
Na revista brasileira Veja do passado dia 12, há um interessante artigo sobre a importância do domínio da língua no sucesso profissional, acompanhado de considerações sobre as mudanças que o novo acordo ortográfico trará ao português, com depoimentos de escritores, linguistas e professores brasileiros.
Segue-se um artigo de opinião de Reinaldo Azevedo que gostei particularmente de ler, pois retrata a situação do ensino no Brasil desde a década de 70, em particular no que se refere à moda de prezar o “uso criativo” da língua por parte dos alunos, em detrimento do ensino da gramática e da dotação dos educandos com “instrumentos que abrem as portas da dificuldade”. Optou-se, no seu entender, “pelo mesquinho, pelo medíocre, pelo simplório.” (Onde é que já ouvimos isto?!). Não resisto a citar alguns excertos:
As aulas de sintaxe – sim, leitor, a tal “análise sintática”, lembra-se? – cederam espaço à “interpretação de texto”, exercício energúmeno que consiste em submeter o que se leu a perífrases – reescrever o mesmo, mas com excesso de palavras, sempre mais imprecisas. (...) A educação, ao contrário do que prega certa pedagogia do miolo mole, é o contrário da “sedução”. Quem nos seduz é a vida, são as suas exigências da hora, são as suas causas contingentes, passageiras, sem importância. É a disciplina que nos devolve ao caminho, à educação. Professores de português e literatura vivem hoje pressionados pela idéia de “seduzir”, não de “educar”. (...) As reformas ortográficas, acreditem, empobrecem a língua. Não democratizam, só obscurecem o sentido. Uma coisa boba como cassar o “p” de “exce(p)ção” cria ao leitor comum dificuldades para que perceba que ali está a raiz de “excepcional” (...).
Defendendo a restauração em vez da reforma, Reinaldo Azevedo conclui avisando que “A unidade só tem passado. E nenhum futuro.”
Julgo compreender este ponto de vista, já que o uso de uma língua está estritamente ligado às idiossincrasias da cultura própria dos seus utilizadores. Pretender que os portugueses escrevam “fato” em vez de “facto”, ou que os brasileiros passem a grafar “lingüiça” sem trema é, talvez, comparável a obrigar os primeiros a dançar o samba nas festas populares e os segundos a comer bacalhau no Natal.
E com estas palavras gostaria de estimular o debate no espaço reservado aos comentários...