Perseverança e não "preserverança"
O norte-americano Samuel Adams (representado na estátua de bronze que se vê na fotografia, da autoria da escultora Anne Whitney) ficou para a história, em virtude da sua perseverança patriótica e revolucionária contra as imposições da coroa britânica, em 1770.
Perseverança, sublinhemos, pois muita gente comete o erro de dizer e escrever "preserverança".
Todavia, não censuremos quem se engana! É um fenómeno natural e recorrente no uso da língua pronunciar certas palavras menos familiares (e depois grafá-las) com base numa relação analógica com outras, mais conhecidas.
Assim se explicará, talvez, que o esparguete tenha assumido aquele <r> no fim da segunda sílaba: os falantes terão pensado que o termo tem afinidade com o vocábulo espargo... Afinal, este tipo de massa tem uma forma semelhante (cilíndrica, comprida e fina) e a terminação "-ete" faz lembrar um sufixo de grau diminutivo. Assim, do spaghetti tornado espaguete (como ainda se diz e escreve no Brasil), passámos ao esparguete, variante inicialmente condenada como uma corruptela, mas hoje perfeitamente aceite em Portugal. É que o erro ou desvio linguístico, muitas vezes, acaba consagrado pelo uso.
No caso de "perseverança", porém, isso ainda não aconteceu. Essa grafia ainda não foi legitimada pelos dicionários. O nome perseverança vem do latim perseverantĭa- e não está relacionado com o verbo preservar (essa associação é, provavelmente, a causa do erro), mas antes com o verbo perseverar, que é persistir, manter-se firme.
Não sejamos, pois, perseverantes no erro! Pelo menos, enquanto este não se legitima...