou seus termos foi condenado pelo Vaticano do Latim ao ser popularizada por Shakespeare. Nos EUA há uma língua dinâmica que incorpora facilmente neologismos e gírias e "faz" comunicação de acordo com o contexto. A nossa tem dezenas de palavras para um significado, exige regras rijas, muitas vezes ultrapassadas (o que levou ao menor e medíocre acordo Lusófono).
* José Antonio G. da Conceição
Perfeito! Era este complemento (no meu caso) que eu precisa para aprender 100% sobre o assunto. Obrigado!
Perfeito! Era este complemento (no meu caso) que eu precisa para aprender 100% sobre o assunto. Obrigado!
Nos últimos tempos curiosamente só oiço pessoas a dizerem Vão haver coisas.. e etc e eu fico na dúvida se sou eu que não sei falar português ou não.. Fico contente em saber que o que me soa mal é na realidade o que é errado... Obg pela confirmação !!
portanto..., quantos pães hão nas cestas?!.., não pode ser?!
Há de durar é errado? Na resposta a qui sim,Porém não encontrei o erro.
Há de durar está correto. Por exemplo na frase "A sua teimosia há de durar."
Se eu falo "hão muitos analfabetos funcionais aqui" eu estou errada?
Se eu falo "hão muitos analfabetos funcionais aqui" eu estou errada?
Sim, Cecília. O correto é "Há muitos analfabetos aqui."
Bastante esclarecedor!
Sucinto e esclarecedor, parabéns!
Sucinto e claro, parabéns!
Gostaria de saber se há diferença entre as orações :
1 - coisas que brevemente devem acontecer .
2 - coisas que brevemente há de acontecer.
Não sei a que tipo de diferença se refere... Eu diria que não há diferença de sentido: "coisas que devem acontecer" e "coisas que hão de acontecer" são, em ambos os casos, coisas que é provável que aconteçam. (Note que a flexão do verbo haver, neste caso, faz-se no plural, pois é verbo auxiliar e não verbo principal!).
Há circunstâncias que me deixam algumas dúvidas.
Se é correcto dizermos "Estes motivos hão de dar-te força", porque não estará correcto dizer-se "Estes motivos dar-te-hão força".....? Ou será que está correcto? Para mim fazia sentido que estivesse correcto.
Boa dúvida! Ambas as possibilidades estão corretas, ou quase: é "dar-te-ão" Isto porque o futuro do indicativo (bem como o condicional) derivam da junção entre o verbo principal e o verbo haver, colocado após esse verbo. Assim, de "dar hei" (hei é a forma abreviada de haverei), passámos a "darei", portanto, de "dar te hão" (ou haverão), passámos a ter "dar-te-ão". São fenómenos que decorrem do uso da língua ao longo dos séculos...
Português sempre foi e será minha paixão... Obrigado estes argumentos por sua parte me convenceram obrigado
No período -> Se podem existir fragilidades, elas certamente hão de ser mínimas.
Por que o verbo "ser" não está no plural? Como funciona a concordância nesse caso?
No período -> Se podem existir fragilidades, elas certamente hão de ser mínimas.
Por que o verbo "ser" não pode estar no plural?
Como funciona a concordância nesse casso?
Em nível de ou a nível de? Não é crítica, não, dúvida mesmo. Grande abraço!
Tudo depende do contexto! Em Portugal, usa-se "ao nível de", por exemplo para referir o domínio ou âmbito em que algo sucede. Confirme aqui:
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/n%C3%ADvel
No entanto, no Brasil o uso é diferente. Consulte, por exemplo, este esclarecimento:
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-nivel-de-ou-ao-nivel-de/31447.
Espero ter ajudado!
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